Aula 15 - Desenvolvimento Econômico-Social Global

Desenvolvimento GLocal com “ajuda dos universitários”

Agora se discute o conceito de desenvolvimento. Os defensores do capitalismo dito “selvagem” tentam convencer de que é sinônimo de crescimento, mas até o velho Aurélio sabe que não é assim. Progredir, prosperar, produzir... esses sim podem ser seus sinônimos, pois o conceito de desenvolvimento deve contemplar, por definição, o aspecto social, e não só o econômico, sob pena de se estabelecer como uma definição parcial, incompleta e, evidentemente, enviesada. Depois de conseguir esclarecer a amplitude e a complexidade do conceito, a preocupação passa a ser a concretização da idéia. “Por que algumas regiões não se desenvolvem?” e “Como uma região pode passar a se desenvolver?” são as questões-chave, uma mais teórica e outra mais aplicada, e ambas precisam da “ajuda dos universitários” para serem satisfatoriamente respondidas.

Algumas regiões não se desenvolveram, mas sim se subdesenvolveram por conta de uma forma perversa de crescimento econômico, potencializada pela globalização da economia, que gerou um aumento da renda da população, mas com uma concentração de poder crescente, tendo como contrapartida o processo de exclusão social. Essa concentração do capital ocorre tanto entre a população ou as empresas de um mesmo país ou região, como entre países, como entre empresas de países diferentes. E o novo jeito de organizar a sociedade, pela imitação irrefletida (burra) de um padrão de vida de outra cultura incutido nas mentes dos consumidores pela propaganda e onipresença homogeneizadora das transnacionais, só reforça esses graves problemas de desajustamentos gerados pelo subdesenvolvimento.

O desenvolvimento propriamente dito leva a outro caminho, que beneficia o conjunto da sociedade, pois é orientando por preceitos éticos. O conceito não precisa dos habituais adjetivos, pois sua definição já inclui a necessidade de ser local, humano, sustentável e endógeno. “O desenvolvimento não é apenas um processo de acumulação e de aumento de produtividade macroeconômica, mas principalmente o caminho de acesso a formas sociais mais aptas a estimular a criatividade humana e responder às aspirações da coletividade”. “O desenvolvimento local é um processo endógeno registrado em pequenas unidades territoriais e grupos humanos capaz de promover o dinamismo econômico e a melhoria da qualidade de vida da população”.

Esse processo começa pela tomada de consciência dos patrícios quanto à sua própria capacidade criativa como indivíduos transformadores da sociedade, como poupadores de recursos, empreendedores de negócios e desenvolvedores de tecnologias que podem “libertar” o país e a região da dominação (sim, legitimada) do consumo de produtos não-locais trazidos pela globalização do comércio e da economia. Assim, ao serem resgatados os valores e sistemas simbólicos das coletividades culturais, se descobrem as potencialidades criativas, e se enriquecem e valorizam como detentores de uma qualidade especial e exclusiva o universo local, a cor local, o “cidadão local”. Coisas como “eu só compro Polar porque ‘a Polar é daqui’”, ou escolhi este tinto porque é "do vale dos Vinhedos", ou "fui visitar os nossos cânions, maravilhas da natureza". Na operacionalização dos negócios, as empresas se obrigam a defender sua posição no mercado aprendendo coletivamente e inovando e continuamente, e aderem a estratégias como a especialização flexível e a personalização/exclusividade dos produtos, que também valorizam a produção local. Com isso e o aumento da capacidade de tomar decisões locais, se fortalece o mercado interno e se expande a inserção internacional da produção local, e finalmente se encontra o caminho para a superação do subdesenvolvimento.

As universidades têm papel fundamental de apoio nesse processo de desenvolvimento das regiões a que se declaram "pertencentes". Elas podem e devem mediar a criação e a difusão, para os cidadãos e empreendedores locais, do conhecimento quanto à tecnologia e sua transferência, especialmente para pequenas empresas e para as de incubadoras; quanto à formação e inserção profissional de pessoas de nível técnico e científico preparadas para tomar parte em processos de pesquisa e inovação; e quanto à conscientização sobre valores éticos e relativa a questões como “Por que nossa região ainda não está bem desenvolvida?” e “Como nossa comunidade pode agir para concretizar esse desenvolvimento?”. É necessário ter sociedades locais informadas, motivadas, possuidoras do conhecimento mínimo para entender o próprio processo globalizador, e socialmente organizadas para atuar inovativamente o desenvolvimento.

Uma questão que poderia incentivar o debate sobre o tema seria:

Turismo regional e tecnologia serão os motores do desenvolvimento nas regiões hoje deprimidas do país (já que são atividades econômicas que se ajustam com coerência à amplitude do conceito e aos “passos” para a sua concretização)? Eu chuto que sim!

01/07/08