Passarinhando

“Diálogo” poético com Mário Quintana (aspas nos trechos dele)

“Se tu me amas, ama-me baixinho

Não o grites de cima dos telhados

Deixe em paz os passarinhos”

Se tu odeia-me, odeia-me bem alto

Grita do topo de um morro

Para que ecoe no asfalto

“Eu queria trazer-te uns versos muito lindos

Trago-te estas mãos vazias…”

Mas minhas mãos estão cheias de esperança

Esperança de não ter que falar para que me entendam

“Se o poeta não falar nada

E disser simplesmente tralalá… Que importa?

Todos os poemas são de amor!”

Falar que ama é amar?

“Ah, o teu ingênuo sonho de branquidão…”

Sonhos são sempre ingênuos.

Mas o que é o mundo sem a ingenuidade?

Nada. Apenas vaidade.

“Mas se levares apenas as visões deste lado

Nada te será confiscado

Todo o mundo respeita os sonhos de um ceguinho”

O respeito hipócrita é o pior véu

Cumprimento com fel

Olhos que não vêem o céu

“A mata ocultando o xixi das fontes…”

Multidão sufoca

É preciso ar

“Mas todos estes que aí estão

Atravancando meu caminho

Eles passarão

Eu passarinho”

“E que fique tudo muito mal explicado

Não faço força para ser entendido

Quem faz sentido é soldado”.

Queria as asas de um beija-flor

Rápidas e belas

Ninguém é capaz de as ler