UM ESCRITOR EM PAUSA

Nos confins da minha alma, onde as palavras outrora dançavam em harmonia, hoje reina um silêncio dilacerante. Este papel em branco diante de mim é uma metáfora sombria da minha própria existência como escritor. Pois aqui estou eu, enfrentando a dura realidade de uma desistência iminente, quando a paixão que outrora ardia intensamente se transformou em cinzas frias e dispersas.

Lembro-me dos dias em que a inspiração fluía como um rio selvagem, carregando-me em suas águas para terras desconhecidas de criatividade desenfreada. Cada palavra escrita era uma pequena vitória, um sussurro da minha voz interior encontrando sua forma no papel. Porém, à medida que o tempo passava, percebi que essas vitórias se transformaram em batalhas perdidas.

O mundo literário, uma vez cheio de promessas e possibilidades infinitas, agora parece um labirinto sombrio e opressivo. As editoras fecham suas portas, agentes literários não respondem, e as rejeições se acumulam como um fardo pesado sobre meus ombros. Cada manuscrito enviado retorna com uma carta de cortesia, impessoal e desprovida de esperança. E assim, os sonhos que um dia alimentaram minha alma foram sufocados pela dura realidade da indústria literária.

A solidão dos dias de escrita solitária agora é ampliada pela sensação de fracasso. As páginas que se acumulam ao meu redor são testemunhas silenciosas das palavras que falharam em ganhar vida e encontrar um lar nos corações dos leitores. Sinto-me como um explorador perdido em um deserto estéril, sem uma bússola para me guiar, sem uma estrela para me inspirar.

E assim, caro leitor, enfrento uma encruzilhada dolorosa. Devo continuar lutando contra a maré, persistindo em um mundo que parece indiferente aos meus esforços? Ou devo aceitar o amargo sabor da derrota e seguir em frente, deixando para trás as letras que um dia me preenchiam de vida?

Talvez a resposta esteja em reconhecer que a verdadeira essência da escrita não reside apenas nas palavras impressas, mas na jornada pessoal que empreendi. Enquanto minhas histórias podem permanecer desconhecidas e inacabadas, a coragem de perseguir meus sonhos e a dedicação em dar voz aos meus pensamentos são tesouros que ninguém pode me roubar.

Portanto, ergo-me diante deste papel em branco, como um último ato de despedida. Não é um adeus ao mundo literário, mas uma pausa para curar minhas feridas e encontrar um novo propósito. Talvez um dia, quando minha alma estiver pronta para enfrentar novamente a dança das palavras, eu retorne a este caminho incerto com renovada força e paixão.

Até então, agradeço aos personagens que habitaram minha imaginação, às histórias que nunca foram contadas e aos leitores que poderiam ter sido. Que minhas palavras abandonadas encontrem um eco em outros corações corajosos, que ousem persistir onde eu, momentaneamente, desisti.

Desisto da escrita, mas não desisto de mim mesmo. E é nessa crença que buscarei um novo capítulo em minha jornada, onde a emoção e a paixão se entrelaçam além das palavras escritas.

Assinado,

Um escritor em pausa

Adalberto Fabio

Adalberto Fábio
Enviado por Adalberto Fábio em 23/06/2023
Código do texto: T7820393
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