Desejo por Paris

A casa burguesa, ainda como hoje é o local da família, mas ao contrário do que acontece atualmente a sala exerce um papel fundamental na vida social burguesa do século XIX. É lá que tudo acontece, onde a casa e a rua se encontram, o local para se receber as visitas e realizar as festas, toda sala é a porta de entrada da casa.

É na casa que os devaneios românticos das leitoras burguesas acontece, sentadas nas belas poltronas desfrutando de seu ócio, mulheres que em sua maioria não fazem nada, ao irem aos passeis públicos repetem o ritual de não fazerem nada. Essas mulheres desejam, sonham, sonham com Paris, com as ruas de Paris, com os romances de Paris, assim elas andam à moda de Paris, lêem o que as parisienses lêem, Paris é o modelo a ser seguido mas por mais que imitem Paris, elas nunca serão parisienses. Assim como as burguesas, Portugal deseja Paris, esse desejo se reflete nas ruas, nos passeios e na vida lusitana.

Esse ócio não era exclusivo de Portugal e da Europa, mas sim de toda a burguesia, temos bem claramente em Machado de Assis o exemplo de Braz Cubas, que não fazia absolutamente nada, e mesmo quando se propunha a algo, era completamente inútil, ou promiscuo.

Diferente de hoje, em que cada dia mais nos confinamos em nossas casas, ou em shoppings com medo do mundo, no século XIX não havia todas as facilidades da globalização, como Internet e telefonia móvel, é por esse motivo que o contato pessoal se torna indispensável, muito mais do que vivemos nesse momento. Nos passeios a sociedade burguesa de Portugal (assim como boa parte da Europa que seguia o estilo de Paris), passava seu tempo livre, iam com a esperança de acontecer algo, ver qualquer coisa interessante, iam por ir, não havia mais o que fazer, voltamos aos livros, e conseqüentemente a Paris.

Essa busca pela cidade luz é muito visível no O primo Basílio, principalmente nas falas do próprio Basílio em suas reclamações a Portugal. Nada em sua terra podia ser comparado com os encantos de Paris, mesmo com o povo lusitano estando na Europa, o centro do mundo no século XIX, Portugal é um país periférico, que já não vive seus dias de gloria do passado, mesmo sabendo que essas reclamações fossem mais usadas como armas de sedução há verdades ali.

Esse pode ser considerado um retrato do país Portugal, onde uma pequena parcela burguesa, muito ociosa vive as custas de uma grande maioria trabalhadora, que não parece ter mudado muito com o passar dos anos, possivelmente se os papéis fossem diferentes, Eça de Queiroz não faria mais tanto sentido. Uma nação insatisfeita, que sonha com o inalcançável. Os menos favorecidos desejam dinheiro para sair de uma vida desumana, para talvez se tornarem pequenos burgueses com um pequeno negocio. Já os Burgueses desejam Paris e sua vida animada em sus cafés e bulevares, e já os parisienses, já sendo parisienses reclamam do tédio como Jacinto de A cidade e as Serras, ou de qualquer outra coisa que passem por suas cabeças. Mas isso pode ser considerado algo natural da humanidade, o grande motivo para uma sociedade capitalista dar certo, nós sempre desejamos o que não temos, não importa se é a ultima moda ou a mulher do outro.

Texto escrito para a matéria de Lit. Port. II sobre O primo Basílio.