EM DEFESA DA VIDA

 

 

“E a vida? E a vida o que é diga lá, meu irmão?” Uso os versos de uma canção do saudoso Gonzaguinha para refletir sobre o tema proposto pela CF – 2008: “Fraternidade e Defesa da Vida”, e o lema “Escolhe, pois, a vida”. 

Mas o que é a vida? Quando ela começa e quando termina? “Desde a Antiguidade os fenômenos da vida têm sido caracterizados com base em sua capacidade de autoprodução (...) com base na espontaneidade com que os seres vivos se movem, (...) não depende de coisas externas”. (ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia, p.1001).

 

A visão cristã da vida e do universo, e com ele, a de toda a criação e as diversas manifestações de vida, reforçam este conceito e nos faz um chamado desafiador – defender a vida em todas as suas fazes. A vida, em suas diversas faces, pede socorro, e nos faz compreender a urgência de novas atitudes, novo jeito de ser na condução dos rumos do planeta. Vivemos o dilema da fragilidade da vida em meio às esperanças, as descobertas que garantem a longevidade.

 

Se por um lado a ciência descobre meios de nos fazer viver cada vez mais e melhor, por outro nunca a humanidade viu tanto desrespeito a vida.  Convivemos com a fome, a exclusão social, a agressão ao ecossistema, à intolerância em meio aos diversos sinais de violência; enfim, ao estado de negação da vida. O registro desta radiografia social mostra que estamos na contramão da DEFESA DA VIDA.

 

Nossa história é alimentada por um comportamento de caráter individualista e pouco solidário, que se configura na concentração de renda geradora de quase todas as violências. O Brasil continua sendo um dos países com maior número de desigualdades no mundo – 1% mais rico tem renda igual à dos 50% mais pobres. O acúmulo de uns leva a falta para outros. Faltando renda, falta dignidade, falta vida. A renda, numa lógica de mercado, significa sobrevivência. Portanto, quem não a tem, seja no campo ou na cidade, compromete ou não tem garantida sua sobrevivência.

 

A fragilidade da vida, dentro dos aspectos fundamentais que compõe a extensão de sua dignidade, cria situações em cadeias que vão se revelar no tecido social mais amplo. A quem tudo ou quase tudo é negado, sobra a rua, o subemprego, a marginalidade. A realidade aqui apresentada consolida uma desconsideração histórica de governos, e da sociedade como um todo, no que diz respeito à vida.  No campo e nas cidades a vida pede socorro para se fazer digna e justa.

 

As políticas e ações de inclusão social têm um longo caminho “de volta” a percorrer! Construímos com os recursos chamados públicos uma sociedade do privilégio, exclusivista; negadora da VIDA. Tudo que nega a vida deve nos incomodar. É um chamado de atenção para a mudança de rumos. Precisamos admitir que as circunstâncias são reais, porém, desafiadoras.

 

É preciso defender a vida, desde o ventre materno da mãe mulher, como da mãe terra, possibilitando a explosão da vida em toda sua extensão. Somos convidados a abraçarmos de forma apaixonada a bandeira da vida, de fazê-la tremular no resgate que dito por Gonzaguinha, de que ela, a vida “é um Divino mistério profundo, é o sopro do Criador numa atitude repleta de amor”.

 

 A Campanha da Fraternidade 2008- Fraternidade e Defesa da Vida - nos convoca a reconstruir o caminho, um fazer com que a vida seja realmente viva, mas junto com esse convite, a campanha da fraternidade também nos obriga a refletir sobre temas que preferimos jogar para debaixo do tapete como: aborto, eutanásia, pílula do dia seguinte, etc. Não podemos falar de vida deixando de lado estas questões que estão diretamente ligadas aos conceitos que temos de vida.

 

 

Da Série: Artigos Sobre os Temas CF 2008, escritos para o Caderno Expressão da Gazeta do Oeste.

 

* Imagem: http://www.fotosearch.com.br/DGT090/42-17334119/
Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 12/07/2008
Reeditado em 22/10/2009
Código do texto: T1077339
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