Meu Boi Pintado Ficou Malhado.

Tudo começou por acaso. Se bem que o acaso não existe. É só uma palavra que se usa quando uma coisa acontece de repente e não sabemos explicar como aconteceu; e muitas vezes o porquê de ter acontecido. Quando eu era criança a minha mãe costumava brincar comigo e meus dois irmãos: Francisco e Maria. Ela de vez em quando nos colocava para falar umas palavras engraçadas que nos deixava com a língua meio trôpega. Ficávamos disputando para ver quem conseguia falar a quantidade de vezes que as instruções pediam. Eu nem sabia que aquele monte de palavras confusas tinha um nome; sabia apenas que me deixavam muito cansada ao tentar fala-las; e que era muito gostoso quando eu conseguia ganhar dos meus irmãos. Eu era a mais nova, sempre pequenina, magricela e desafinada. Meus irmãos puxaram pra minha mãe, tinham a voz linda; faziam qualquer cantiga de rodas virarem uma festa; enquanto eu parecia uma taquara rachada que provocava risos a cada vez que se metia a cantar. Por esse motivo, para mim era uma vitória quando minha mão nos desafiava e eu conseguia ganhar deles falando: “-Quero que você me diga cinco vezes encarrilhado, sem errar sem tomar fôlego, vaca preta boi pintado!” Eles raramente conseguiam falar as cinco vezes que se pedi; e eu sei lá por que conseguia. Mas só anos depois, quando minha mãe nem mais era viva, foi que descobri que aquilo se tratava de um trava língua. E de quem foi à autoria, eu não sei.