PERDIDO

Sou apenas um menino

Perdido em meu próprio destino.

Vou vivendo pisando em flores

Numa primavera virtual,

Vou atravessando países e continentes,

Abraçando meus pecados mais urgentes.

Sou ainda uma criança...

Sou prisioneiro das minhas vontades.

Vivo em silêncio... Tenho a voz presa

Explodindo em ecos na minha alma.

Sou apenas mais um no meio de tantos...

Faço viagens através de uma pequena lata de cola...

Ela é o meu veículo,

Meu air bus.

Durmo e sonho com bola, futebol e fama.

Sou mais um aspirante a Ronaldinho,

Mas nem dentuço eu sou...

Não tenho meus dentes,

Eu os perdi num soco que ganhei de presente...

Meu padrasto me deu.

Gente boa ele...

Carinhoso com minha mãe,

Mas só quando estão na cama.

Não tenho irmãos...

Morreram numa batida da polícia.

Vi tudo, parecia até um filme...

Eles eram meus heróis.

Mas... heróis de verdade também morrem!

E eles não haviam feito nada demais...

Apenas tomaram emprestada uma viatura,

Para transportar uma televisão que,

Também por empréstimo, retiraram da casa de alguém...

Pra poder assistir a novela das oito.

Com eles aqui em casa, ninguém precisava passar fome...

Havia sempre feijão, farinha e um baseado pra sobremesa.

Minha mãe é minha deusa, minha musa inspiradora.

Sai todas as noites para trabalhar.

Pinta o rosto, arruma os cabelos,

Coloca uma saia curta, apertada e brilhante.

Calça uma botas rotas que meu padrasto comprou,

Das mãos de um “cabrito” qualquer.

Volta de manhã cedo,

Às vezes com um olho roxo... Ainda mais bonita!

Ela ganha muito bem, mas trabalha pesado...

Tem que gemer muito pra trazer a pinga do velho.

Aí, trancam-se no quarto e é só “love”!

É lindo! Fico espiando pelas frestas na parede...

Faço malabarismo nos cruzamentos para ganhar uns trocados...

Adoro balas! Mas às que vendo não posso saborear

E as que passam zunindo por mim são perdidas,

Até que achem alguém distraído pelo caminho

Pra brincar de morto! Vivo! Morto! Vivo!

Minha professora é a vida, mas eu não gosto dela!

Na escola da vida, só me ensinam a morrer,

Mas eu não quero morrer... Quero crescer,

Quero ser alguém, ter família, ter filhos.

Por favor, alguém olhe por mim!

Dêem-me a chance de sonhar...

Dêem-me a chance de viver.

Co-Autoria: Elcio Ribeiro Pinto e Maria Goreti Rocha

(setembro 2006)

Elcinho,

amigo querido, mais uma vez agradeço por deixar-me para postar nossas parcerias.

Beijos na alma e no coração.

Maria Goreti Rocha
Enviado por Maria Goreti Rocha em 26/03/2007
Reeditado em 18/04/2007
Código do texto: T427060
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