Simplesmente amor para um desenvolvimento sustentável

O homem é um ser de falta. Somos pura carência, pura necessidade em todas as fases da vida. Não existe um ser humano que seja completo. A completude, a perfeição, a inteireza está longe de ser alcançada pelo homem. Mas nós buscamos por isso. Incessantemente. Mesmo sabendo que não iremos alcançar este tão almejado topo onde imaginamos nos satisfazer com tudo e todos.

Queremos ser bons naquilo que fazemos, almejamos a perfeição, aspiramos a totalidade, mas se há algo impossível este algo é a completude e a inteira satisfação humana. Satisfação no sentido de findarmos um projeto e sentir que não precisamos de mais. Sentir que podemos parar e contemplar a obra realizada, mesmo que não seja tão perfeita quanto esperávamos.

Talvez o que nos falte seja isso: aprender a contemplar a obra realizada. Contemplar o que temos, simplesmente ver e se alegrar com a vida. Mas a idéia de produção, de desenvolvimento e a idéia de ‘mais’, de quantidade, sobressai à idéia de qualidade, de melhor, de perfeição, de bem.

Nós não precisamos de muito. Nos aspectos biológico e material carecemos do suficiente. O bastante para assegurarmos nossa vida, garantirmos nossa sobrevivência e mantermos nossa espécie longe da extinção. Tão próxima e tão possível.

É preciso lembrar que o homem não é só corpo, não é só matéria. Somos espírito, somos mente. E isso também precisa ser alimentado. E há no interior do homem um vazio que não sabemos ao certo como preencher. Daí a busca desenfreada por aquilo que conseguimos enxergar, por aquilo que nossa visão capta de imediato. É o visível, o aparente, o real, o concreto que vamos desejar. Como almejar aquilo que nossa percepção não consegue apreender? E ao desejar, imaginamos que ao conseguirmos tal coisa estaremos preenchendo esse imenso vazio em nosso interior. Pobre ilusão.

E vivendo nesta perspectiva do concreto, do material estamos simplesmente criando excessos que estão literalmente matando nossa vida, nossa existência, nossa felicidade, nosso tempo, nossa paz. É exatamente o excesso que nos sufoca e domina. Não é o homem que possui coisas. São as próprias coisas que possui o homem. Somos dominados por tudo que temos. Somos arrastados, sufocados pelos negócios, pelos objetos, carros, máquinas etc. Estamos presos numa cela criada por nossa própria incapacidade de sermos simples.

A promessa, do desenvolvimento tecnológico, de que as máquinas diminuíram nosso tempo é o sonho inútil que ainda alimentamos. E diante de tanta res, esquecemos de sonhar com o desenvolvimento intelectual, emocional, intuitivo, moral e ético. Eis um sonho, desejado por poucos, mas útil.

Fala-se em desenvolvimento tecnológico, desenvolvimento científico, desenvolvimento da robótica, da genética, mas pouco se fala sobre o desenvolvimento da espiritualidade, do intelecto, das emoções. Quando se fala em desenvolvimento humano, em Educação, a proposta que vemos é de uma educação, na verdade, um adestramento do humano para lidar com coisas. Educa-se, melhor, adestra-se o homem para entrar no mercado de trabalho, para criar coisas, desenvolver cada vez mais não sei o quê nem para quê. A reciclagem humana, termo que me dói na alma, tomou o lugar da aprendizagem. Porque aprender não é só nos primeiros anos da infância e adolescência. Aprender é por toda a vida, enquanto houver vida.

Já estamos vivendo o desenvolvimento. Tudo está desenvolvido se compararmos a outras épocas. É certo que mais coisas podem ser criadas, assim como novas tecnologias podem ser desenvolvidas. Ótimo. Mas daí eu pergunto. Para quê? Para onde vamos com tantos avanços, com tantas melhorias, se paralelamente não conseguimos desenvolver uma atitude ética que nos permita, ao menos, que todas essas criações, todo esse desenvolvimento, possam ser usufruídas por nós com alegria e por gerações vindouras de modo sustentável.

.................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. Não adianta chorar. É preciso fé e coragem... Agir sem esperança , diria Sartre.

Na verdade o que nos falta não é mais conhecimento, mais recursos, mais verba, mais tempo, mais espaço. Nada disso vai preencher nosso vazio. ‘O mais’ não tem o poder de nos acalmar, nos sossegar, nos satisfazer. O muito, o maior, o mais caro, o mais demorado, tem sido a marca da miséria humana. Todos esses excessos têm sido causa de grandes conflitos, seja a nível pessoal, econômico, político, ambiental e social.

Creio, porque é preciso crer em alguma coisa, que o que possa satisfazer o ser humano seja a atitude contemplativa diante do mundo, o simplesmente ver e o olhar para dentro de si, tomar posse não de coisas, mas de si mesmo. Dominar pessoas, um negócio, o mundo, talvez não seja tão difícil quanto dominar a si próprio. Assim como conhecer uma máquina seja mais fácil que conhecer quem realmente somos e o que efetivamente queremos. Talvez o retorno às coisas seja mais simples que nos voltarmos para nosso interior. É preciso deixar de ver o visível para tentarmos enxergar o invisível. Esse invisível que nos inquieta, nos angustia, nos faz amedrontar, mas que devemos dominá-lo. Eis algo que todos deveríamos dominar: a si mesmo.

Cuidamos de tantas coisas, mas não cuidamos da nossa mente. Somos capazes de passar o dia inteiro diante de uma tela de computador, mas incapazes de nos voltarmos alguns minutos para nós mesmos e tentar ao menos compreender o que é este vazio. O que é que realmente nos falta?

Talvez a única coisa que precisemos de muito seja a justa-medida, a moderação. Colocaria então esse comedimento como um desafio à raça humana. Nem tudo e nem nada. Nem muito e nem pouco. Mas o suficiente, o bastante para mantermos o verde e o vermelho da vida em nosso planeta; para deixarmos nosso Éden florido, local onde o Senhor Deus colocou o homem para lavrar e guardar (Gen. 2,15).

Será a justa-medida o caminho para um desenvolvimento sustentável? Não! Ainda que tenhamos justa-medida, ainda que sejamos comedidos, se não existir amor, nada fará sentido. Não há vida sem amor. Eis o que simplesmente nos falta: Amor. Amor à vida. Amor próprio. Ao próximo e ao nosso meio ambiente. Simplesmente Amor...

Silvia Santana
Enviado por Silvia Santana em 15/07/2008
Código do texto: T1081408
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