Secreta Recordação
 
Sandra Lúcia Ceccon Perazzo  
 
Não sei bem se sou só memória...
No meu peito há músicas perdidas,
Cada qual com a sua história,
Dançando melancolias contidas.
 
Lembro de tudo que não devia...
O passado remoendo distância,
Fragilizando o que eu não mais sentia,
Trazendo a tona tudo que adormecia:
 
Amor pressentido...
Amor sentido...
Amor perdido...
 
Nessa viagem vou divagando...
 
O teu olhar marcado, 
Implorando enamorado, 
O encontro cancelado,
Vencido pela minha covardia...
 
Tudo passou sem que fosse vivido,
Em tudo escuto a música nascida,
Soterrada, do nosso amor proibido,
Nem adeus pude dizer na partida...
 
Hoje, choro o sonho destruído,
Choro a tua tristeza derramada,
No meu corpo não amado,
 Sedento da água não bebida...
 
Nessa minha secreta recordação,
Ouço o teu grito alucinado,
Fazendo eco no meu coração,
Que se cala nesse meu silencio doído...
 
(Sperazzo/2006)
 

 
 
 
AMARGA RECORDAÇÃO
 
Antonieta Elias Manzieri
 
 
Nem sei por que teimo lembrar,
afinal, tanto tempo passou...
Recordar faz meu pranto rolar,
mas ainda sofrer pelo que findou.
 
Tento diluir, apagar da memória,
quando tento, mais faço repisar
recordações que me fazem sufocar,
o desfecho cruel da nossa história.
 
Momentos permitidos,
intensamente sentidos,
e, por covardia, reprimidos...
 
Em devaneio, mergulho no passado...
 
Uma lágrima furtiva vivo a derramar,
quero te alcançar e já não posso.
O que foi feito de tudo o que era nosso,
a dor me consome e não posso te tocar...
 
Guardo na alma o arrependimento
do que eu deveria dizer e silenciei...
Hoje, me pergunto: “Por que me calei?
Por que, se te esperei por tanto tempo”?
 
Olho o infinito nas noites de solidão,
a implorar que voltes para eu te amar.
Pedir perdão e te confessar,
que deixei de viver quando te disse não...
 
 Amargas lembranças que levarei.
Tua voz sufocada, o amargo gemido,
pelo mal que a nós dois causei,
por covardia, ao amor me calei...
 
(A. Manzieri/Janeiro/2010)
 


Arte Simone Cz