DA ESCRAVIDÃO À EMANCIPAÇÃO

.

Angustiada uma mãe lá na senzala

lastima em noite baça e tenebrosa

o filho vendido, enquanto – receosa -

outra cativa a sua criança embala.

Paz não encontra a crioula adolescente

cobiçada pelo dono de seu corpo:

- quem não cede à libido desse porco

castigada é por ele duramente.

Já cansados estão os negros da chibata,

dos arbítrios dos brancos sem piedade

e recusam essa insana propriedade

embrenhando-se em quilombos bem na mata.

Mas aos poucos vai crescendo a resistência

e são lidos os poemas do profeta

Castro Alves, queridíssimo poeta,

que em seus versos censura a prepotência.

Todo o povo aclama agora a abolição

e o ato nobre da Maçonaria (*)

que comprando cem mil cartas de alforria

antecipa o fim dessa opressão.

Sinto muito, vaidosa sinhazinha,

se ninguém vai alisar seu penteado:

- negro algum será mais chicoteado,

e a sua escrava – agora - é a sua vizinha!

(Richard Foxe)

Raça negra sofrida, apartada de sua nação...

trazia no peito o martírio da saudade sem alívio,

confessada em gritos e prantos até em oração,

um verdadeiro castigo, sem da família o convívio.

Porões de navios negreiros com cenário abissal

muitos morriam de banzo, fome ou maus-tratos

incontáveis eram vendidos para trabalho braçal

triste sina de açoites e outros impiedosos atos.

Rebelião era fato, na luta contra dor e reclusão

os dias eram tormentos, nas noites grandes lamentos;

olhares lânguidos suplicavam autonomia e proteção,

mas senhores de engenho só lhes traziam sofrimentos.

Benditas pessoas abraçaram essa grave causa...

tendo como símbolo uma singela camélia branca, (**)

o movimento abolicionista fortaleceu-se sem pausa

a sociedade em defesa da extinção dessa prática.

Longo foi o caminho para a abolição da escravatura,

mas a luta foi vitoriosa com a lei Áurea sancionada,

num ato de nobreza, princesa Isabel pôs fim à desventura

libertando um povo subjugado para uma vida imaculada.

(Verdana Verdannis)

(*) Era uma prática comum o empenho da Maçonaria junto à libertação de escravos através da compra de alforrias; o número exato não é conhecido e cem mil é uma licença poética.

(**) Nos grandes centros do país, a camélia branca tornou-se um símbolo de adesão ao abolicionismo. As pessoas que cultivavam a flor em suas casas ou ainda todos que portavam um broche de camélia branca na roupa revelavam total apoio ao abolicionismo.

Richard Foxe e Verdana Verdannis
Enviado por Richard Foxe em 10/08/2020
Reeditado em 11/08/2020
Código do texto: T7031704
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.