Como alguém chega a negar um fato?

Ao longo de meus estudos particulares uma das maiores dificuldades que sempre tive foi a capacidade de reconhecer o que eu estava lendo como certo ou errado. Pelo fato de estudar como autodidata isso faz toda a diferença. Sem essa capacidade de avaliar o que se está aprendendo o estudante é capaz de passar anos e anos em um caminho errado e perder um tempo enorme de esforço intelectual em algumas maneiras de pensar que são completamente erradas. O mais difícil de tudo é perceber o que é certo e errado no caminho do pensamento sobre o que é certo e errado. A filosofia traz inúmeras complicações nesse campo. Mas para minhas pretensões nesse texto essa profundidade não é necessária.

A base de tudo, que é o que importa aqui, é como filtrar conhecimentos em prol de um benefício mental. No início de qualquer estudo de filosofia essa pergunta pode passar despercebida, ou ter um valor não essencial, mas no desdobramento dos estudos se torna imperativa. Alguns acham que essa pesquisa é inútil e toma um tempo enorme em prol de nada na vida do sujeito. Aqui tenho que me corrigir. Não só alguns acham isso, mas a maioria das pessoas acha isso, ou simplesmente não acha nada, pois sequer pensam sobre a própria questão. E aqui tenho que ir contra a opinião popular. O tipo de conhecimento que se possui do mundo é imperioso para a vida, em qualquer termo que se possa pensá-la.

Eu parto do princípio que a maioria das pessoas nunca pára para pensar se tudo o que existe é realmente real. É corrente que as pessoas existem. Que vão daqui para ali. Que se amam, se odeiam, se beijam e se matam. Diariamente a realidade se impõe sobre nós. A pergunta “e se tudo não é real?” só pode ser feita com alguma base nessa realidade, e se perguntada profundamente vai levar o sujeito a seguinte conclusão básica: se tudo não for real, não é real que eu perguntei sobre tudo ser real. O que nos leva a um paradoxo intransponível e por isso deve ser tomado com alguma cautela e cuidado. Se tudo não for real eu sou um mero subproduto dessa irrealidade, mas mesmo assim continuo comendo, dormindo e acordando. Logo que se dane se tudo por irreal eu sinto e vivo mesmo assim.

Bom, deixando essa peripécia mental de lado, temo a vida que vivemos. E devemos notar que a nossa vida é uma insistência. Insistimos em viver, acordar, dormir, chorar, etc. A vida termina quando deixa de insistir e desiste. A centelha da vida é aquela dádiva que nos vêm e persiste enquanto somos, quando paramos de ser ela desiste, ou, talvez, seja o contrário. Mas no fundo estamos lutando para sobreviver, e quem sabe poder viver efetivamente. Sobreviver é a nossa ação diária. Comer, evacuar, limpar, cuidar da saúde, ter algum prazer etc.. Assim que passamos desse nível começamos a viver. Basta aqui dizer que qualquer vida que se resuma a conseguir recursos para a sobrevivência, e se mantenha somente nesse nível de existência, não é digna. Por termos nossa capacidade de viver, além de sobreviver, devemos garantir a todas as pessoas a chance da vida.

Nesse processo de viver que está inserida a capacidade, ou não, de pensar sobre a própria vida. De reconhecer nela características mais profundas que a mera sobrevivência. De lutar pela melhora da própria vida e assim conseguir uma melhora substancial para todas as pessoas. Pois se a vida é dada igualmente a todos, a capacidade de viver é necessidade de todos, logo, é obrigação de todos lutar em prol da vida de todos. Esse pensamento pode entrar em desacordo com de outras pessoas. Mas se entra em desacordo mostra que a outra pessoa também está pensando sobre a vida e sua condição, o que é essencial para a vida de todos.

Nesse processo de descobertas mentais, que deveria ser o do período que passamos nos educando, a coisa mais fantástica que existe é saber-se um ser pensante e ser capaz de acompanhar as coisas que acontecem no mundo, para entendê-las e ser co-autor no seu conjunto. A mente humana é capaz das maiores prodigalidades e como a História demonstra, qualquer pessoa é capaz de tais feitos. É uma ignorância dizer que algumas pessoas de nossa raça são gênios e creditar nisso às suas descobertas. Toda descoberta é um mínimo de insight e o máximo de dedicação. Estudar é isso: dominar o assunto para que desse domínio uma nova visão seja capaz de avaliar e reavaliar o mundo.

