OUVINDO-TE (Como um animal)

Ouça....

Sou nacos, retalhos, pedaços

Destroços de alguma alma deserta

Refugo de versos de algum poeta

Calos de muitos pés descalços

Não me vejo coisa inteira

Nunca sonhei com a mão amiga

Sou minha própria bandeira

De todas as filhas eu sou a perdida

Saia de perto de mim meu amigo

Nada tenho e quero tudo que consigo

Nem beije minha boca faminta

Fuja depressa bem devagar

Sinta o frio que minha alma habita

Não navegue no meu morto mar

Se afaste do meu enorme querer

Preciso de solidão para viver

Não quero dormir para não sonhar

Se ainda assim rejeitar meus loucos apelos

Se enrosque no meu pequeno corpo banal

Agarre nos meus curtos cabelos

Sinta meu cheiro de fêmea fatal

Não me deixe um segundo adormecida

Me ame feito um animal

Como se eu fosse a última mulher na vida.

Ouvindo-te

Ouvindo-te, ainda que quisesse,

não poderia de ti me afastar,

pois, da tua lembrança é que se tece

a rede dos meus sonhos a me embalar...

Faminto de ti, brandindo versos, abuso

do poder da inspiração para te arrancar

do abismo da impossibilidade,mesmo sendo inconcluso

o desenho do teu amor - que ainda vivo a rabiscar!...

Fugir de ti!... Não me peças isso,

pois é do teu insano desejo que renasce, louca,

a emoção do beijo que nunca te dei, submisso

a essa tua linda e faminta boca.

Dos sorrisos e beijos degustados, as sensações...

Os gostos dos momentos especiais...

Os sabores das emoções...

Quase não os sentia mais,

pois quase também foram engolidos

pela garganta-caverna,

quase terna,

da saudade dos tempos perdidos.

E agora é a tua boca, que faminta,

me oferece o cardápio de outrora,

calando-me para que a sinta,

aprofundando-me como quem me devora...

Se de tua alma sensual exala e te completa

esse teu cheiro de fêmea fatal,

então, fico em ti, te amando como um poeta

e te desejando como um animal...

Antonio Maria Santiago Cabral, São Luís - MA, 08/06/2012

Para o texto: Ouça.... (T3712416)

PS: Amigo querido, nem sei como agradecer tão linda interação. Você sempre surpreende, sempre tem algo mais a dizer. Obrigada e um beijo em sua linda alma poeta.

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 09/06/2012
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