A Violência nossa de cada dia

"No meu front ocidental, tenho 100 mil soldados e um derramamento de sangue que não cessa. No meu lado oriental, tenho apenas um velho homem, e nenhuma gota de sangue foi derramada". (Mountbatten Comandante inglês falando sobre Gandhi e a guerra civil na Índia)

Existe um assunto o qual todos os dias nos deparamos várias vezes com ele. Está no noticiário da TV, no jornal, no rádio, na conversa com amigos, vivenciado de perto ou a distância, não há mais quem seja imune ao problema da violência, de crianças recém nascidas jogadas em lagoas a idosas assassinadas por seus netos, passando por jovens estupradas por menores de idade, a violência é uma triste realidade.

Informações divulgadas por um pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (uma das mais conceituadas do país) dão conta de que o Brasil gasta mais de 100 bilhões de reais por ano com segurança, o que equivale a 10% do seu produto interno bruto (PIB), sendo que 60% desse valor é gasto pela iniciativa privada, numa preocupante inversão de valores, uma vez que o artigo 5º da constituição federal diz que todos têm direito, entre outras coisas à vida e a segurança e o artigo 144º é expresso: “A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos”.

Enquanto isso assistimos a uma verdadeira guerra civil, principalmente nas grandes cidades. Em 2006 o número oficial de assassinatos no Brasil foi de 44.663 mortes, isso é duas vezes e meia o número de mortos na guerra do Iraque. Dados recentes mostram que no Rio de Janeiro o número de mortes causadas por policiais é 10 vezes maior que o número de homicídios de Nova York, maior metrópole do mundo, mas com uma população menor que a da “cidade maravilhosa” e onde foi instalado um bem sucedido plano de segurança pública, chamado tolerância zero, com maior rigidez nas punições e aumento do contingente policial (melhor remunerado e preparado que o nosso).

Estamos acompanhando nos últimos tempos uma tentativa desesperada por parte de alguns cidadãos de se isolar da realidade e da violência. Pessoas com mais condição financeira passam a viver em condomínios fechados com segurança particular, mandam blindar seus carros, saem às ruas com coletes a prova de bala e acompanhados de seguranças, instalam modernos sistemas de vigilância e segurança, sendo isso apenas um paliativo e não acessível à grande maioria da população que se vê impotente diante desse quadro assustador.

É bom lembrar que os culpados clássicos por esse quadro são conhecidos: inércia governamental, aumento das injustiças sociais, falta de oportunidades de estudo e trabalho. No entanto, a humanidade tem uma tendência clássica à violência, como a conhecida lei de talião, de mais de 3700 anos atrás e que determina “olho por olho, dente por dente”, ou “lavar a honra com sangue” comum até bem pouco tempo atrás. Quem nunca ouviu na infância: se baterem em você, revide. Com isso crescemos achando que a forma de resolver nossas diferenças é brigando e não dialogando, some-se a isso o álcool e as drogas como motivadores e potencializadores e temos uma bomba pronta a explodir.

Combater a cultura da violência é uma necessidade que passa pela mudança em cada um de nós e depois se torna responsabilidade governamental. Como afirmou Martin Luther King, Prêmio Nobel da paz e defensor da resistência não violenta contra a opressão racial: "Se você não está pronto para morrer por alguma coisa, você não está pronto para viver", infelizmente muitos só estão prontos para matar.

Ibnéias Costa da Silva, em 01/08/2008.