Até aqui expus pensamentos básicos que devem dar ao leitor uma visão geral da minha compreensão desses elementos essenciais, que delineei rapidamente. Tudo isso para dizer algo simples. A partir do simples chegamos ao complexo. O simplismo diz: uma árvore é uma árvore.

Longe de toda complexidade matemática da expressão, que nos levaria muito longe do essencial, quis dizer que quando alguém aponta uma árvore e diz: é uma árvore, só um louco negaria o fato, se realmente estivesse na frente de uma árvore. Excetuando-se casos em que o objeto árvore não fosse totalmente conhecido das duas pessoas, ou que uma das duas, embora conhecendo o objeto árvore, a nomeasse de forma diversa, os dois se entenderiam de forma considerável. Somos acostumados a acreditar em alguma coisa se a vemos e somos capazes de reconhecê-la em seus matizes sensoriais mais imediatos. Um carro não passa despercebido, e isso diz tudo. Embora essa explicação seja de fácil entendimento coisas correlatas devem ser esclarecidas de mesmo modo.

Quando alguém chega até você e diz: meti para você e por isso peço desculpas, o fato dela ter dito o que disse é inquestionável. Você pode julgar como for o acontecido, mas que ela disse exatamente o que foi dito, é irrevogável. No pensamento temos que esclarecer o que é fato o que é julgamento. Essa é uma das premissas mais básicas de toda a nossa conduta. Devemos ter isso claro, a fim de poder compreender bem nossa realidade. Então é impossível que algo do tipo aconteça: 1) aponta uma árvore e diz “isso é uma arvore”, então 2) responde “não concordo com sua opinião”. Ou se acontece, só podemos lamentar sobre o acontecido.

A adequação sobre o que é certo e o que é errado é de difícil apreensão em nosso tempo. Há uma crença difundida de que a verdade é relativa, o certo e o errado dependem. Concordamos até aqui que um fato é irrevogável e enunciar seu acontecimento não pode ser jamais algo de concordância ou não, apenas o juízo sobre sua interpretação. Assim quando um professor de matemática nos diz que 2 mais 2 é igual a quatro entramos em outro nível. Entramos no campo das relações. Um fato concreto é apontável e por isso mesmo irrevogável, mas as relações que se processam entre as coisas não.

As relações dependem de uma série de teoremas que estão subjugados a axiomática presente. Explico. Quando você diz que girou a chave na ignição e o carro ligou, você pressupõe uma relação que depende de um modelo axiomático. Axioma é aquilo que não pode ser mudado. Axioma é uma premissa que é considerada indiscutível. Então partimos dos axiomas: a) há uma chave, b) há um carro, c) há uma ignição. Esse é o conjunto axiomático básico mais próximo e elementar do conjunto que garante que a afirmação “girou a chave na ignição e o carro ligou” seja verossímil, ou possível. Outras implicações são verdadeiras, ou devem ser. Existe alguém que fabricou o carro, aqui não interessa quem. Aquele que fabricou a chave etc..

Como podemos perceber qualquer afirmação que façamos está entendida sob o manto do conjunto axiomático a qual ela pertence em primeiro plano. Saltando de categoria podemos dizer que tudo existe, e por isso a chave foi girada. O pressuposto de que tudo existe e por isso cada coisa pode acontecer é básico para tudo o que acontece. Devemos ser capazes de adequar o pensamento para conseguir identificar o que é teorema e o que é axiomático. Teorema é tudo que decorre dos axiomas, que são pressupostos por demais evidentes para serem discutidos. A afirmação “girou a chave na ignição e o carro ligou” é teorema do conjunto axiomático exposto mais acima. Primeiro há tudo, depois há o carro, a chave e uma ignição. Aqui partimos do básico, o conjunto de relações é posterior. Quando estamos bem assentado no básico podemos, então, perguntar: quem girou a chave? Girar a chave é possível? O que decorre de girar a chave?

