Lugarejo e Atonia

Lugarejo e Atonia

Sandra Ravanini e José Carlos Lopes

Lugarejo perdido na esperança empoeirada;

inda noutro dia, fugia dos medos e violências

das noites de covardia, ruindo tanta inocência

em cotidiana baliza à ira das madrugadas.

Atonia em manto que apunhala a consciência,

ferindo o fadário sobre a face dilacerada,

talvez um brilho restasse a uma fonte encantada

em amotinada emoção e incoerência.

Vertigem que não passa nesse áspero lajedo;

sento e me rastejo a procura de não sei o que mais,

e sem querer sentir, a lentidão ecoa dos umbrais

sufocantes, lacrando a porta e o amanhã... já cedo!

Aprisionada primavera nos estivais

das lágrimas contadas como um enredo:

restaria a forragem na opulência dos medos

nutrindo amanhãs enevoados de sais.

Risível destino ajoelhado no frio azulejo

de pesadelos sem noites... e a mente em vigília

tenta não sentir o receio da aflita e sem valia

que espelha esse inseguro mosaico em que me vejo.

Ainda uma disseminada imagem concilia

a aflição sob o silêncio e arremedo,

quando a voz ensaia véspera e ensejo

empunhando lâminas e trajando a alquimia.

Fadário comum, em qualquer caminho eu fraquejo,

e falsifico o sangue e a sina engolindo esse dia

de aço e cansaço, qual o indício márcio que me guia

por toda data, ido e indo a esmo e mesmo lugarejo.

À circunscrição flamejante da agonia,

escorre o sangue ao romper os seus degredos,

como arsenal forjado na imposição dos segredos

colonizando os campos de uma baldia atonia.

24/05/2007

5/maio/2008