EU E VOCÊ

Assim,

mesclados,

sintonia,

lado-a-lado,

adormecidos,

enfim,

somos

um só ...

(ivi)

Quando pequeno

Ouvia toda noite

Histórias que falavam

De princesas e castelos,

Adormecidas belezas

E príncipes salvadores;

Ledas ilusões

Deram espaço

Às uvas verdes

Da desesperança.

Vento ventania vendaval

Boca que sonhava sensual

Deitada em outras sendas,

Outro mar.

Amar a correnteza

Ser a presa

Surpresas esperando

E nada vinha.

Nem mesmo a fruta amarga

Da verdade

Que o tempo tantas vezes

Ocultava.

A vida passa

Da uva a passa

A carga se torna mais pesada

Alada minha alma percebia

Apenas o mesmo prado

Em que vazia

Seguia a caminheira esperança.

Noite após noite

Não saberia mais discernir

A sutil claridade de um vaga-lume

Feito lamparina na treva imensa

De minha alma.

O gotejar contínuo das lágrimas

Do nada haver, nada ver e nada sonhar

Acumuladas, cevaram

A pequena semente

Que ao germinar

Dominava toda a escuridão

Daquele antigo prado

Perdido nos olhos

Vagos, sem faróis...

Aos poucos a adormecida

Princesa entranhada

De beleza e claridade

Transformava todo aquele cenário

Ermo.

Dessa forma vieste,

Revestida em lumes

Surpreendentemente

Expressivos.

E assim

As antigas lendas

Dormem junto a mim,

Revolucionando

Tudo,

Tomando cada verso

Que penso,

Cada palavra

Que profiro.

Imensidade

Em que, mesclado,

Permite o gozo supremo

Da eternidade...

(Marcos Loures)