Essas e tantas perguntas podem ser formuladas se aceita a condição básica que é crer que a frase “girou a chave na ignição e o carro ligou” está correta, é verossímil e é possível. Cabendo explicar aqui que nem tudo que é verossímil é possível, e nem tudo que é possível está correto, e estar correto não possui a mínima relação com ser verossímil. Eu falo aqui em linhas gerais. Não vamos sair enveredando por nuances por demais minúsculas que atrapalhem o pensamento global. Explico então a parte desse parágrafo que merece a explicação. Ser verossímil é ter o mínimo respaldo com a realidade. Ser possível é estar dentro da gama de possibilidades possíveis. Estar correto é estar exatamente de acordo com a própria realidade. Exemplifiquemos.

Em uma obra cinematográfica há um roteiro, esse roteiro é a parte escrita do filme que conta a história dele, que contém todas as indicações para os atores. Suas falas, algumas expressões, sua história, marcações, pontuações etc. Alguns roteiros são verossímeis. Aqui ser verossímil é ter respaldo na realidade criada pelo próprio filme. Então partindo do axioma de que estamos vendo um filme de 007 é verossímil que Bond jogue seu carro dentro da água, este vire um mini-submarino e consiga sair andando em uma praia? Sim. É totalmente verossímil pela premissa do filme. Aquilo que aconteceu é correto? Também, pois o carro que é usado para fazer a cena existe de verdade. Então aquilo é possível. Mas peguemos outro filme: Tempo de Matar. Seria verossímil com a realidade do filme que no ato final o advogado Jake Tyler Brigance usasse poderes telepáticos para convencer o júri que ele estava certo? Não. Seria completamente inverossímil.

Assim o conceito de verossimilhança entra em acordo com o todo. O filme dos X-Men é verossímil à realidade? De maneira alguma. Não temos minimamente nenhum respaldo com a realidade concreta em que vivemos o uso de raios óticos, a habilidade de voar ou congelar com as mãos. Nesse nível o filme é inverossímil. Mas internamente o filme é verossímil? Completamente. Ele propõe uma outra realidade, parecida com a nossa, em que algumas coisas são diferentes. Mas o grosso continua o mesmo. Ele se baseia na nossa suspensão de crença para conseguir funcionar. Pela duração do filme deixamos de acreditar que aquilo não é possível e entramos no jogo. X-Men não é possível, mas é verossímil pela nossa suspensão de crença. Cabendo salientar aqui que não é possível acontecer o que acontece no filme em nosso mundo concreto, apenas sendo possível acontecer o filme, como acontece de fato. O filme é possível, os feitos do filme, fora do filme, não são possíveis.

Então, já estabelecido minimamente o conceito de verossímil e possível, parto para o de correto. Correto é tudo aquilo que acontece em concordância e correção com a realidade. Na verdade o que é correto é verdade. Só é verdade tudo aquilo que é correto (nesse sentido que coloco). Não aplico aqui o sentido de correto para certo ou errado no âmbito moral. Aqui o correto não é aquele da frase “bater em alguém não é correto”, mas sim o da frase “mentir não é correto”. Nessa segunda frase temos uma correção que equivale a não falsificar a verdade, e a verdade é tudo o que é. Como é verdade que mentiu, é verdade que é mentira. Mas a mentira em si não é correta, pois falsifica o mundo. Seja por intenção, seja por ignorância. Aqui não estou discutindo os impulsos que levam alguém a mentir, mas a mentira por si mesma. Correto, no conceito formulado aqui, é tudo aquilo que está em correspondência com a realidade. “Estou digitando esse texto agora” é correto, pois corresponde exatamente à realidade. “Você está entendendo tudo exatamente como eu quero que entenda” não está correto, pois não pode ser aferido.

Bom, chegamos até aqui. Essa pequena parte introdutória serve para nos mostrar como que as coisas se processam. E deve nos mostrar como o pensamento funciona se de forma sadia. Tudo isso serve de base para nos colocarmos e posicionarmos em relação ao mundo. Para podermos saber o que sabemos, se é mentira ou verdade. Para julgar afirmações de pessoas. Para conviver minimamente sem que tudo não se transforme num caos. Qualquer pessoa que se encontre no mundo e esteja construindo essas ferramentas mentais já as possui minimamente. Assim a criança a toda hora pergunta o porquê, diz que não acredita nisso ou naquilo, fala que isso não é possível etc.. Essa atividade mental é saudável e assim deve permanecer. Basta para convencer uma criança de que algo existe de mostrar aquilo mesmo à própria criança.

