O dilúvio e o barquinho de papel (Ednalva/Heliomar em memória)
A chuva intensa cerra o brilho, esfria o sol
Alaga sonhos puros da juventude
Sonhos estes bonitos de ver o arrebol
Trazer esperança em toda plenitude...
Não posso deixar o barco tão solto ao léu
A tempestade vem forte e violenta
E ainda não disse, barquinho é de papel,
Não sei se suportará tanta tormenta!
Este mundo injusto procuro consertar
Sigo a esmo contra tal vontade imposta
O barco é pequeno, não pode suportar
o dilúvio do poder vem pra aniquilar!
Queria eu carregar felicidade,
contra a correnteza que traduz desamor,
Reduzir um pouco essa desigualdade,
ver todos com casa, alimento e calor
Mas o dilúvio não me deixa prosseguir,
e eu humilde, nem mesmo sou uma arca
Já não vejo o verde ou árvore florir,
Tanta água que aumenta e me abarca!
Sou sempre assim, sou um barco bem fraquinho
que se rasga, que derrete, sou multidão,
nada tenho senão águas sem caminho
sorriso, amor, a fortaleza, o coração!
A todo tempo vou seguindo meu rumo,
espero pássaro alvissareiro voltar
enquanto isso barquinho vai sem prumo
Meu Deus! O que pela frente irei encontrar?
Na verdade queria salvar o mundo
Abrigar a todos abaixo desse céu
Mas que fazer num dilúvio tão profundo
Se sou apenas um barquinho de papel?
Este poema foi feito pelo meu irmão que acabo de perder, há mais ou menos 30 anos. Busquei na memória o que ele tinha escrito e tentei trazer com minhas palavras e muito carinho! O mais difícil é que ele sabia rimar e eu não!