O dia seguinte (Com Conceição di Castro)
Maria Antônia Canavezi Scarpa
Nada de queixumes...o dia seguinte
sempre surge racionado e provocador
como o sol, ele nasce...desponta
carregado de novos brilhos, novos ideais
sentimentos outros onde magia e força
sejam uma constante
Não se pode perder o humor
nem navegar nas amarguras
as ondas do dia seguinte podem ser melancólicas
quase a beira de grandes abismos
mas...temos que aprender a acordar
Recomeçar com paciência
vestir-se de luz para a paz
ensaiar que a revelação de fatos raros
fazem parte da nossa provação
Como as orquídeas o dia seguinte é sensível
O que vigia o mundo é a esperança
um andarilho persistente
que move os desejos a malícia
se nos arrastarmos para as ilusões
para horas inteiras
O que fica pra sempre? - Nada
a vida permite apenas um pouco de cada vez
dosando em conta gotas tudo
para não engasgar os sentimentos
se tomarmos tudo de uma só vez
O dia seguinte é você, sou eu
é nós que pensamos no eterno
no auge que brilha intensamente
e não perde o fulgor
mas a realidade tem ecos
Que virtude...acordar o real
compreender que podemos permanecer só
quando algo não vai bem mesmo assim...
devemos nos vestir para o amanhecer...
o dia seguinte já vem...
Tília Cheirosa
O Dia seguinte
Conceição Di Castro
Após o dia seguinte, vejo escura
A rua sem rumo, sem esperança,
Nem alento consigo obter p'ra cura
Deste coração sem a grande dança.
Sinto-me solitária, sem ternura,
Olhar vazio, pequeno, mas alcança
A profunda alma em desventura,
Lacrimosa por não existir lança
Que alcance o grito de solidão,
Espargindo no corpo tão inerte,
Pois tu não estavas lá na mansão
Fria, infeliz e vazia. Queria querer-te.
Mas o dia seguinte não trouxe alento,
Não trouxe paz, nem o calor do amor
P'ra reaquecer o peito em desalento,
Pleno de ausência tua; é desamor.
Após o dia seguinte, quero falar
Ternamente sobre nosso momento,
Onde houve raios a cantarolar
Nos beijos ardentes de sentimento.
Quero mostrar ao mundo, sem perder
A carícia das estrelas cadentes;
Revolver os diversos raios rentes
Nas campinas do belo conhecer.
Quero desvelar o gesto coerente,
Sem demonstrar a vida tão guerrida
Na cama inerte, fria, pura e demente,
Lembrança de um seguinte dia na lida.
Goiânia, fevereiro de 2006