O que acontece hoje conosco? Deixamos de ser crianças. No sentido mais elevado da coisa. Deixamos de nos perguntar o que é verdade, de acreditar nas possibilidades, e ter qualquer respaldo no conceito de verossimilhança. Para quem estuda é difícil conseguir que outras pessoas que não estudam o mesmo tema acreditem que algo é fato. As pessoas hoje em dia conseguiram criar uma mentalidade que é capaz de negar os fatos mais concretos e absolutos, deixando de lado todas as conseqüências que isso traz.

Por exemplo. Há algum tempo (escrevo esse texto em 07 de outubro de 2008) disse a meus amigos que Obama, candidato à presidência americana desse ano, está sendo processado por duas coisas: 1) não apresentar sua certidão de nascimento original ao órgão responsável, e 2) por apresentar uma certidão de nascimento falsa no sítio oficial de sua campanha. Essas duas coisas são fatos. Eu só os apresentei como eles acontecem e não fiz nenhum julgamento ao dizer isso. Quais foram as réplicas quando eu disse isso? 1) “É impossível”, 2) “Você e suas teorias de conspiração”, 3) “E ninguém falou nada até agora?”, 4) “Você está maluco”.

Ou seja, as pessoas, as mais próximas de mim, perderam completamente a noção da realidade. Do que é fato e das implicações que isso acarreta. De fato Obama não apresentou a sua certidão de nascimento original, e de fato ele apresentou um arquivo digital alegando que aquela era sua certidão. Mas porque será que as pessoas são incapazes de acreditar nisso e tomar uma atitude em relação à isso?

Credito essa atitude tão surreal e tão afastada de qualquer respeito à incapacidade mental. Essas pessoas tiveram seu modo de pensar subvertido completamente e são incapazes de agir com a mínima atitude mental aceitável, que seria: vou pesquisar por mim mesmo e conferir se isso é ou não verdade. Eles podem ter todo o direito de achar que o que eu falo é mentira. Mas não conseguem compreender que entre minha afirmação e a sua crença disso ser verdade ou mentira há uma coisa muito curiosa: a realidade.

Em que eles se baseiam para não acreditar em mim e achar realmente que isso é mentira e, ainda, achar que além de o que eu falo ser mentira não ser possível? Seu esquema mental foi destruído. Perderam completamente a capacidade de perceber a realidade como algo concreto. Vivendo, então, em um mundo paralelo. Esse mundo paralelo se baseia unicamente numa coisa: televisão.

Os meios atuais de se obter informações são poucos. 1) uma afirmação direta da pessoa que presenciou algum fato, 2) leitura em jornais e revistas, 3) telejornais, 4) livros, 5) em filmes e 6) a presença in loco da própria pessoa no ambiente em que se passa a coisa. Há ainda um meio muito dúbio que é a afirmação da pessoa baseada nas fontes precedentes, mas sem citar quais fontes são. Então temos algo como “Eu li...” e assim afirma-se a veracidade de uma informação de terceiros.

Partindo dessa enumeração podemos concluir que no caso 1) só acredita-se em alguém que é confiável, não interessando o que ela diz realmente. Nos casos 2) e 3) acredita-se cegamente. Por mais que existam contradições estupidamente estampadas. No caso 4) e 5) acredita-se mais firmemente, mas o usual é a não conferência das fontes e referências. Contando também que o número de pessoas que recorrem ao método 4) e 5) para obter informações são raríssimas. O mais usual é que elas busquem a confirmação cega de seus achismos. E a 6) que é imperativa e não possui escapatória, mas pela própria natureza da coisa ela é a mais complicada e rara de acontecer.

Atualmente quase que a totalidade do conhecimento de uma pessoa média vem, primeiro de livros didáticos e professores dos ensinos fundamental, médio e superior. Na maioria das vezes sem consulta das fontes primárias. Segundo de jornais, telejornais e revistas, sem comentar que a busca pelas fontes primárias e referências é nula desses casos. No caso de livros e filmes a chance de conferência é um pouco maior, pois as pessoas que utilizam-se desses meios para obterem informações são um pouco mais esclarecidas, mas no usual não buscam a confirmação de nada.

