Gosto se respeita, mas também se discute

“Toda música popular sofreu uma deterioração, um empobrecimento...” (Zeca Baleiro – Músico)

Existe um ditado popular que diz que “gosto não se discute”. Isso é utilizado para defender a possibilidade de nos deixar expostos a verdadeiras obras primas e ao mesmo tempo também a verdadeiros lixos culturais. Eu acredito que devemos respeitar o gosto das pessoas, afinal uns gostam de novelas, outros de filmes; uns preferem rock e outros preferem samba; mas respeitar não nos impede de avaliar e classificar o gosto das pessoas.

Você pode até dizer, mas quem é você (ou quem quer que seja) para avaliar meu gosto ou considerar alguma coisa melhor ou pior que outra? Qualidade normalmente é uma coisa subjetiva, mas há indícios que nos leva a comparar uma coisa à outra. Por exemplo, um enólogo possui conhecimento para determinar se um vinho é bom ou ruim. Mesmo um leigo no assunto pode emitir opinião, desde que haja critérios para a avaliação e acima de tudo que se possa ter uma base para comparação. Eu não posso simplesmente considerar algo ruim se não disser a razão, isso quer dizer que só meu gosto pessoal não é motivo suficiente para determinar o que é bom ou ruim.

Todo esse falatório tem um alvo específico: a musica que se ouve hoje em dia. É incrível a falta de qualidade da música brasileira atual.

“chupa que é de uva”, “rei do cabaré”, “vai lacraia”, “cada um no seu quadrado”, “dormi na praça”, “morango do nordeste”, “barata da vizinha”, “tanajura”, a lista seria enorme e nos mais variados gêneros, principalmente se compararmos a: “asa branca”, “nordeste independente”, “colombina”, “noite do prazer”, “falando de amor”, “trem das onze”, isso para compararmos músicas dentro do mesmo estilo.

Em todas as épocas sempre se produziu música de boa e de má qualidade, nos mais variados estilos, mas algumas pressões em especial do capitalismo e sua lógica de mercado que quer cada vez mais ganhar dinheiro com a cultura, mesmo em detrimento de sua qualidade, tem nos levado a uma assombrosa produção de música de baixa qualidade instrumental e principalmente de letras.

Depois de uma década de 80 fantástica em termos de música, tivemos as fases do axé com suas músicas para rebolar e com letras de duplo sentido (vindo da mesma Bahia que nos deu Gilberto Gil e Maria Betânia), depois o sertanejo com músicas de dor de cotovelo (diferente do sertanejo de pena branca e xavantinho e Inezita Barroso), o pagode como um primo pobre do samba (nada comparado com cartola e Demônios da garoa), o funk carioca repetindo a fórmula do axé (nos fazendo sentir saudades de Hildom e Tim Maia) e no Nordeste o forró eletrônico e suas letras de duplo sentido e até sem sentido (que nem de longe nos lembram o mestre Luiz Gonzaga e Dominguinhos).

Instrumentistas com pouco conhecimento musical, letras que não dizem nada a quem ouve, cantores que são péssimos interpretes, tudo isso associado à falta de cultura em geral do povo, junto com a manobra de grupos de mídia e de empresários que não tem pudor em disponibilizar esse material sem qualidade ou ainda associar a música com exposição exagerada de figuras seminuas nos levam a nosso atual quadro. Ainda assim se nos permitirmos, poderemos desfrutar de boa música, mesmo nesses estilos é possível associar boa melodia, letra e interpretação. Basta procurar e experimentar.

Ibnéias Costa da Silva, em 24/08/2008.