MIRAGEM e ALUNAGEM

MIRAGEM

Sandra Ravanini

Recebo as lamúrias imperiosas,

sangrando o aço frio do meu cinzel,

ceifo a erva vestindo uma rosa,

devolvendo a pedra e o falso anel.

Ouso os caminhos das acácias

se o meu sonho acorda o esmero,

enquanto me resta a contumácia

sustento o anil dos meus mistérios.

Do heroísmo ao juramento,

constato o fim dessa proeza,

dobrada ao meio ante a frieza.

Pouso suave no esquecimento,

uma miragem em meio à duna,

desprezo a mó, sou menos uma.

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ALUNAGEM

José Carlos Lopes

Recolho vossas flores piedosas

e refaço o meu semblante em troféu,

razão das vossas misericordiosas

novenas espalhadas ao léu.

Se caminho a trilha da audácia,

também soube destruir castelos

sob a sonoridade da falácia

transtornando o vento em mil fLagelos.

Soergo estoico os fundamentos

de uma aliança e fortaleza

entre a tristeza e a agudeza.

Do crematório os sentimentos

renascerão em pálida bruma

como faustoso brilho que aluna.