Podemos ver por esse quadro que a maioria das pessoas vive em um mundo imaginário, de confiança e totalmente à parte da realidade. A confiança depositada nos jornais, telejornais, revistas, livros e filmes como fonte de informação primária é praticamente inquestionável. Agora podemos ir mais a frente e mostrar algumas coisas que se processam nesses meios.

Todas as redes de jornais e telejornais que possuímos buscam informações em fontes estrangeiras de notícias. Elas mesmas não buscam as fontes, mas acreditam que as primeiras transmissoras estão certas e corretas. Assim uma notícia veiculada na CNN é verdade universal em todo o mundo, pois as outras agências simplesmente se resignam a repassar essas informações. Assim posso deixar como referência uma única coisa que já irá exigir do leitor algumas horas de pesquisa e muitas horas de leitura. Ao conhecer através de dois documentários que o Aquecimento Global provocado pelo homem pela emissão de CO2 é uma mentira, basta que o leitor procure minimamente as referências para que constate a veracidade da coisa. Não basta aqui dizer que é mentira, a única coisa que irá transformar a mente do crente em descrente é a informação de fonte primária. Assim vejamos.

A CNN divulga que um grupo de estudiosos com mais de 2000 cientistas assinaram um relatório do IPCC, que em tradução livre significa Painel Intercontinental sobre Mudanças no Clima, que comprova a existência do Aquecimento Global provocado pelo homem através das emissões de CO2. Mas se qualquer leitor for verificar as assinaturas do IPCC há incontáveis membros administrativos que assinaram. Dos cientistas que assinaram o relatório muitos deles pediram para terem suas assinaturas removidas, pela falsidade do relatório final. E os mais importantes estão processando por uso indevido de suas assinaturas em coisa que eles não compartilham. Aliás, os mais graduados cientistas nesse ramo afirmam o contrário: que não existe coisa do tipo. Mas eis que essa “verdade” é tida como concreta e correta por praticamente todas as pessoas. Que os meios possam difundir informações erradas é uma possibilidade, correta e concreta, mas que nós nos deixemos cair nessa armadilha é por demais vergonhoso para um ser humano capaz, com acesso às fontes de informação que temos. Assim perdemos a capacidade de analisar a realidade, mesmo nas analogias mais básicas possíveis. Quando dizem que devemos preservar a Amazônia, pois ela é o pulmão do mundo, esquecemos que o pulmão absorve O2 e libera CO2. A analogia é correta. A Amazônia consome muito mais O2 que libera. E assim podemos perceber nossa incapacidade para perceber as coisas mais óbvias que são proferidas na nossa frente e assim negamos a árvore.

Um caso mais singelo é visto em praticamente todos os dias nos nossos jornais. Diz a regra jornalística que a notícia deve ser do fato, comentários posteriores sobre repercussões dessa notícia podem vir após a própria notícia. Recentemente em entrevista Morton Sobel, grande espião da antiga URSS confessou que ele era espião e fazia parceria com Julius Rosemberg. Esse último era defendido até a alma pela esquerda mundial pintando-o como inocente. Nessa mesma entrevista Sobel comenta algo sobre a possibilidade, que ele acha como certa, da mulher de Julius, Ethel ser inocente. A Folha de São Paulo com sua máxima capacidade jornalística estampa uma manchete assim: Mulher de Rosemberg era inocente. Aqui podemos perceber como que todo o processo de pensamento foi invertido. O fato concreto é que Sobel confessou que era espião e que Julius também era, e que porventura achava a mulher de Julius inocente. O fato concreto é a confissão. O julgamento dele é que a mulher do Julius era inocente. Em uma clara troca de prioridades o jornal inverte a notícia. A confissão que é concreta foi relegada para o meio da matéria, a sua opinião sobre a Ethel Rosemberg foi colocada no título.

