LASTIMOSA(mente) Artur Ghuma com Calliope

Disto tudo me disto

E deleita-me dizer isto

Enquanto os répteis se enroscam

Infindo embate...

Observo suas línguas bifurcadas

Suas lambadas...

E m’entristece o momento

Lástima, lágrimas lavando lamas

Fazendo curvas entre os versos tortos

Embora belos e encantadores

Venerados lamentos em riste.

Santo Ofício re-vivido, inquisidor.

Assisto e cismo no tempo

Tempo perdido

Tempo adormecido

Tempo adoecido...

A ampulheta na areia do deserto

Escorre o tempo, implacável

Nem o ontem que já era

Nem o amanhã que se espera

Uma era, agora, palpável

Assisto e cismo no vento

Vento bendito

Vento varrido

Vento ido...

Sopro de brisas sobre o hálito quente

Ácido que o vento bendito dilui

Varrendo cinzas da fogueira das vaidades

Levando mazelas do torpor demente

Disto tudo me disto

E não necessito

Nunca foi intento meu construir destruindo

Nunca foi intento meu um espaço vazio

Um intervalo,

Um vale frio...

Apenas julguei verter de ti verdade

Em cascatas claras

A mim mui caras...

Caras verdades esclarecidas e clareadas

Construídas , compensadas e pensadas

Espaço concreto, vívido e de sangue quente

Sem hífem, ou sombrio vale vazio

Cascatas caras de verdades que necessito.

Disto tudo me disto

E deleita-me dizer isto

Enquanto se afundam as trincheiras

Como covas rasteiras

E os plúmbeos espíritos espreitam pelas beiras

Observo as gigantescas aráceas

E fecho as narinas quase embotadas

Olhos desejosos espreitam nas sombras

Seu cheiro áspero e nauseabundo o denuncia

Sem cores perdem-se na falta de luz. Rastejam...

Embora enrolado em papeis luminosos

Os versos ríspidos e raivosos escorrem da boca.

Bom que não beba do próprio veneno.

Ora vejo o vero no verso contido

Escondido...

E disto me disto

Assisto o tempo...

No vento perdido...

Meus olhos que vêem lêem os versos

Vêem o que está escondido no meio do tempo

O vento perdido no meio das letras

Meus olhos que tudo vêem

Vêem as linhas e as entrelinhas

Vêem a nudez da rainha, que se vê(?)

Vestida de pompas, sozinha.

*Meu olho te vê

Meu olho te lê