Rosa da Hiroshima Brasileira

Pensem nas crianças

Mudas telepáticas

Mas pensem também

Em suas mortes mistanásicas

Pensem nas meninas

Cegas inexatas

E pensem também

No alimento que lhes falta

Pensem nas mulheres

Rotas alteradas

Pensem em suas dores

Por muitos até negadas

Pensem nas feridas

Como rosas cálidas

Pensem em suas pestes

Em suas vidas esquálidas

Mas, oh, não se esqueçam

Da rosa

Da rosa de Hiroshima

A rosa hereditária

A rosa severina

Que semeia nossa pátria

A rosa radioativa

Estúpida e inválida

As covas que cavam

Para sua morte esperada

A rosa com cirrose

A anti-rosa atômica

Das mortes do Nordeste

Nesta sociedade anômica

Sem cor, sem perfume

Sem rosa, sem nada

Só um coração sofrido

Em suas mãos calejadas!

Ilhéus/BA, 22 de agosto de 2010.

Do Poema "Rosa de Hiroshima", de Vinícius de Moraes.

Às rosas colhidas antes do tempo... e ao tempo que nos falta para cultivá-las.