MAS...QUAL É MESMO O SEU NOME?

Sempre que opto pela categoria "ensaio" me pergunto se expressarei uma opinião, um sentimento, uma visão abstrata, uma ficção apenas minha, ou uma realidade.

Ainda ontem numa entrevista televisiva, perguntaram a um escritor qual era o critério da sua inspiração para um determinado tema escolhido e trabalhado nas letras.

E ele dizia que os temas brotam complexamente, das idéias , dos acontecimentos do dia a dia, e disse algo deveras interessante que é exatamente o que acontece comigo: O tema sai da vida, bate na percepção e fica ali te martelando como uma "pulga atrás da orelha", e eu pensei:"nossa é exatamente assim comigo e eu não sossego enquanto não cato a pulga e a mato!"

E hoje li num desses anúncios de internet, aqui mesmo no recanto:

"Click aqui...e ganhe um namorado em apenas cinco minutos"

Aquilo me chamou a atenção dum modo tão instantãneo, que achei cinco minutos uma eternidade. E como sempre, cá estou eu para comentar...e matar a pulga!.

Não sou antropóloga, mas com certeza o ser Homem é a espécie que mais se adapta às transformações, a toque de caixa, dos costumes.

Em quarenta e oito anos de vida, não sou antiga o suficiente para não "mostrar os joelhos", mas também não tão jovem para não estranhar certas propostas como essa, a de namorados instantaneos ao toque dum click!

E virtuais, ora essa! Pior ainda!

Mas que coisa mais sem graça!

Então me lembrei recentemente que peguei uma conversa andando e que não era nem comigo mas que não foi possível não ouvir, posto que as pessoas ulrtimamente não respeitam muito a tal da privacidade: nem a delas e muito menos a de quem está ao lado, não querendo ouvir.

Mas uma mulher já madura, dizia que se relacionou intimamente com outro alguém (num primeiro encontro) e que havia se "chocado" com a falta de intimidade e de sentimento, e então parou a coisa antes de começar.

Naquele dia senti um mal estar no lugar dela, era a tal da "pulga atrás da orelha" , que já estava lá me azucrinando para escrever sobre o assunto.

E me perguntei:Por que tanto espanto nessa constatação por parte de alguém que já caminhou um bom tempo pela vida?

Será que ainda acredita em Papai Noel?

Como se demonstrar sentimento e AFETIVIDADE num primeiro encontro de estranhos cujo instrumento de contato foi a INTERNET?

Sinceramente, o que as pessoas podem esperar disso? Um pedido de casamento à primeira vista?

Mas nem nos filmes!

Só pode dar no que deu...a sensação de ser um saco de batatas...deve ser isso!

Foi aí que percebi que maturidade cronológica não significa maturidade emocional.Estamos muito longe disso!

Não estou aqui a criticar quem opte por essa ou aquela forma de relacionamento, absolutamente, mas sim o quanto a opção lhe será gratificante ou não, e o custo posterior de se sentir um estranho sem ninho...

E o que tenho percebido, é que as pessoas quase sempre saem muito decepcionadas e desintegradas de determinados relacionamentos, como se pedissem um prato exótico num restaurante, e dele desistisse na primeira degustada...

Por indigestão!

E então, me pergunto o que as pessoas na sua maioria estão procurando.

A resposta deve diferir muito entre homens e mulheres, mas sinto que na realidade ambos procuram pela mesma coisa, não muito fácil de se achar: Amor. Embora neguem de pés juntos.É mais fácil e mais prático... negar.

Podem achar de tudo por aí, mas amor instantaneo seria desqualificar um sentimento tão nobre!

Porque amor é construção, demanda tempo, demanda conhecimento, demanda investimento, demanda procura, demanda entrega, demanda compromisso, demanda projeto de vida...e só depois se transforma em troca, em experiência plena e gratificante entre dois seres únicos mas intimamente coaptados.

Mas percebo que a palavra "namorado" não está necessariamente atrelada ao amor.

Anuncia-se como produto de consumo...e agora pior ainda um "fast consumo", dando a impressão de algo mais que descartável!

Parece-me mais uma convenção social, como o são tantas outras que não necessariamente significam felicidade e plenitude.

Triste ver isso! mas deve ser triste para mim e para outros que têm um modelo de comparação, quando os passos e os degraus de outras épocas eram conquistados paulatinamente.

A atual geração entende o fast como normal.

E o sexo, que na minha geração ainda era um modelo de entrega mais seletivo, mais apurado, conquistado e mais degustado, agora é atropelado.

Vem na frente de tudo para depois as pessoas perceberem tristemente que faltou afetividade.

Detonam-se antes de se conhecerem e cobram do outro aquilo que também não têm para dar.

Então eu pergunto: O que buscamos é AMOR ou ACESSÓRIO?

É a plenitude do corpo ou da alma?

É realização ou é convenção social?

É algo perene ou algo descartável?

É realidade ou é ficção?

É fast-satisfação ou fast-rejeição?

É identidade ou superficialidade?

É um entretenimento...ou uma história de vida?

Enquanto pensamos, há quem no fast-tudo da vida se esquece até de se identificar:

-Mas...qual é mesmo o seu nome?