A sina de dois irmãos

A SINA DE DOIS IRMÃOS

Ginaldo_silva@hotmail.com

“Penso ouvir a pulsação atravessada

Do que foi e o que será noutra existência

É assim como se a rocha dilatada

Fosse uma concentração dos tempos...”

(Morro Dois Irmãos- Chico Buarque de Holanda)

Uma fábula sobre o ódio. É assim Dois irmãos, romance escrito em 2000 por Milton Hatoum. Uma verdadeira saga mesclada de ódio e amor, numa mesma sina.

Narrado em primeira pessoa, a história é ambientada em Manaus no início do século XX (1910 a 1960), em que relata um drama familiar cujo centro estão dois filhos de imigrantes libaneses. O enredo trata, basicamente, do (não) relacionamento entre os irmãos, que dividem o mesmo ódio numa mesma proporção. Hatoum inova nesta temática, a desavença entre irmãos, utilizado-se da visão do narrador (Nael), que também é protagonista da história, e que só é revelado ao leitor no meio da história. Esse narrador além de participar, é também o observador atento, que de forma emocional e racional, conduz a narrativa aos seus extremos.

A temática em si, não é uma novidade na literatura. Machado de Assis em Esaú e Jacó, irmãos gêmeos que também se odiavam, aborda a problemática familiar numa referência direta a Caim e Abel da Bíblia sagrada, assim como, à volta do filho pródigo. Partindo primeiramente da questão do ódio e a relação dos irmãos, nota-se em Hatoum, que Yaqub e Omar, personagens centrais de Dois irmãos, estão tão perto e ao mesmo tempo tão longe que é quase impossível para o narrador construir o seu relato com a presença dos dois ao mesmo tempo. Recurso este, que inspira na narrativa o desejo de descobrir o seu desfecho. O tempo é o determinante, dividindo-se em três: a realidade, que é o prefácio da história, em que encontramos Zana, mãe dos gêmeos, fazendo um pequeno balanço do que fora a sua vida. O início se dá então, com a sua morte e o retorno do filho Yaqub do Líbano. O segundo momento é o de Zana e Halim, pais dos gêmeos. Neste ínterim, o narrador mergulha na trajetória do casal de imigrantes que chegam a capital da borracha no início do século XX. E o terceiro momento é direcionado aos gêmeos. Percebe-se a preocupação do narrador em informar como eram os gêmeos desde o nascimento, adolescência e a fase adulta. Cada um ganha, na sua particularidade, a sua importância na narrativa, assim como a irmã Rânia, que se destaca por seu excessivo amor pelos irmãos.

O ponto de onde é feita a narração é uma posição privilegiada e natural para o desenvolvimento da história. O narrador é um personagem, que não sabemos de imediato, mas no desenvolvimento do livro. Trata-se do filho bastardo de um dos gêmeos com a índia Domingas, empregada da casa. Esta posição de filho ilegítimo é o que determina o interesse do narrador em descobrir quem é o seu pai. Milton Hatoum cria um panorama psicológico, em que, estruturado na família, os personagens ganham dimensões na narrativa, sendo cada um ao seu modo, componentes de um mesmo tecimento que se faz e se desfaz a casa de Halim e Zana. Os personagens centrais relacionam-se com outros, que de certa forma, estão também ligados a casa. Metaforicamente a casa é o porto seguro de todos os componentes da narrativa. É ela que sofre com as mudanças temperamentais dos irmãos. Mas, é também, ao mesmo tempo, o elo de ligação entre a família tão distante.