As informações que nos chegam atualmente através de jornais, telejornais e revistas são claramente distorcidas. Primeiro pela clara incapacidade mental de quem elabora os tais conteúdos. Sem um mínimo comprometimento com a verdade e somente a verdade a correção dessas matérias é muito baixa. E aqui entramos novamente no âmbito das relações. Primeiro eu disse que os fatos concretos precedem as relações. Isso é um axioma básico. Sobre esse ponto há inúmeros aprofundamentos e discussões sérias que devemos levar em conta, mas o que eu quero dizer é que dos fatos concretos temos plena certeza, a não ser que sejamos malucos, mas das relações entre eles sabemos muito pouco. O pensamento deve focar no que acontece de fato e não das suas causas, conseqüências e possibilidades. Assim um jogador esperançoso da loteria acha que vai ganhar, de outra forma não apostaria. Mas a possibilidade disso acontecer é muito pequena. É possível? Sim, mas muito improvável. Pela realidade vemos que algumas pessoas ganham na loteria e se tornam ricas. Mas de outra forma nunca pensamos ou vemos concretamente as pessoas na fila da loteria toda a semana. Preferimos acreditar na chance de ganhar como algo mais concreto que na de perder. Aqui o fato fala menos que as relações. O fato reiterado semanalmente que o cidadão não ganha na loteria vale menos que a possibilidade de ganhar. É um desperdício jogar? De maneira alguma, mas é dispendioso depositar sua esperança no acontecimento.

O processo aqui é de adequação do pensamento com a realidade. A influência que isso vai ter sobre a pessoa é de responsabilidade dela unicamente, e ela vai saber lidar com isso. Se é mentira que o aquecimento global é mentira, o que é verdade? Quem mente e por quê? Essas coisas cabem unicamente ao indivíduo elaborar, mas a constatação dos fatos primários é de responsabilidade geral. Confiamos nos meios de comunicação (hoje me dia de desinformação) como meios seguros para garantir nossa saúde mental. Não devemos. Pois o que a realidade nos diz? Que eles invertem, inventam e distorcem as informações. Assim como passamos a duvidar da integridade de um amigo que mente para nós, devemos também passar a desconfiar da integridade daqueles meios que metem para nós. A correlação é direta e inequívoca. Para quem acha que isso é radicalismo pense nas conseqüências que o mundo está sofrendo sobre inúmeras políticas baseadas na crença errônea de que o aquecimento global provocado pelo homem é real? Países do mundo inteiro assinaram tratados de redução de emissão de CO2. O que isso quer dizer? Que vão trabalhar com mais afinco na desindustrialização de seus países e gastar muitos recursos na filtragem das emissões que fazem. Enquanto essas duas coisas não servem para nada, a não ser atrasar a vida e o desenvolvimento de que dependem bilhões de pessoas.

Assim uma pessoa mediana é capaz de negar os fatos mais concretos similarmente ao louco que em frente a uma árvore diz “não existe árvore”. Vivemos num mundo em que o acesso à informação é gigantesco. Podemos pesquisar e saber das coisas por muitos e diferentes meios, mas fazendo isso ativamente temos o controle sobre o que sabemos. Deixando essa pesquisa nas mãos de terceiros só fazemos deixar nossa saúde mental, nossa atividade diária e nossa vida como um todo deteriorar-se na direção que nos é imposta por uma camada de meios e pessoas que não tem o mesmo comprometimento com a verdade que temos que ter. Assim o leitor acabará percebendo que os livros didáticos estão errados, e tão distantes quanto possível da verdade. Perceberemos que jornais, telejornais e revistas são fontes de desinformação. E quem deseja basear sua vida e seu destino em mentiras? Chegamos no ponto em que podemos dizem com certeza que os meios que usamos para obter informações não são inteiramente confiáveis. Fatos são concretos e relações são virtuais. A inércia favorece a deterioração, a ação favorece o esclarecimento. Assim a maioria das pessoas acha que o mundo não tem mais jeito, mesmo dando o jeito e conseguindo viver todos os dias. Finalmente chegamos no ponto em que as pessoas ao invés de acreditar nos seus próprios sentidos e nos seus próprios olhos acreditam nas falácias desinformativas. Assim vivemos num mundo de loucos, que vivem uma realidade virtual. E nem precisam dos plugues e matrixes da vida, apenas deixam que isso aconteça, por falta de vontade, falta de consciência. Afinal as pessoas negam as árvores. Pior para elas, pois as árvores continuam a existir.