ALMAS FANTASMAS (PLENA SOLIDÃO)

Minha alma fantasma sonda a tua,

então vamos nos dar as mãos

através de estrelas de papel,

ou mesmo das pipas coloridas,

não que caem do lindo céu azul,

ou que escapam das mãos dos meninos,

mas que sobrevoam o telhado...

ou apenas os nossos sonhos

Da casa vazia, na noite vazia, da vida vazia...

plena ausência, plena solidão...

Por um momento, pensei ter visto um anjo.

Também pensei tê-lo visto,

Mas era só a sombra da minha solidão,

não só da tua mas da nossa,

que buscava esconder-se de curiosos olhos alheios.

Que olhos eram esses?

Olhos de lama, que lacrimejam um mortífero ciúme,

completamente descabido,

que respinga como borras de vela incandescente,

em torno dos castiçais

marcando a sensibilidade da pele pálida e fina

e das nossas almas irmanadas pela poesia.

Vai acendendo o egoísmo,

despertando ódios,

queimando a esperança

que ainda nos restou da infância,

e apagando a alegria,

o único tesouro que havíamos conservado.

Viajo numa estrada tão longa,

viajamos, não esqueça, estamos juntos,

onde só as pedras me acompanham,

pedras pontiagudas,

ferem os meus pés cansados,

nossos pés, pois caminhamos descalços,

e atrapalham o meu caminhar solitário.

O nosso caminhar, ainda estou ao seu lado.

Não quero deixar rastro,

também eu, pois não temos amigos ou discípulos,

mas o sangue que escorre marca o caminho...

independente da nossa vontade.

Carrego nas costas, o peso das desilusões,

e das boas lembranças

tantas vezes declamadas em minhas belas poesias,

ou grafadas em papel,

e cantada em tuas doces melodias

que talvez nem fossem tão doces assim.

E nas mãos, trago uma mala cheia de sonhos,

os mesmos antigos sonhos,

Sonhos já adormecidos,

mas ainda assim sonhos,

que me partiram o peito e o sorriso,

e ficaram miraculosamente intactos apesar dos anos.

Mas sigo, sendo um seresteiro,

aquele mesmo seresteiro de outrora,

E ainda consigo encontrar a amada,

(o mesmo olhar, mesmo sorriso, tudo igual),

nas cordas do meu violão

quando canto a canção que ela tanto gostava.

Mesmo que desafinado e triste...

tantos foram os desenganos que presenciou,

ainda mantém o verniz que ecoa meu canto livre,

árias de amor ou lamentos.

Sou bendito por ser um poeta,

embora quase anônimo,

que escreve coisas reais,

ou as vezes imaginárias,

da tua nobre vida,

que quase sempre se confunde com a minha,

dentro da minha escrita fantasiosa e fria,

teu porto nos momentos de tédio.

Abençoado SER,

escolhido ou predestinado,

que consegue ver luz através de telhados

cobertos pelo limo

Onde luas brilham

como que por encanto,

mesmo no espelho das espessas telhas,

aquelas marcadas pelo limo,

da casa vazia, na noite vazia, da vida vazia

plena ausência, plena solidão...

Charlyane, os versos ímpares, Wanderil os versos pares.

Desculpe amiga a brincadeira com o seu texto.