EDUCAÇÃO: CIÊNCIA E PROFISSÃO

“I CONGRESSO REGIONAL DE EDUCAÇÃO”

TEMA - EDUCAÇÃO: CIÊNCIA E PROFISSÃO (1)

PROF. DR. SÍLVIO MEDEIROS

Presidente Científico do Evento

INTRODUÇÃO

Por meio de uma rede de compromissos estabelecida entre docentes de três entidades do sistema de ensino superior regional, representadas pela FEOB de São João da Boa Vista, pelo IESMoc de Mococa e pela FFCL de São José do Rio Pardo, o “I Congresso Regional de Educação” desenvolverá uma reflexão em torno do tema “Educação: Ciência e Profissão”, para que as referidas entidades possam enfrentar, em conjunto, os problemas relativos à área educacional que lhes são comuns neste final de século. Nós, professores, somos responsáveis e temos um papel fundamental na formação profissional de nossos alunos. Em virtude disso, pretendemos, também, mobilizar profissionais da educação e alunos de toda a região para participarem do ciclo de palestras e debates que versará sobre as transformações em curso nas cidades acima mencionadas, especialmente aquelas referentes aos processos de planejamento ou posicionamento estratégico da região diante das transformações de relações pessoais e profissionais originadas do novo quadro econômico, nacional e mundial. Em tempos de velozes mudanças científicas e tecnológicas, características da cultura contemporânea, o “I Congresso Regional de Educação” se propõe, sobretudo, a pensar, a participar e a construir — juntamente com professores e alunos do ensino básico, fundamental e superior, além de outros segmentos das comunidades locais — uma agenda que dê conta dos problemas e dos novos perfis que envolvem a formação do professor, do sentido da tarefa docente na formação do cidadão na democracia moderna, da relevância da prática científica nas diversas áreas do conhecimento e dos urgentes desafios a serem enfrentados pela educação regional. Já que importância dos temas parece estar estabelecida de modo consensual e, uma vez que a esfera da educação não pode participar dessas discussões isoladamente, o evento pretende estender o convite às empresas de comunicação, aos empresários e às escolas profissionalizantes de toda região. Por fim, o “I Congresso Regional de Educação” pretende ser a semente de uma futura organização maior que deverá agregar outros interessados nos destinos da educação regional.

JUSTIFICATIVA

A humanidade vem passando por profundas transformações nos últimos anos. O processo de industrialização e de urbanização crescentes, que se verifica no mundo ocidental desde a segunda metade do século XIX, inaugura uma sociedade mundial, informatizada, dinâmica e regida por novas tecnologias e mudanças velozes.

Surge um “admirável mundo novo”, construído por conhecimentos que mudam a face do mundo a todo instante e que se afirmam, atuando e lidando com a vida por meio de testemunhos evidentes, tais como: a biotecnologia, a engenharia genética, a informática e suas potencialidades, ou seja, o hipertexto, a construção de realidades virtuais compartilhadas, a imagem virtual, a Internet etc. Na atual fase do capitalismo, na qual o Estado prestador de serviços encontra-se cada vez mais debilitado e sofre um profundo desprestígio, a internacionalização completa da economia mundial, ou a chamada “nova economia”, necessita de ciência, de tecnologia e de ensino em todos os níveis e de alto nível, acarretando, com isso, sobretudo para a política do ensino superior novos problemas administrativos no que se refere à devida adequação dos rumos da educação em caminhos compatíveis com a lógica e a ética do mercado capitalista. Com efeito, a incidência dessas transformações científicas e tecnológicas sobre o saber parece ser considerável. A natureza do saber não sai intacta desta nova circulação do conhecimento. Assim, tanto produtores quanto utilizadores do saber deverão possuir os meios necessários para traduzir as novas linguagens na aquisição dos saberes. Atualmente, o científico e o tecnológico fundem-se, propiciando a entrada em cena da tecnociência que, por sua vez, estabelece uma verdadeira guerra, comprometendo todas as áreas do saber. Hoje, o saber é a aposta maior, e agonística! talvez a mais importante, na competição mundial pelo poder, falando com o filósofo francês Jean-François Lyotard (“A Condição Pós-Moderna”).

Nesse contexto, o conceito de educação muda rapidamente, visto como o conhecimento cresce, muda, se transforma, se nega e se refaz. Diante disso, cabe aos professores a tarefa de desenvolverem nos alunos as habilidades para ler, saber interpretar, relacionar e buscar em diferentes fontes as informações que necessitam, embora, hoje em dia, ensinar seja lá o que for, é ensinar algo que provavelmente e, em pouco tempo, nada mais valerá. Contudo, embora a ordem da tecnociência tenha se estabelecido em nosso horizonte de modo irreversível, o essencial é estarmos atentos à nossa condição de participantes ativos desse processo e, como educadores, contribuirmos com a nossa parcela de responsabilidade no seio desse mesmo processo. Como lembra a educadora Magda Soares, em recente entrevista concedida à rádio da UFRGS, com a informatização da sociedade, “hoje é preciso formar professores que ensinem o aluno a aprender a aprender”. Em conseqüência disso, a urgência da formação com qualidade do professor adquire significativa importância, passando a exigir uma vigorosa política cultural reivindicadora de uma ampla mudança de mentalidade no que se refere à concepção do conhecimento e ao papel da escola no cenário das sociedades informatizadas, comumente denominadas pós-modernas ou pós-industriais. Sabe-se que as universidades públicas brasileiras de grande prestígio já vêm trabalhando com programas de formação voltados para a cultura informatizada, cuja questão central é saber como a educação irá se valer da avalanche de informações disponíveis na rede mundial de computadores.

