A PÍLULUA DO DIA SEGUINTE – ANTICONTRACEPÇAO OU ABORTO?

 

            O que é e como age a Pílula do Dia Seguinte? A Pílula do Dia Seguinte é um preparado a base de hormônios (pode conter estrogênio, estrogênio/progestogênio ou somente progestogênio) que, dentro de e não mais do que 72 horas após um ato sexual presumivelmente fértil, tem uma função predominantemente "anti-implantação", isto é, impede que um possível ovo fertilizado (que é um embrião humano), agora no estágio de blástula de seu desenvolvimento (cinco a seis dias depois da fertilização) seja implantado na parede uterina por um processo de alteração da própria parede. O resultado final será assim a expulsão e a perda desse embrião.

 

A pílula do dia seguinte é, portanto, um eficiente método para evitar a gravidez quando ocorrem situações que não estavam programadas. Por exemplo, quando a camisinha se rompe ou a mulher é vítima de estupro. Como todo método, há uma margem de falha: mesmo se ingerida de acordo com as recomendações, ela não consegue evitar a gravidez em 2% dos casos. Outra coisa: é mais eficiente quando a mulher usa a pílula logo nas horas seguintes ao ato sexual.

 

Este método é recomendado apenas em situações de emergência. Se ingerida com freqüência, pode ser prejudicial ao organismo, provocando grandes alterações menstruais e gerando problemas como náuseas, enjôos ou vômitos.  Para alguns juristas e a Igreja católica esta é uma prática criminosa e não deve ser utilizada em nenhuma hipótese. Para estes a pílula seria mais um método abortivo, o que no Brasil ainda é crime.

 

Como tudo que envolve a vida este também é um tema polêmico, porque trás de volta questões como: quando começa a vida? A mulher tem direito sobre seu corpo? É correto expulsar “vidas” indefesas do útero materno? Considerar a pílula do dia seguinte um abortivo é assumir o conceito de vida desde a sua concepção.

 

Desde o surgimento dos anticoncepcionais a Igreja Católica tem se posicionado contra todo e qualquer método anticoncepcional. O sexo tem que assumir seu papel de reprodução e o Estado deve ajudar às famílias em seus planejamentos familiares. Este ano, reafirmando sua luta contra o aborto e todas as formas de negação da vida (dentre seus princípios, claro) a Igreja católica trouxe a tona um leque interminável de temas polêmicos e tem nos “obrigado” a falar de assuntos que incomodam, desafiam e nos tira da comodidade de não pensar sobre isso.

 

Em pleno século vinte e um é possível pensar no sexo apenas como meio de perpetuação da espécie? Em caso de resposta negativa, é possível assumir uma postura de sexo pelo sexo e só depois pensar nas conseqüências? Creio que são posições extremadas e que existe ai um meio termo. Independente do que penso sobre aborto ou pílula do dia seguinte, eu defendo o sexo seguro, maduro e responsável.

 

A CF 2008 oportuniza-nos um grande debate. Nunca fomos tão “convidados” a pensar sobre a vida. Mas precisamos lembrar que a defesa da vida não pode ser direcionada apenas em sua fase pré-natal. É importante, para quem condena o aborto e/ou a pílula do dia seguinte, lutar contra estes métodos, mas é imprescindível lutar pela vida pós-parto.  Não podemos esquecer que nascer não significa viver. O nascimento não garante a vida, apenas assegura a existência. Mas viver é mais, muito mais que existir. Cada um assuma sua causa, defenda seus pontos de vistas, lute por aquilo que acredita, mas não esqueçam que a vida é mais que um conceito.

 

Na ponta extrema da questão está o debate sobre a eutanásia. Mais uma grande polêmica travada entre religiosos, juristas e ativistas. Até que ponto deve-se “segurar” a vida? Ate que momento é justo impedir a chegada da morte?  De novo vem a necessidade de sabermos bem o que acreditamos ser a vida. Será a vida apenas o caminho que percorremos entre o nascer e o morrer? Ou melhor, entre ser concebido e morrer?

 

Existem muitas questões envolvidas. Muitas ciências buscam responder estas questões. A Medicina tenta encontrar meios de prolongar a vida, a Bioética tenta oferecer respostas seguras e afastar o “monstro” da manipulação da vida a serviço da ciência, a Filosofia procura oferecer luz a este caos, o Direito tenta normatizar e “coibir” práticas abusivas.

 

E tudo isso, somado as escolhas, as dúvidas, os medos, os questionamentos povoa a cabeça feminina, que em última instância é quem toma a decisão. É ela que carrega a vida em seu ventre, é ela que “decidirá” pela vida ou pela morte. Mas sua decisão não é isolada, pessoal, há uma pressão externa que a empurra para decisão, que será sempre fruto dos conceitos construídos ao longo de sua vida e do momento que ela atravessa. Independente de sua escolha ela estará marcada por toda vida.

 

Encerrando este série de artigos sobre os temas da CF 2008, gostaria de pensar na vida como um bem inviolável, seja no útero ou fora dele, um bem que deveria ser bem cuidado e valorizado, que não deveria ser agredido por nenhuma forma de violência, que todo ser humano pudesse ter comida, educação, segurança, moradia, trabalho e lazer. Que viver não fosse apenas um verbo mal conjugado, ou conjugado em tempos errados, mas uma realidade para todos. Que a exclusão social fosse apenas artigos guardados em algum museu, e a humanidade caminhasse segura em direção a vida, sem medo de morrer. Utopia?  Talvez, mas eu continuo acreditando...

 

 

* Da Série: Artigos Sobre o Tema da CF 2008, Escritos para o Caderno Expressão da Gazeta do Oeste.

**  Imagem pesquisad no http://www.fotosearch.com.br

Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 29/07/2008
Reeditado em 22/10/2009
Código do texto: T1102804
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.