Voto em carisma

Às vezes me pego questionando sobre a coerência da consciência política de certas pessoas e com facilidade consigo compreender alguns casos de onde a razão é deixada de lado. Mas um caso que me intriga é o daqueles que, sendo sindicalizados e funcionários públicos, optam por votar em políticos que abertamente defendem o desmonte do funcionalismo público. É como assistir a um espetáculo de contradições onde a lógica e a coesão ideológica foram jogadas pela janela

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É compreensível que a política seja um campo complexo, com uma variedade de pontos de vista e abordagens. No entanto, há momentos em que a falta de consistência salta aos olhos de forma tão evidente que é impossível não se questionar sobre a sinceridade e o entendimento de algumas pessoas. Afinal, como alguém que TIRA VANTAGENS DOS DIREITOS E PROTEÇÕES PROPORCIONADOS PELA FUNÇÃO PÚBLICA QUE OCUPA pode apoiar aqueles que visam destruí-lo?

É pertinente questionar a profundidade da análise política desses indivíduos. Será que estão cientes das consequências reais de suas escolhas políticas? Será que são sinceros em suas escolhas? Ou será que estão tão focados em narrativas superficiais e emocionais que não conseguem ver a conexão entre seus próprios interesses e as políticas que apoiam?

Questionando a sinceridade desse comportamento podemos chegar ao pensamento de que geralmente a pessoa que age assim aparentemente não age por uma auto sabotage consciente, em um movimento direto de suicídio profissional. Age de maneira sincera, crendo que está escolhendo o melhor para si em alguma área, pois foi orientada a agir dessa maneira e, em um movimento de tunelamento de visão, onde só tem percepção para um ponto referencial - estrategicamente motivado por sentimento ou religião -, não consegue perceber a atrofia política que se encontra e a consequência danosa de sua escolha. Ou seja, age com sinceridade mas não com consciência situacional.

Antonio Gramsci abordou em sua obra a ideia de hegemonia cultural, destacando como as ideias e valores de determinada classe dominante podem se infiltrar na consciência das classes subalternas, levando-as a adotar atitudes e posições que contradizem seus próprios interesses. É exatamente o que estamos vendo em nosso coletivo de trabalho. Políticos que pregam o desmonte do funcionalismo público conseguiram, de alguma forma, convencer parte daqueles que seriam diretamente prejudicados por suas políticas de que essas medidas são benéficas.

A questão da consciência política e situacional, nesse caso, é essencial. É preciso avaliar se as pessoas estão votando de maneira informada e estratégica, considerando as implicações a longo prazo de suas escolhas. Caso contrário, a situação se assemelha a uma espécie de masoquismo político, onde indivíduos estão contribuindo ativamente para sua própria precarização sem perceber.

Por fim, espero verdadeiramente que cada cidadão, no íntimo de sua sinceridade, sem exposição ou manifestação, quando em repouso ou descanso, examine profundamente suas crenças políticas e avalie se suas ações estão alinhadas com seus próprios interesses de sobrevivência. Caso contrário, estarão perpetuando um ciclo de incoerência que, em última instância, prejudica a todos, inclusive a si mesmos.