Esse distanciamento se dá no instante em que Halim recebe a notícia da gravidez de Zana. Logo em seguida vem a não aceitação. Apaixonado pela mulher, depois do nascimento dos filhos Halim se condena à nostalgia dos tempos em que não era pai, em que não precisava disputar o amor de Zana, em que os dois tinham todo o tempo do mundo para deitar na rede do alpendre e se entregar aos prazeres sensuais. Pelo que nos conta o narrador, Halim estará sempre à espera da decisão mais acertada diante dos abismos familiares: a desmedida dedicação de Zana a Omar, seu filho preferido; o trauma de Yaqub, o filho que, adolescente, foi separado da família supostamente para amenizar os conflitos com Omar, a relação amorosa entre os gêmeos e a irmã Rânia, que não vai se casar nunca. Hatoum faz os dramas da casa estenderem-se à cidade e ao rio: Manaus e o Negro transformam-se em símbolos das ruínas e da passagem do tempo. Esses temas vão se dissolvendo com o passar do tempo da história, mas não se perde em importância ou se resolve e sim, vão se estranhando cada vez mais. Para os gêmeos o impossível é a aproximação. E a solução talvez seja a separação. Yaqub, ainda adolescente, é obrigado a deixar o leito familiar para embrenhar-se no Líbano. O seu retorno é o início das desavenças familiar. Quando volta cinco anos depois, sente-se deslocado dentro de sua própria família, enquanto as intrigas continuam. Este sentimento de deslocamento é o que sustenta a narrativa e traz o drama familiar para a esfera do universal. Entre esse duelo fraternal, Hatoum ainda constrói a história do imigrante de origem árabe no Brasil e a expansão comercial da região norte; e o retrato de uma sociedade pequeno burguesa.

Zana é a representação sublime do ser mãe. Possuidora de características que tornam o personagem em um ser determinante, dominadora e protetora, faz com que o convívio na casa seja, aparentemente, suportável. Há uma certa postura da personagem em relação aos filhos: Yaqub é o filho exemplar, beirando a perfeição. Omar é o que necessita de amparo. Rânia a inconseqüente que nunca a escuta. Daí a preferência por Omar, o filho caçula, que se envolve em diferentes intrigas e situações de forte impacto para a família. Para ela o que realmente importa é que o filho nunca a abandone e para que isso não ocorra, não mede esforços para protegê-lo das influências de fora da casa, tais como: mulheres, bebidas, vícios e doenças. Incapaz de sentir a carência do “outro” , como é tratado muitas vezes pelo narrador, distancia-se cada vez mais de Yaqub para dedicar-se exclusivamente de Omar, chegando ao extremo de esquecer até mesmo, o próprio Halim, que se consome pela febre amorosa do desejo desesperado de possuí-la como antigamente, até a sua morte. Esta é a mãe personificada que acima de tudo é forte. E ao mesmo tempo a mãe que não conseguiu romper com a barreira que separa os filhos, tornando-se frágil, impotente, diante de uma realidade que a assusta. Nega-se a morrer sem uni-los. Mesmo que intimamente saiba que este é um sonho impossível de se concretizar. Um outro dado importante sobre a personagem de Zana é o seu apego a casa. A matriarca respira e exala tudo que há na casa. Recusa-se a sair dela mesmo quando tem que entregá-la ao seu novo dono. A presença do pai, Galib, é constante em sua vida. Reflexo ainda do que fora uma família feliz e do tempo em que vivia no restaurante do pai.

Yaqub é o filho pródigo. Seu retorno ao lar é imprescindível para o desenrolar da história. É calado, sensível, é o outro que aceita a sua condição. Sem opção é afastado da família como um apaziguamento necessário. Era preciso separar os gêmeos para haver paz, pelo menos aparentemente. Seu exílio serve apenas para afastá-lo mais ainda do irmão. O ódio aflorado ainda na infância torna-se mais presente quando o retorno se faz necessário. A sua volta ao casarão desestrutura novamente aquela família que vivia de uma aparente trégua. O conflito é interior. As marcas do ódio resumem-se a uma cicatriz facial, feita por Omar, em um momento de irracionalidade, movida pelo ciúme de Yaqub e Lívia. Percebe-se através do narrador a solidão de Yaqub, que o faz sentir-se um estrangeiro em terras distantes. Segundo Hatoum, o imigrante é um sujeito dividido, sofre de uma espécie de dualidade do lar, da pátria. Nesse sentido os dois irmãos funcionam como uma metáfora dessa dualidade. Um se identificando mais com o Brasil e o outro se sentindo estrangeiro, diferente, avesso a tudo que diz respeito à própria família. O seu segundo exílio é em São Paulo. É ali, que justamente encontra um objetivo mais sólido para a sua vida. O estudo. Forma-se em engenharia e logo despreza a ajuda familiar, passando a viver com o próprio trabalho. Essa recusa desperta em Zana a ofensa da mãe protetora. Criam-se mitos em torno dessa recusa: o filho é o exemplo a ser dado. Mas, que não serve de referência para Omar, que o despreza, ojeriza a sua condição. Rebela-se contra o outro como forma de protesto sem causa. Mostra uma postura que é o contrário do irmão exemplar, para desespero dos pais. Yaqub, no entanto, casa-se com Lívia, objeto de desejo dos gêmeos desde a infância. Este novo fato faz com que o irmão se desespere mais ainda. O ódio é renovado a cada êxito do irmão. Lívia é o prêmio. Yaqub sabe que se casando com ela, tira de Omar o seu sonho. E essa vitória sobre o outro, é omitida da família até que o próprio Omar, depois de um momento de revolta, revela a verdade para a família. Zana mais uma vez, como mediadora entre os irmãos, apóia Omar atribuindo a Yaqub toda a culpa.