É, sobretudo, diante de tais transformações, impondo novos e imprevistos rumos sobre o cotidiano do universo educacional, que o “I Congresso Regional de Educação” vem propor um pensar conjunto acerca do modelo de educação que se pretende construir na região. É na escola que podemos modificar o nosso aluno, oferecendo-lhe formação e informação, orientando-o na escolha da profissão e alertando-o para as mudanças inevitáveis e inadiáveis. Nesse sentido, precisamos refletir sobre as atitudes que as comunidades educacionais locais têm assumido para fortalecer a vocação da autoridade da educação ou para afirmar “a responsabilidade que a educação assume perante o mundo”, como observa com vigor a filósofa alemã Hannah Arendt (“Entre o Passado e o Futuro”).

Por fim, ao elucidarmos as questões que se seguem, acreditamos atingir o âmago dos assuntos mais gerais visados pelo “I Congresso Regional de Educação”:

. Como o sistema de ensino superior da região, subsidiado pelo setor privado e fora dos grandes centros, vem enfrentando as questões das mudanças radicais, que, uma vez englobadas, definem-se pelo conceito de crise?

. A interiorização do ensino superior na região vem obtendo êxito na tentativa de acompanhar as celeradas transformações das condições sócio-culturais experimentadas, tanto pelo Brasil como pelo mundo, cujas conseqüências chegam a perturbar a sociedade em seu cotidiano, seus valores e sua cultura?

. Como nós, professores, estamos contribuindo para a mudança do cenário educacional brasileiro que carrega, hoje, o pesado ônus de uma crise derivada de um modelo econômico que veio pronto e não foi adequado às necessidades urgentes da nação?

OBJETIVOS

Procurando remeter profissionais e alunos da comunidade educacional regional às meditações inquietas sobre a aventura da educação na viagem contemporânea, por intermédio do tema “Educação: Ciência e Profissão”, queremos:

. Ressaltar a urgência e discutir os meios para que o sistema de ensino superior regional abandone a sua já tradicional tendência ao isolamento, com o fito de se alcançar um relevo satisfatório no patamar das discussões sobre a natureza dos problemas educacionais da região e do país;

. Propiciar aos participantes do evento informações sobre as diferentes carreiras e profissões do contemporâneo, enfatizando a importância de se trabalhar de forma interdisciplinar, isto é, fazendo o uso adequado de variadas linguagens das áreas do conhecimento, para que se possa adotar medidas destinadas ao desenvolvimento de um pensamento engendrado à luz do acervo cultural estabelecido pela tradição e, ao mesmo tempo, voltado para uma dimensão estratégica, organizadora e planificável em defesa do verdadeiro crescimento de professores e de alunos;

. Recolocar as questões fundamentais do ensino básico, fundamental e da educação profissional e técnica, ressaltando a importância da comunidade educacional do ensino médio para a vida econômica do país em curto prazo, face à globalização cada vez mais seletiva e competitiva do mercado, nacional e internacional, que exige políticas agressivas em ciência, tecnologia e educação, não admitindo os critérios de uma profissionalização estreita.

. Enfatizar a importância da educação continuada para o mundo atual que solicita, permanentemente, a elevação da qualificação profissional requerida pelo setor produtivo e pela vida moderna em geral. Por conseguinte, insistir na necessidade de construção e aceleração dos programas de formação e requalificação do professor por meio de significativos investimentos em ciência e tecnologia.

. Redimensionar as perspectivas das chamadas “faculdades pequenas”, ou como são denominadas as faculdades isoladas, que absorvem mão de obra qualificada de reconhecidos centros nacionais de ensino, pesquisa e extensão. Procurar elaborar os princípios de uma séria política cultural e educacional, a fim de aproximar as referidas faculdades à forma ideal das universidades de pesquisas do país.

. Inovar as instâncias de mediação entre as faculdades e as comunidades locais, procurando estar atento ao sentido da pesquisa e buscando relacionar o conhecimento acadêmico com a realidade regional. Pensar, enfim, o ensino superior como instância de criação de conhecimentos e serviços à comunidade.

. Alertar, com base na dinâmica da mentalidade criativa das universidades públicas nacionais voltadas para a produção científica, para a necessidade da construção — servindo-se do setor privado — de centros de ensino regionais orientados para fins culturais e que sejam, sobretudo, pólos geradores de ensino, pesquisa e extensão;

. Refletir e agir sobre as práticas culturais dos profissionais da educação não só para avaliar a realidade em que vivem professores, alunos e suas famílias, bem como para detectar as razões de um fato tão comum e, ao mesmo tempo, tão cruel, isto é: o despreparo da maior parte dos alunos em todos os níveis do ensino.

(1)Projeto elaborado pelo PROF. DR. SÍLVIO MEDEIROS, em 2000, por ocasião da realização do “I Encontro de Educação Regional” na cidade de São João da Boa Vista/SP. SÍLVIO MEDEIROS é Doutor em Filosofia e História da Educação pela UNICAMP; Mestre em Filosofia Política e Historiador pela PUC-Campinas. Até JUL/2002 foi docente e coordenador do CePAC (Centro de Pesquisa e Ação Comunitária) - IESMoc — Mococa/SP. De AGO/2001 a JUL/2003 foi docente do Curso de Pedagogia da FACECAP/ CNEC- Capivari/SP. O PRESENTE PROJETO FOI LIDO, INTEGRALMENTE, EM PÚBLICO, NOS MOMENTOS INAUGURAIS DO REFERIDO CONGRESSO.

primavera de 2005