Pensamento lost in space

O que podemos esperar de um dia que começa com um puta conto? Tudo. A vida prega estas peças. A gente esta aqui e depois passa o dia assim em estado alfa. Tive a sorte de ler “Transa esperta” de Paulo Castro ou melhor seria chamar de Pauloci03? O que me chamou tanto atenção? Fiquei pensando o dia todo e mudando meus hábitos, resolvi escrever algo no horário menos nobre, o horário das 22:30 hrs. O que vc sente quando lê algo que gosta? Esta foi a primeira pergunta que bateu de pronto? Será que todos sentem a mesma coisa? Mas ai vem aquilo que sempre tentamos fugir: a racionalidade. Somos seres racionais e tentamos sempre encontrar respostas para as perguntas que formulamos todos os dias. É verdade que a velocidade que as perguntas são formuladas é exponencial enquanto as respostas é a aritmética. Eu e a matemática... Mas ai veio àquela outra pergunta. Se vivemos sempre perguntando como vai ser nossa vida se tivermos as respostas? Pareceu algo cansativo mas eu sabia a resposta do porque tinha gostado do texto do Paulo. Sim. Ele tinha conseguido atingir um estado de graça que chamo aquele estado que o escritor cria sua assinatura, ou para se entender melhor, sua impressão digital. Todos temos uma. O escritor também tem a sua. É o tipo da coisa que não se conquista a toda hora. Acho que ainda não encontrei a minha. Pode até ser que não sei qual é a minha mas a dele esta bem na cara ou melhor no cérebro. Ele é o tipo boxeador de idéias, aquele técnico que ensina como dar porrada mas tudo dentro da lei, aquele que mexe por dentro sem afetar o que o mundo externo vê. Seguindo o passar das horas e ainda no daytime, varias contas depois e passeios em bancos, supermercados e feiras, entre umas mercadorias e outras. O que escolher? O preço ou a pseudo qualidade? Existe preço com qualidade? Ainda continuava martelando o texto do Paulo. Bom. Ai vem àquilo que eu também chamo de casualidade nada casual ou melhor a casualidade pré colocada. Tinha alugado um DVD Sex and city das garotas com corpo de 20 anos mas com cabeça de 40 achando que dão um gás mas que no fundo sabem que não são mais aquelas mas acham que todo mundo só pensa em sexo portanto podem discutir a vida em 20 minutos só falando em sexo. Vivemos num mundo sexual. Porque não discutir nossa vida sobre a ótica do sexo? E qual seria esta ótica? Como o sexo pode ver o mundo? Primeiro. Dividir o mundo em pintos e vaginas seria tentar simplificar demais. Depois querer achar que filosofar sobre o prazer até existência em pleno gozo... Mas ai veio novamente o porque de tudo isso. Assistindo Carrie tentando escrever as frases de efeito. Pensei no texto do efeito. Qual é o efeito?

Transa esperta ou clever go... Acho que clever doing fica mais impessoal. Foi proposital este parágrafo solto do nada? Quis dar um tempo para você pensar. Afinal leitor você é a razão de tudo. No fundo eu sou a razão pois eu mesmo leio meus textos. Afinal será que faço sexo comigo mesmo? Será que escrevemos o que aspiramos ser mas que no fundo somos mas achamos que ainda não somos? Nem eu acredito nisso. Seria uma forma de me despistar do meu real objetivo aqui. Qual seria a assinatura ou meu toque pessoal? Volto ao seriado, volto ao Paulo. Vivemos sim num mundo da ditadura do sexo. Até ai não tenho o que reclamar. Sou adepto a ela. Já dependi muito desta dita dura mas hoje me divirto com ela. Mas e ai? Sempre tentando voltar o ponto inicial. O que chama tanto atenção? No fundo não sei. Acho que a própria discussão é interessante. Existem coisas mais importantes para se discutir? Hoje em dia não sei. A primeira profissão do mundo foi a milenar prostituição acho que até junto com os padeiros. Pode ser que tudo seja uma questão do “comer” mas o que nos remete sempre a mesma coisa. A essência de tudo é o que não deixa de ser essencial sempre. E o comer do cérebro é pensar no comer e como as pessoas comem sem pensar nada mais do que alguém pensar por elas. Seria eu um mastigador profissional? Nem pensar. Mas gosto de mastigar comida dos outros. E é isso que faz a gente descobrir coisas. Hoje comi um dos melhores peixes da minha vida. Feito pela minha mulher e ele não tinha nada demais. Um peixe de R$ 1,98 o quilo. Nenhum um ser vivo animal custa tão barato o quilo. Mas este custava. Ela tirou a espinha central. Deixou numa salmoura básica que até ai nada de especial. Mas tinha algo especial. Algo que não conseguia localizar. Ele estava muito saboroso e muito crocante. Perguntei o que ela tinha posto de diferente. Ela mesmo não tinha percebido. Ela foi falando e eu fui dizendo. Não é isso. Não é isso. Ai eu perguntei. Que farinha você usou? Usei aquela farinha de mandioca moída grossa que você trouxe que o quilo diga-se de passagem também é R$1,00. Trouxe de Pernambuco. Farinha Asa Branca para quem quiser tentar. Uma hora antes a gente estava decidindo que ia jogar a farinha fora e ficou por isso mesmo. Uma hora depois a farinha foi a razão da existência de um peixe maravilhoso que de preço nada prometia mas que o sabor matou muito salmão a shitake a bizantina ou qualquer coisa do gênero. Moral da história. A escrita pode ser pobre. As palavras pode ser simples mas uma combinação mágica um temperinho especial com um pouco de assinatura exclusiva e ainda uma grande casualidade faz os grandes feitos da história.