Omar é diferente de Yaqub. Pelo menos na personalidade. O narrador surpreende-se com tanta semelhança e ao mesmo tempo, tanta diferença. É o Dândi contemporâneo. O boêmio das bebedeiras desvairadas, o ser inconstante, áspero e desesperançado, mimado, conquistador e revolucionário. É ele os olhos da mãe. O responsável pelas noites mal dormidas, dos vômitos pela casa, e desavenças entre Halim e Zana. Recusa-se a seguir os passos do irmão. A ser um exemplo como o outro. Da escola o único saldo positivo foi a sua amizade com o professor Antenor Laval. O relacionamento entre os dois desperta em Omar um sentimento que nunca sentiu por alguém, a amizade. E ele sofre quando o mestre é perseguido pela ditadura e logo a seguir morre deixando um saldo significativo entre os seus alunos e em particular, no próprio Omar. Revoltado com o mundo envolve-se com prostitutas, numa orgia desenfreada. Exila-se em sua própria casa, levando o corpo ao extremo, como meio de autopunição. Despreza a presença de Yaqub, quando este vem visitar a família, e parte para a agressão física contra o irmão, deixando-lhe no corpo a sua ira incontrolável. Hatoum expõe duas personalidades diferentes e incompatíveis. Não há o que perdoar. Ambos são mergulhados num mar de ódio incandescente, tornando-se inimigos mortais. E a vingança chega quando Omar decide que também precisa deixar a casa. A mãe ilude-se com a sua decisão. Acredita ser este o grande passo para uma mudança na vida de Omar. Tenta aproximá-los mais uma vez sem êxito. O próprio Yaqub rejeita qualquer possibilidade de aproximação. Percebe-se que o narrador dá ênfase ao personagem Omar, tornando-o especial na narrativa. Ele, que é o observador, odeia Omar da infância até a fase adulta. Ressente-se por não ter a certeza de ser ele ou Yaqub o seu pai. Chega a deixar explícito que prefere o outro a Omar. Com a morte da mãe, Omar abandona definitivamente o lar e termina preso por ter sido amigo do professor Laval.

Rânia é a filha misteriosa. Vive uma relação amorosa entre os gêmeos. Decide não casar, por simples capricho, desprezando todos os seus pretendentes, causando mal estar em sua mãe. Sua paixão pelos irmãos é intensa a ponto de determinar para si um homem que fosse a fusão dos dois. Rânia também é a paixão do narrador, que se deixa, através da maneira em que utiliza as palavras para descrevê-la, envolver por seus encantos de fêmea sensual. Em um determinado momento da narrativa, há entre eles um momento de maior intensidade e intimidade. Este, porém, é o único, mas significativo para o narrador personagem. Rânia reluta em casar-se e dedica-se exclusivamente em ajuda a Halim, o que aos poucos vai sendo este o seu maior apego na história. O trabalho passa a ser para ela a fonte inesgotável para dar sentido a sua vida. É ali, no ambiente comercial, em meio ao contato com diferentes comerciantes, que ela se sobrepõe igualando-se a eles sem distinção de sexo. Essa sua postura é necessária para suprir as necessidades da família. Halim transfere para a filha a sua obrigação, não por iniciativa e sim por não estar mais habilitado para comandar os negócios. E ela corresponde a todas as expectativas, mostrando-se capaz de salvar a família da ruína. Afinal, alguém tem trabalhar para manter o lucro e a sobrevivência, já que não há nenhum interesse de Omar em ajudar a família em nenhum aspecto. O seu tempo é limitado apenas ao trabalho exaustivo, sendo ajudada muitas vezes, pelo próprio narrador, que se vê diante de sua musa inacessível apenas pelo simples fato de estar ao seu lado. Percebe-se que em Dois irmãos, não há uma preocupação, de Hatoum, em mostrar uma história de amor e sim, conflituosa e psicologicamente dramática, onde se destaca, num todo, o íntimo de cada personagem. O amor é apenas o sinônimo para a solidão. Rânia se diferencia de outras personagens femininas, como as filhas de Talib (Zahia e Nahda), que eram sonhadoras e almejavam um dia casar e ter filhos, por desconstruir o papel da mulher na sociedade. Essa negação a sua condição, vai de encontro também à postura de sua mãe. Para Zana a filha é caprichosa e para tentar reverter este quadro, tenta a todo o momento arranjar-lhe um pretendente na esperança de vê-la casada. Este desejo, no entanto, nunca é realizado por Rânia que vê o tempo passar, como se observasse da janela aberta do velho casarão, num torvelinho de imagens desconexas, o tempo que não lhe diz mais respeito.

