Leitura e polêmica

Nunca condenei os indivíduos tidos por polêmicos. É que, neles, encontro uma pueril característica: vomitar aquilo que todos têm vontade de vomitar, não faltando a coragem para tanto. É óbvio que, por vezes, tais criaturas agem detestavelmente. Não é mérito desta feitura tratar do que seria “detestável” à realidade dos polêmicos e, sim, da necessária assimilação de um quê dos polêmicos.

É raro não encontrar riqueza no polêmico. O polêmico é quebra e esta, por sua vez, é importante, nem que seja tão-somente por ser ela responsável por uma reflexão sobre tudo-isso-que-está-aí. A quebra, pois, não é necessariamente quebrar. Em sentindo amplo, pode-se dizer que pensar na possibilidade de quebra já significa quebrar. Quebra, nessa acepção, é, sempre, profícuo. Esta é das regras que não logra excepcionalidades.

É crível a afirmação de que tanto o sábio quanto o desvairado refletem sobre a quebra. Ambos são admiráveis quando focada esta ótica. A diferença entre ambos surge do após isso. O sábio rompe, usualmente, quando deve romper – entenda-se: quando as reflexões mostraram sê-lo positivo. E tal acerto deriva do fato de ele ser sábio. O desvairado, não. Este rompe quase sempre. Alguns, sempre. E mesmo quando cônscios de que não estão em um bom caminho. Estes, consoante o popular, são polêmicos. Estes só devem ser parcialmente balizadores.

O ser humano importante deve acordar a tal diferenciação. E, acordando a tal diferenciação, chegará ao entendimento de que é preciso ser polêmico. E, mais ainda, entenderá que é imbecil fazer parte do grupo polêmico-social. Mas, ainda mais imbecil, é não fazer parte de nenhum dos grupos.

Ser polêmico-sábio é pensar e, quase sempre acertadamente, exteriorizar tal pensamento, lutando pela sua cristalização no seio social, seja de que forma for. É ser promotor. É ser promotor de uma realidade pensada e, não sendo de imediato frutífera, igualmente importante. Por ter sido pensada, sendo digna ou não, naturalmente, algo proveitoso há de suscitar. O erro fruto da reflexão é um bom erro. É um erro que, inevitavelmente, levará a uma verdade; ou um erro que, um dia, há de ser uma verdade. Ambos os polêmicos, então, são admiráveis; um mais do que o outro. Este reinará por estar quase sempre acertado, como dito.

Quem não polemiza é um morto-vivo. Melhor ser o criticado polêmico-social do que não polemizar nada; do que ser um morto-vivo. Aquele, vez por outra, cravará a sua marca na prosperidade. Este será sempre mentalmente equiparável a lhufas; destituído das mais insignificantes utilidades. Pode-se dizer que aquele anda meio caminho, ao passo que este vive fixo à vagueza.

É preciso extirpar da mente dos indivíduos a idéia de que a polêmica pertence aos loucos, aos socialmente desprezíveis. A polêmica fez e continuará a fazer parte da trajetória dos homens insignes. Não há verdade que não possa ser posta à face de qualquer que seja o indivíduo/sociedade. Há formas distintas de levar tal verdade. E o sensível entenderá como trabalhar tal forma em face de qualquer contexto.

A sabedoria não consiste em proferir verdades arrebatadoramente. Tal característica deve residir à alma dos tolos. Sabedoria, de fato, é proferir verdades com ares ajustados aos contextos. E, por fim, para entender da produção de verdades, caminho melhor que o livro ainda não existe.

Marconi Lustosa
Enviado por Marconi Lustosa em 08/07/2008
Reeditado em 18/08/2008
Código do texto: T1070453
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