Vamos deixar de ser egoístas e pensar mais em nós mesmos

“Nestas eleições municipais, a maioria dos eleitores será pragmática. As razões do voto serão ditadas pelos benefícios que cada um recebeu ou poderá receber. E a visão do que é melhor para o município dependerá da ótica que cada um tem da sua Aldeia e será filtrada pelos próprios interesses” (Rinaldo Barros)

Segundo o dicionário a política é a ciência do governo dos povos e dos negócios públicos (pequeno dicionário da língua portuguesa de Celso Pedro Luft). Mas essa definição deveria ser revista, uma vez que o mais comum em na política brasileira é que ao invés de se tratar de assuntos comunitários (povo) e negócios públicos, o que nós observamos é que a política se transformou na verdade em politicagem (Política mesquinha, estreita, de interesses pessoais, definição do Novo dicionário Aurélio).

O título desse texto não está incorreto não. Essa frase é proveniente das “pérolas” retiradas das redações de vestibulares pelo Brasil. Há nessa frase do título um duplo motivo de preocupação: uma é a péssima qualidade educacional de nossos jovens, onde eles são incapazes de construir um raciocínio coerente e menos ainda de colocá-lo na forma escrita; o outro motivo igualmente preocupante e que possivelmente deriva do primeiro é que embora a frase tenha sido formulada de forma incoerente (egoísmo é pensar em si próprio) que ela reflete uma realidade do pensamento vigente de se pensar no eu (privado), depois pensar no eu de novo e só aí passar a se pensar no eu, o público nunca é colocado como prioridade.

A categoria dos políticos é uma das mais desacreditadas pela população, fruto de inúmeros casos de corrupção, aumentos exagerados de salários próprios, contratação irregular de funcionários (incluindo casos de nepotismo) e criação de leis ou execução de obras que trazem benefícios para apenas uns poucos em detrimento da comunidade.

A associação dos magistrados brasileiros (AMB) divulgou nesse mês uma pesquisa mostrando dados assustadores. Mais de 85% dos brasileiros acreditam que os políticos não cumprem promessas de campanha e que a política só beneficia os próprios políticos e mais de 50% entendem que as eleições no Brasil não são realizadas de forma limpa e confiável. Se é triste constatar esse pensamento a respeito daqueles que deveriam cuidar de administrar os interesses públicos, não nos surpreende que as coisas estejam no atual status, isso devido as outras informações da mesma pesquisa. Mais de 60% dos pesquisados conhecem pessoas que aceitariam trocar o voto por vantagens pessoais. O que demonstra o caráter (ou falta dele) e nível ético da população, a mesma que coloca os políticos em seus cargos e que pelo mesmo motivo não terão moral para exigir um mandato calcado na correção da conduta pública.

Na mesma pesquisa 42% creem que é obrigação dos políticos resolverem coisas pessoais dos eleitores (como despesas hospitalares, por exemplo) e 40% embora não achem que seja obrigação, entende que eles devem fazer mesmo assim. Apenas 17% dos entrevistados são categóricos ao afirmar que os políticos não devem resolver situações particulares de jeito nenhum. Agora fica mais clara a razão da politicagem se sobrepor à política. Para a maioria é perfeitamente normal receber cuidados particulares em detrimento do público. Traduzindo, se um vereador me der material de construção para minha casa, não precisa fazer requisição do calçamento para minha rua. Se um prefeito me der o medicamento para minha doença, não precisa disponibilizar médico no hospital municipal.

Ou mudamos nosso caráter e passamos a pensar no público ou estaremos eternamente contribuindo para a corrupção e atraso do país, vivendo de forma bem aquém do que poderíamos. Votar sem a preocupação com o coletivo é vender a consciência por um preço muito alto para a nação, mas do qual poucas migalhas serão aproveitadas por você.

Ibnéias Costa da Silva em 24/08/2008.