O dilúvio e o barquinho de papel (Ednalva/Heliomar em memória)

A chuva intensa cerra o brilho, esfria o sol

Alaga sonhos puros da juventude

Sonhos estes bonitos de ver o arrebol

Trazer esperança em toda plenitude...

Não posso deixar o barco tão solto ao léu

A tempestade vem forte e violenta

E ainda não disse, barquinho é de papel,

Não sei se suportará tanta tormenta!

Este mundo injusto procuro consertar

Sigo a esmo contra tal vontade imposta

O barco é pequeno, não pode suportar

o dilúvio do poder vem pra aniquilar!

Queria eu carregar felicidade,

contra a correnteza que traduz desamor,

Reduzir um pouco essa desigualdade,

ver todos com casa, alimento e calor

Mas o dilúvio não me deixa prosseguir,

e eu humilde, nem mesmo sou uma arca

Já não vejo o verde ou árvore florir,

Tanta água que aumenta e me abarca!

Sou sempre assim, sou um barco bem fraquinho

que se rasga, que derrete, sou multidão,

nada tenho senão águas sem caminho

sorriso, amor, a fortaleza, o coração!

A todo tempo vou seguindo meu rumo,

espero pássaro alvissareiro voltar

enquanto isso barquinho vai sem prumo

Meu Deus! O que pela frente irei encontrar?

Na verdade queria salvar o mundo

Abrigar a todos abaixo desse céu

Mas que fazer num dilúvio tão profundo

Se sou apenas um barquinho de papel?

Este poema foi feito pelo meu irmão que acabo de perder, há mais ou menos 30 anos. Busquei na memória o que ele tinha escrito e tentei trazer com minhas palavras e muito carinho! O mais difícil é que ele sabia rimar e eu não!

Nalva
Enviado por Nalva em 13/12/2008
Reeditado em 15/12/2008
Código do texto: T1333062
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