Potuguês Brasileiro ou Português da Metróle? (Por Tathiany Pereira de Andrade)

“Um pouco de fermento leveda a massa toda”. Disse o apóstolo de Cristo, Paulo, aos Gálatas. Se um pouco de fermento tem essa capacidade, que dizer de 75% de fermento para 25% de massa? Pois é, essa era a porcentagem de africanos no Brasil na época da colonização. Quatro milhões de africanos foram escravizados e trazidos para o Brasil. Aqui, embora a língua falada fosse diferente das suas, os africanos conseguiram preservar suas línguas por um determinado tempo através do desenvolvimento da língua-de-santo. Outro fator importante na “levedura” dessa “massa” foi o processo de socialização exercido pela mulher negra e pelo africano escravizado que falava o Português, o ladino. Como “primeiras pedagogas”, termo utilizado pela Profa. Yeda Pessoa, eram as amas que ensinavam as primeiras palavras às crianças brancas. E os ladinos se comunicavam tanto na senzala quanto na casa grande. Desta forma, eles deixavam suas contribuições no Português falado na casa grande. Acrescenta-se a isso, a ampla distribuição geográfica do negro e do afro-descendente pelo Brasil. Pergunta-se, então, como uma língua pode permanecer intacta ao lado de outras com as quais tem contato direto por muito tempo?

Das línguas que mais influenciaram o Português estavam as línguas Bantos e Iorubás, sendo que as línguas Iorubás influenciaram mais no aspecto religioso e as Bantos influenciaram o vocabulário de modo geral. Essa influência foi tal que algumas palavras Bantos substituíram completamente palavras em Português. Por exemplo, quem já ouviu falar em giba? Mas corcunda todos conhecem, assim como samba, xingar, tanga, fubá, etc. Pois, as últimas são palavras africanas, ao passo que a primeira é de origem portuguesa. Mas, na interferência dos vocábulos, esses aportes lexicais são apenas um dos fatores. Outros são: Aportes por decalque – Como algumas palavras africanas eram consideradas tabus, deu-se um novo sentido a palavras portuguesas para que se traduzissem diretamente as palavras africanas. Como exemplo, temos mãe-de-santo e despacho. Aportes híbridos – palavras compostas de um elemento africano e um ou mais elementos do português.

Além disso, as línguas africanas contribuíram para a morfologia, a sintaxe e a fonologia do Português Brasileiro. Essas contribuições envolvem a assinalação do plural somente no artigo, que é uma tendência do PB, como, por exemplo: os menino. Este é o padrão de plural dos nomes das línguas bantos. Também, as vocalizações são marcantes no PB, como influência das línguas africanas. Como as línguas africanas possuem uma estrutura consoante/vogal, o PB tende a fazer vocalizações em palavras como pneu (pineu), advogado (adivogado), ritmo (ritimo).

Acrescente-se a isso a influência das mais de trezentas línguas indígenas que foram contabilizadas no século XVI, quando os portugueses chegaram às costas brasileiras.

Desta forma, pode-se afirmar, com certeza, que o “Português Brasileiro” existe e descende de três famílias: indo-européia, línguas tupi e niger-congo. Esta é uma língua própria do povo brasileiro, diferente do idioma falado na antiga metrópole. É uma língua viva, dinâmica e independente. Assim como o seu povo.

REFERÊNCIA

PESSOA, Yeda. A Interferência das Línguas Africanas no Português do Brasil. Palestra proferida na UNEB – Campus V, 09 jan. 2007.

Tathiany Andrade
Enviado por Tathiany Andrade em 10/11/2008
Código do texto: T1276269
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