Domingas é a alma da casa. Índia que, ainda menina, veio morar na casa de Halim e Zana após ser adotada de um orfanato, onde passou por experiências desagradáveis. Sua presença na casa é fundamental para a construção da narrativa. É através dela que temos a presença do narrador. Nael é filho de Domingas com um dos gêmeos. Hatoum faz, talvez de forma intencional, com que o narrador se refira a Domingas de duas maneiras: pelo próprio nome e às vezes por ‘minha mãe’. Possuidora de uma postura determinante na casa, Domingas muitas vezes sai do plano inferior, no ponto de vista da personagem, e passa a desempenhar um papel que sobrepõe aos outros personagens. Seu silêncio implicitamente diz muito. A fala sai através dos olhos, do cuidado para com todos, especialmente para Yaqub, que quando se encontra em casa, recebe todas as atenções dela. Omar só recebe o mesmo tratamento, ou um pouco mais de atenção, quando chega bêbado das noites de orgias transcendentais, fazendo barulho, acordando todos os membros da casa. E essa postura é relatada pelo narrador que se questiona a todo o momento sobre a sua condição de filho bastardo. Essa incógnita, no entanto, não é relatada ao leitor, que por percepção, passa a crer na possível possibilidade de Nael ser filho do próprio Yaqub, o que também passa a ser o desejo do narrador, por simpatizar mais com Yaqub do que com Omar. É preciso observar que Hatoum desenvolve todo o núcleo da narrativa centrada na posição deste narrador. A dúvida o mantém atento. Mais uma vez Zana surpreende o leitor quando é ela que declara o nome deste narrador-personagem, no leito de morte. Naquele instante percebemos que Zana está ciente de sua condição de avó, e reconhece em Nael a continuação de sua família. Em relação a este fato Domingas não se manifesta. Ao ser questionada pelo filho sobre a possibilidade de ser ele o filho de um dos gêmeos, ela não lhe dar a resposta concreta. Deixa que ele continue a se indagar e chegar a conclusões vista do ângulo interpretativo, em que observa o comportamento da mãe com ambos os gêmeos. Essa interpretação confunde também o leitor que está atento e tenta adivinhar em primeira mão, bem antes do narrador. De Domingas, com quem compartilhava o quartinho nos fundos do quintal, o narrador nos diz que esta é uma mulher que não fez escolhas. Aparentemente, não escolheu nem mesmo o pai de seu filho. Domingas deixa a cena candidamente. Morre em uma rede tendo aos seus pés o filho amado, que se despede em silêncio, levando consigo o segredo em respeito à família.

