Loucura

Eu sou assim meio louca,

um pouco certa talvez

e o mal que o mundo me fez

virou verso em minha boca.

Tantas vezes já morri,

para ser outras mulheres,

que desamor não me fere,

pois vim amando até aqui.

Por isso quando te calas

nessa distância que finges,

teu silêncio não me atinge,

mas teu olhar me apunhala...

Tu sabes quanto padeço

por tudo quanto me negas

porém quando não me enxergas

é aí que eu enlouqueço.

Eu bebo minha loucura

nos restos das tuas taças

e ainda agradeço a graça

do sabor da amargura.

-Louca! Dirão de mim

por esta forma de amar-te

sem saber que amor e arte,

misturados, são assim...

É cegueira, mais que impulso.

eufemismo e pleonasmo,

fanatismo, entusiasmo

que amolam facas nos pulsos.

Sou igual à estrela Dalva

que espera o sol pra morrer...

Eu só consigo viver

porque teu brilho me salva.

Essa mistura fatal

de relâmpago e sereno,

de antídoto e veneno,

de poesia e punhal:

é loucura que se agrava

entre o inferno e o céu,

mas é quem guia o cinzel

e reinventa a palavra.

Posso ser louca assim

neste lirismo profundo

mas no teu poço sem fundo

tu sempre chamas por mim.

Eu sei o quanto sou louca

do que me arrisco na borda

para te jogar a corda...

com que fazes minha forca.

Quem não sabe se assombra

sem saber o que é amar;

tu nasceste pra brilhar

e eu pra ser a tua sombra.

E tinha que ser assim

pra o mundo ler, afinal

o teu verso de cristal

Impregnado de mim.

Louca

Vaine Darde

Se louca é ordenar

dotes divinos e raros,

com mãos de seda criar

seres de aço e de barro;

entre orquídeas andar nua

no jardim onde te exilas

e, ao ver a fome das vilas,

morrer de estrela e de lua.

Se ser louca é amar

com devoção franciscana;

chorar rios, chorar mar

quando a aurora se engalana;

manter crença e altar

por um falso querubim

e dar asas de cetim

a quem não sabe voar,

Se ser louca é dar consolo

a quem só te desconsola

e trocar o céu dos olhos

por migalhas e esmolas;

aceitar esse arranjo

que te cega e te seduz

e ainda ser o anjo

de quem é a tua cruz:

Cala o verso em tua boca,

depõe o cinzel e a lira

que, deveras, tu és louca

e o amor é uma mentira.

Hevelyn
Enviado por Hevelyn em 26/02/2007
Reeditado em 01/03/2007
Código do texto: T394371