Será que o texto do Paulo vai durar para sempre? Será que o peixe que comi vai? Sei lá. O que sei que para mim vai. O peixe não posso dar para vocês mas segue o texto dele para vocês saborearem da forma que acharem melhor...

Abraços

Lorenzo

"transa esperta" - paulo c

eu não posso dormir

5 diazepans 10 mg às 8:00 a.m

nada disso , cara , não feche os olhos , saia dessa cama .

cara , ir pra onde ?

(monólogo e suor )

(entra a garota fumando um cigarro meu ) :

e aí , garota , acho que não vou dar conta , o corpo tá pesando tonelada

sei lá , usa o tal q.i. 120 que você disse que tinha e ainda não vi sombra .

( sai a garota usando um shortinho jeans dela , suburbano , tesudo )

eu não posso fechar os olhos .

cara , esse é o verdadeiro terror .

não há outro .

acontece em um quarto sem quadros , com uma cama branca no meio emadeirado.

resisti durante todo dia , consumo :

livros chatos , cinema pedante ( "comédia romântica" , garota , pipoca e

jeans ) , perder uma aposta :

(feed back)

- rapaz , tu vai sentir calor com essa roupa .

- vou o cacete , daminha . quer apostar ?

- calor dá sono . e sim , aposto .

(lembrança , recuo )

ela ganha , tenho uma crise de pânico dentro do cinema , saio correndo .

compro uma camiseta branca no primeiro magazine e volto à sala de exibição .

roupa anterior amassada humilhante em um saco plástico ruidoso .

as legendas fazem um bem danado em sua boçalidade

e bocejo .

passo gelo de coca cola nas pálpebras , mastigo , gosto de pele salgada

náusea gelada .

(atualidade , 1 hora antes , na verdade )

som . relógio verde no escuro : 20:01 p.m.

muda , filha da puta , muda .

20:01

20:01

escroto

20:01

areia na íris

20:01

20:02

rá . tragada funda , nicotina rápida no sangue geral .

zonzeira .

20:03

o que ?

assim , tão rápido ?

será que apaguei ?

caralho .

apago o cigarro na palma da mão e chupo a dor salgada quente .

banho nem pensar . gelado me deixa puto . morno me amorna , colo de mãe .

esperteza ( q.i. 120 !!! ) :

tomo um comprimido calmante para acalmar a ansiedade de não estar calmo. revotril 2 mg com cerveja itaipava .

funciona .<BR>

levanto da cama branca , quarto sem quadros , garota fazendo ginástica

ouvindo marina lima na sala , faz que não me vê quando não a vejo . relâmpago

até a

cozinha .

só pra sentar em uma cadeira incrivelmente pequena , sem caber-me , ninguém ,

eu diria .

vontade de deitar no chão .

mas seria colocar tudo a perder .

e infame , ainda mais .

levanto e mastigando tomate lambuzando a mão ,

(caroços entram sob as unhas )

sei apenas

( o relógio na parede tem como ponteiros as asas de um pássaro assimétrico ,

deformado . Ou será perspectiva ? )

que só posso dormir depois , exatamente ,

das 10:00 p.m.

ou conforme aposta mais antiga

muito ancestral

dos nossos bisavós , roça , fazenda , fecundo sangue em jogo ,

calendário com século , dia e ano ,

conforme aposta pânico milenar ,

ela ,

a garota ,

irá até a bolsa

abrirá o zíper

e ainda nua ,

(shortinho suburbano : cão morto no chão )

pegará a pistola

e com todo direito sagrado ,

estourará meus miolos .

quiça não .

mas ok .

ano que vem

é a vez dela .

e

assim

vamos

levando.

Paulo Castro