Nael. Narrador-personagem que depois de trinta anos dos acontecimentos, conta os dramas que testemunhou calado. A postura do narrador é completamente participativa. Ele presencia a deflagração da família de uma posição privilegiada. Ele cresce no seio familiar como o filho de Domingas e não como filho de um dos gêmeos. Ninguém na casa chega a comentar essa posição de membro da família. É ele, que vai percebendo e analisando a sua condição. Racionalmente cria um enredo cheio de mágoas, tristezas, ódios aplacados e nenhum momento de harmonia familiar. Todos os personagens são revistos em sua verdadeira essência. Para Halim, ele é apenas uma criança que nasceu de uma grande estima. Para Zana a verdade é contida em silêncio. E mesmo sabedora da verdade, não é capaz de reconhecê-lo como membro da família. Trata-o como simples filho da empregada, a quem atribui obrigações. Para Rânia é o menino de Domingas, a quem viu crescer. Está ciente de seu desejo por ela e chega a corresponder a esse desejo, que não vai além de um beijo ou uma troca de carícias no recinto de sua loja. É vedada do leitor qualquer outra particularidade entre os dois. Mesmo após a morte de Zana, os dois partem para extremos diferentes. Cada um a sua maneira deu seqüência a suas vidas. Para Yaqub, Nael é especial, por ser ele, filho de Domingas. Há uma troca de afinidades entre eles. Yaqub é admirado por Nael, como um ser supremo em sua posição: engenheiro, inteligente, respeitado socialmente e culto. É o responsável pela inspiração de Nael em estudar e a ter êxito em sua vida. Nael espelha-se em Yaqub a ponto de desejar ser ele o seu legítimo pai. Distancia-se de Yaqub por este viver em São Paulo e reaproxima-se quando este volta para casa, fazendo desse reencontro sempre algo proveitoso e prazeroso para ele. Hatoum e Nael fundem-se na narrativa, diferenciando-se apenas quando é percebido pelo leitor atento. Uma tensão leve é a convidada cativa do texto de Hatoum, que se faz presente em todo o livro. As páginas a serem lidas vão rareando nas mãos e as soluções são, no máximo, indicadas. Aliando essa tensão à fluência textual, Hatoum nos conta uma história isenta de lições moralizantes ou advertências. E Nael é o elo entre os personagens e a história, como numa colcha de retalhos, que vai tecendo por caminhos diferentes, tantas histórias que se encontram num mesmo tear.

Sob o ponto de vista interpretativo da obra, percebemos que o narrador analisa todos os personagens num jogo de qualificação individual, atribuindo a todos eles, a sua concepção do que seja a família. Nenhum personagem é excluído na narrativa pelo seu grau de importância para a composição da história. Assim como, a contextualização do Brasil no início do século XX. Tudo está centrado ali em Manaus, a terra prometida para os milhares de imigrantes que vieram fazer do Brasil a sua nova morada. E este ponto de vista é retratado sob a ótica do narrado-personagem. Percebemos também que há um certo envolvimento dos personagens em relação ao narrador. Todos eles têm a sua concepção em relação também ao narrador, como foi abordado neste ensaio. O comprometimento de Milton Hatoum é exatamente o de compor uma obra em que se destaca pelo teor de verossimilhanças contidas nesta obra. Abordar um tema que já não é novidade na literatura é por diversas vezes, motivo de repetições mantendo o patamar da mesmice. É o que não acontece com Dois irmãos. Sua subjetividade transforma a trama atribuindo a ela, uma nova roupagem com elementos que a torna uma obra literária. Neste contexto em que se é discutido o papel do cânone literário, é imprescindível o surgimento do novo em relação ao que já foi composto. Diferentemente contrário ao que já foi afirmado, em que na atualidade nada há de novidade na literatura e que tudo já foi dito, Hatoum desconstrói essa mesmice e a transforma em não em uma novidade, mas em uma nova maneira de dizer o que já foi dito utilizando-se de uma narrativa concisa, atribuindo valores e elementos já vistos em autores de grande importância para a literatura brasileira. A precisão de uma revisão canônica deve, primeiramente, atentar-se para autores cujo talento é reverenciado em obra, na sua concepção, para uma nova seleção literária com o comprometimento de manter uma literatura de qualidade que se perpetue ao longo do tempo. Assim é Dois irmãos de Milton Hatoum.

GINALDO SANTOS SILVA é formado em Letras Português/Inlgês

Pela Universidade Tiradentes. Atualmente é aluno do curso de Pós-

Graduação em Literatura Brasileira pela Faculdade Atlântico.

ginaldo
Enviado por ginaldo em 14/06/2008
Código do texto: T1033504
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