Emancipação da Mulher no Século XXI

“Que nível de consciência possui uma mulher cujo lugar está na cozinha, que não tem direitos na sociedade, no Estado ou na família? Não tem suas próprias idéias! Faz tudo como lhe ordena seu pai ou seu esposo…

Alexandra Kollontai – O Dia das Mulheres, 1913.

Certamente, desde o momento histórico onde a primeira mulher foi gestada e nasceu de um ventre de outra mulher, aqui no planeta terra, a humanidade evoluiu bastante, mas não foi em todos os campos. A posição da mulher na sociedade ainda continua primitivo. Diga-se, em pleno ano de 2023, o conceito de mulher ainda varia de região para região. Por exemplo, não podemos falar do ser feminino no Brasil com a mesma linguagem que falamos em Moçambique, e muito menos na Índia.

Tudo bem que, o preconceito e a opressão feminina é extensiva, tendo assim, contradições universais e particulares, a toda parte do mundo, mas existem sociedades que, após sucessivas discussões, advindo das lutas dos movimentos feministas ou de classes, conseguiram chegar a outros patamares de compreensão. Inclusive, alguns países, como a Rússia, passou por uma revolução socialista, onde não só as mulheres em grande manifestação foram o estopim, do próprio processo revolucionário, mas também, conseguiram igualdade com os homens no que diz respeito aos direitos civis.

Esse direito civil, conquistado nesse processo, inclusive, alguns deles passaram a ser vigente em vários países nos anos posteriores, advindo das lutas das mulheres pelo lugar que a pertence. Embora, na própria União Soviética, a Alexandra Kollontai, manifestou que a tarefa era árdua, mesmo passando dois anos da conquista do proletariado ao poder, aquele, país socialista, era cercado e herdeiros de um passado sóbrio e repressivo. Não adiantava somente conseguir direitos civis, a Kollontai, uma socialista ativa e lutadora, expressava que as algemas da família, do trabalho doméstico, da prostituição ainda pesavam muito sobre as mulheres trabalhadoras.

Vladímir Lênin escreveu:

“No decorrer de dois anos, o poder soviético em um dos mais atrasados países da Europa fez mais para emancipar as mulheres e tornar seus direitos iguais aos do sexo 'forte' do que todas as repúblicas 'democráticas' avançadas e esclarecidas do mundo nos últimos 130 anos”.

O poder soviético eliminou o que havia de desigualdade das mais básicas, como as leis do matrimônio — divorcio, da família com relação às desigualdades às crianças (filhos ilegítimos e legítimos), heranças, criou a licença maternidade e os direitos políticos e igualdade salarial aos dos homens. Mas não conseguiram, por exemplo, libertar a mulher da “escravidão doméstica” através da transição para o trabalho doméstico socializado completamente.

De lá, até aqui, se passaram mais de 100 anos, no Brasil, as mulheres brasileiras, principalmente, as das classes menos favorecidas (trabalhadoras sejam do campo e na cidade) ainda são sobrecarregadas aos trabalho doméstico, da cozinha e do cuidado dos filhos. Seja em casa ou no próprio trabalho fora de casa. Não adianta somente a conquista do direito civil, a opressão feminina continua vigente no século XXI, e a subsistir sobre os ombros femininos.

O marxista Vladímir Lênin escreveu:

“Porque sobre ela cai todo o peso do trabalho doméstico que, na maior parte dos casos, é o trabalho menos produtivo, mais pesado, mais bárbaro. É um trabalho extremamente mesquinho que não pode contribuir, no mínimo que seja, para o desenvolvimento da mulher.

Acima de tudo, a mulher precisa ser livre e a senhora do seu destino. Ser a protagonista da sua própria história. Embora, hoje, ainda é tida como um ser inferior, não humanamente digno de questionar, julgar, opinar, decidir (nem que seja por si). Dada as condições materiais e objetivas, a mulher consegue desenvolver e exercitar suas habilidades e potencialidades, sejam elas físicas e intelectuais.

Ela é uma espécie de propriedade privada do homem, destinada a executar de imediato vontades e desejos alheios. August Bebel, escreveu: “Na escolha amorosa ela, como o homem, é livre e desimpedida. Ela flerta ou é galanteada, e termina o relacionamento seguindo apenas suas próprias inclinações.”

Portanto, a sua vida não se resume somente ao casamento e criar os filhos. Ela precisa escolher seu campo de atuação onde corresponder a seus desejos, inclinações e habilidades naturais.

Não basta ser do sexo feminino, é preciso tornar-se mulher mediante o uso dum manual estereotipado que determina como uma mulher deve ser e estar na sociedade. Um manual que instruem submissão e estabelece as formas e os tamanhos que nos quais as mulheres devem lutar para caber, e de volta, alcançar a aceitação. Acima de tudo, eu digo: “nascer mulher nos impulsiona, desde cedo, a lutar pelo lugar que é nosso por direito. Carregaremos uma bandeira nas mãos desde sempre. A metade do céu é nossa, como dizia um grande marxista chinês, embora precisemos conquistá-lo”.

Clara Zetkim, grande líder socialista do movimento de mulheres, escreveu:

“Todas as mulheres, sem distinção de classe, precisam ser politicamente iguais como um meio para ganhar elas o direito e um desenvolvimento mais livre e uma maior atividade na sociedade.”

Ela ainda continua:

“A história da humanidade é a história das repetidas injúrias e usurpações por parte dos homens sobre as mulheres e cujo objetivo direto é o estabelecimento de uma tirania absoluta sobre ela. Para demonstrar isso, permitam-nos submeter os fatos a um mundo imparcial”.

Se um homem demora de se preparar para sair de casa, ele é como uma mulher. Se ele demora de chegar ao seu destino, então ele não anda como um homem. Isto é, usamos a palavra mulher para simbolizar o que não está no padrão certo, algo incompleto. Veja que, fala-se mais sobre o corpo das mulheres do que sobre elas. Porque a única coisa útil nelas julga-se ser a sensualidade, o resto é mera ornamentação.

A vida das mulheres, desde os primórdios, é marcada pela submissão e violação dos seus direitos e desejos. Vivemos numa sociedade onde “ele manda e ela obedece”. A mulher torna-se um objeto de desejo sexual e inferiorização social. Geralmente, ainda vivemos em sociedades que não concedem às mulheres o mesmo valor humano que os homens usufruem desde o berço.

Na verdade, nos últimos anos, a cada dia mais mulheres tomam consciência da sua condição social de ser mulher. Não é ainda um despertar no sentido da sua emancipação total, mas podemos afirmar que o século XXI é o século das mulheres.

A opressão feminina é um assunto complexo e de grande importância de ser discutida entre as mulheres e homens. Sabemos que a elevação da mulher se dá com a prática social, ou seja, participando da luta de classes, da luta pela produção e pela experiência científica. Só assim, podemos nos formar como sujeitos coletivos, nos desenvolver politicamente, a fim de assumir funções em todos os níveis e esferas de atividades na sociedade, sejam atividades ligadas às esferas econômicas, políticas, científicas, culturais, partidárias ou estatais.

Escrito em dedicação as mulheres!!!

Viva as mulheres!!!

Maria José de Melo

Lindo Martins Motove