POLITICAGEM= EMBROMAÇÃO E MANIPULAÇÃO

Em terra de coronéis, como historicamente se classifica a nossa região, fazer política sempre significou manipular o povo em busca de votos para si ou para apaniguados. Nesse mister, famílias pertencentes às elites se tornaram especialistas em produzir políticos expertos em usar e abusar dos anseios, das emoções, da carência do povo.

O baixo nível de escolaridade e de politização de grande parcela da população é o combustível que mantém esse processo – eis aí uma grande razão para não se investir na educação, pois, educar o povo significa abrir-lhe os olhos para a realidade que o cerca. Nesse processo de manipulação política destacam-se exemplos claros de usurpação de funções do Poder Executivo por membros do Poder Legislativo municipal, como veremos adiante.

Foi assim ao longo dos tempos. Poderíamos nos dar por felizes se tudo isto fizesse parte de um passado longínquo, se fosse apenas uma fatia da nossa trajetória histórica: mas não é; o que parece fazer parte do coronelismo de meados do século XX existe em nossos dias.

Ainda há práticas políticas nas quais os resquícios do coronelismo são evidentes. É óbio que para toda regra há exceções. Nem todos os políticos são iguais, entretanto, ainda é comum encontrarmos, em cidades da nossa região, vereadores que consomem o tempo de seus mandatos com embromações e politicagens. E por falar em manipulação, a fim de evitar especulações, quero declarar que nunca fui nem sou candidato a nenhum cargo eletivo.

Em resposta à população, que em tese os maus parlamentares representam, estes costumam atender sempre através de favores individuais. Essa prática costuma ser mais escandalosa ainda quando um vereador hipócrita e desonesto tem total apoio de um prefeito do mesmo quilate. Quantos casos já ouvimos falar de parlamentares municipais governistas concedendo, a bel-prazer, favores sob a égide do Poder Executivo? Essa prática já existiu, inclusive, em Montes Claros e, o que é pior, num passado recente!

O município de Montes Claros já foi cotizado em áreas específicas para os vereadores governistas, nos moldes da constituição de currais (feudos) eleitorais. Era uma espécie de “loteamento”, cujos lotes eram entregues a vereadores governistas que passavam a reinar como mandatários: mantinham o controle dos seus sequazes através de benefícios que o Poder Executivo lhes permitia apresentar em seus nomes.

O vereador governista, dentro do seu “curral eleitoral”, indicava correligionários seus a serem contratados como funcionários do município, especialmente no setor de educação; apresentava em seu nome pequenas reformas de ruas e praças; no meio rural apresentava, também em seu nome, pequenas e mal-acabadas reformas de estradas, especialmente aquelas estradas de interesses particulares dos seus bajuladores.

Os correligionários costumavam receber, como prêmios, materiais de construção, caixas d'água de uso particular, tubulação hidráulica, padrões de energia elétrica, dinheiro, tratamento de saúde (inclusive esterilizações de mulheres), etc. Até programas dos governos federal e estadual, obtidos pelo município, quase sempre eram direcionados para atender única e exclusivamente aos aduladores da horda governista e apresentados aos beneficiários, com alarde, como uma aquisição exclusiva do vereador. Aos adversários políticos restava a indiferença e até mesmo a perseguição! Hoje, no atual governo de coalizão centro-esquerda de Montes Claros, sabe-se que a prática da política dos favores não encontra respaldo pelo Poder Executivo: se há vereador que adota essa prática, o faz por si próprio...

É preciso que cada um adquira consciência do exercício pleno da cidadania e que saiba distinguir o que é de responsabilidade do Poder Executivo e o que é do Poder Legislativo. Ainda existem, neste Norte de Minas, vereadores que manipulam líderes comunitários e, através deles, as entidades comunitárias, com falsas promessas ou com migalhas de benefícios distribuídos na condição de obséquios.

É de suma importância que o povo aprenda a fiscalizar a atuação política dos seus vereadores, para confirmar se eles estão de fato trabalhando em prol dos interesses da coletividade. Cada cidadão precisa aprender a verificar se seus vereadores não estão apenas fingindo trabalhar, apresentando projetos sem nenhum (ou de quase nenhum) interesse coletivo; se eles não vivem tão-somente produzindo uma enxurrada de homenagens a pessoas isoladas – objetivando futuros financiamentos de campanhas e/ou dividendos através de votos –, se não vivem embromando com simples proposições de nomes de ruas ou coisas do gênero...