DENTRE POETAS E PALAVRAS

Sorrateira é a inspiração

Em dias imperfeitos...

Inquieta-se a alma

E não permite que a poesia

Transfigure o branco papel

O papel é branco como a luz do sol

Que no vácuo mantém ângulos idênticos

No prisma se subdivide em cores nossas

Assim como uma palavra denotativa

Segue caminhos mil na mão de um poeta...

Caminhos incertos em seus destinos

Perigosos para o estrangeiro solitário

Desconhecedor dos seus segredos

Indefeso contra as feras algozes

Escondidas em cada curva

As curvas são escolhidas pelo poeta

Mesmo que às vezes uma palavra lhe escape sem querer

Ela manterá sempre o seu adeus

Irão às páginas, às estrofes, aos versos

Para servir, mas nem sempre falar o que se quer dizer

As palavras têm vida própria

Seguem seu curso sem pedir permissão

Às mãos do nobre poeta

Transformam-se em asas fugitivas

E não mais podem ser alcançadas...

Verdade... As palavras voam como pássaros

Mas os poemas às aprisionam e fazem cantar

Para impressionar aos olhos do dono

E os de quem a ele quer louvar

O poeta não é nada; as palavras, tudo são.

Bastam palavras para expressar

O olhar distante do poeta

O silêncio de seus lábios...

Bastam apenas palavras

Palavras em mais pura poesia

Palavras castas e pelos pés acorrentadas

Trabalham sem remuneração ou paradas

Eternamente têm seu som congelado

Até que por bocas sejam seres libertados

Das garras de quem as escravizou.

Pertence a palavra ao poeta

Pertence o poeta à palavra

E entre fugas e encontros

Vive como mediadora a poesia

Elo incorruptível destes seres adversos

Seres? é muito sonho ver palavras como seres

Seres têm vida e arbítrio próprio

Palavras só são peças dum quebra cabeça

E que ninguém nunca esqueça!

Usamo-nas como escravas, mas acabamos escravizados!

(Com a senhorita Cecília Archanjo)