TRILHA SONORA - Na hora do Show ! (série Cyndi Lauper)

As pessoas costumam não dormir quando estão ansiosas, e dizer que no domingo a noite, dia 16 de novembro eu estava ansioso era ainda um mero elogio... No dia seguinte, as 6 da manhã, ocupava a poltrona 33, de um carro da empresa Catarinense, provindo de Florianópolis, minha capital, para a capital do estado vizinho ao norte. Quatro horas de viagem que mais pareceram uma eternidade. Não acabava nunca e a paisagem não ajudava, araucárias e mais araucárias , que acho lindas, mas só, foi então que ouvi aquela voz distante dizendo, como se fosse um prêmio em áudio: “Curitiba!”

Rodoviária horrível, mas tudo valia a pena, era Cyndi!

Esperei a Jéssica durante uma hora e meia, o encontro era mais que fatídico, meses nos falando apenas por msn, e agora o contato social firmado, ambos exatamente como um imaginava o outro, e sua amiga e família bem do meu jeito, “gente nostra”, gente de gargalhada, de falar besteira e rir um monte, descontraída e pé no chão, gente pra nunca mais esquecer... A Hisa é uma boneca, a Trudi é fora de serio, demais, aquela mulher não existe de tão bacana, a mãe dela é uma lady, fina, elegante e engraçadíssima! E ela então, posso dizer que é quase uma versão feminina de mim mesma... Louca, e ama Cyndi, e isso basta!

Vou ficar um bom tempo sem andar de táxi, pois uma das vantagens de se morara em cidade pequena é esta: ir a pé, ou conhecer a linha de ônibus sem ter que pegar 4 ou 5. E não era nada perto, nada mesmo, tudo tinha de ser chamado um táxi, um não, dois. Fomos para o hotel... Conversamos muito no caminho, que mais parecia a volta à Santa Catarina de tão longe... Mas chegamos: aquele hotel, aquelas imagens dos quartos, aquela fachada, aquelas camas, tudo o que tinha visto já inúmeras vezes pela internet, concretizava-se ali em matéria e emoção... Cyndi estava perto! Só em saber que estava na mesma cidade que aquela mulher, uma força mexia tudo em meu corpo, uma vontade louca de dançar me controlava, o indescritível efeito Cyndi.

Almoçamos numa churrascaria ao lado, e logo em seguida fomos conhecer o local do show... O teatro Positivo, dentro da faculdade Positivo, um auditório lindo, com capacidade para 2500 pessoas. A bilheteria estava fechada, mas havia um banner em frente ao estacionamento que nos fez vibrar e tirar muitos flashes... Era verdade, meu sonho estava a poucas horas de tornar-se cosmopolita realidade... E falando em horas, estas tinham tanta pressa, que não se prendiam muito conosco e passavam sem pedir licença. Logo eu e a Jéssica descobrimos que havia um vidro, traiçoeiro ao teatro nos permitia ver com clareza a banda arrumando seu equipamento e que os nossos lugares eram muito, muito perto do palco... Nossa alegria através da vidraça durou pouco, seguranças existem afinal de contas, e a cordialidade de uma porta de um deles nos convidou a sair dali. Mais uma táxi sob aquele céu cinza bem desenhado, que não dá vontade de parar de olhar.

Era realmente tudo muito longe, não tinha como ir a pé, essa mania de pobreza não colava de jeito nenhum no local. Comemos e voltamos ao hotel, uma ducha rápida, e os preparativos finais: a boneca que havia comprado tinha de ganhar mechas no cabelo, minha camiseta deveria ser passada... A camiseta há tanto inerte no armário aguardando seu momento, era agora o momento!

E num abraço eu e Jéssica estávamos de volta ao inesquecível cenário de onde veríamos a maior voz pop do mundo pela primeira vez. Um entra e sai danado, bastante movimento, todas as idades, cores e mentalidades, diferentes roupas, sapatos, maquiagens e faces... Um só motivo, um destino cujo prazer e amor circundava á todo átomo e célula que constituísse nossos corpos.

Agora ocupávamos o hall de entrada, estava ainda mais perto, os perfumes embriagantes e a alegria não evaporava, apenas aumentava a tensão, e de repente aquelas portas, portais para aquele mundo que tão bem conhecíamos e sabíamos de todos os atos... um mundo virtual e sonoro, convertendo-se em carne e osso. A luz em metade, todas aquelas cadeiras vermelhas que por si só já eram espetáculo, as paredes longínquas em obras arquitetônicas, mas nada importava, só servia de detalhes pra implicar a imponência do recinto. Tocava Lady Marmalade quanto entramos e uma corrida nos levou aos nossos vips lugares. O de Jéssica era o número 25, o meu o número 38, o de Jéssica era muito de frente para o palco, bem no centro dele, o meu mais para a esquerda... As boas e safadas idéias as vem em horas certas como estas e fiquei na poltrona 24, ao lado de Jéssica, e disse: “Quando o dono chegar eu vou embora, mas por enquanto vou ficar aqui contigo.” A cada ser que deslizava as internas escadas meu coração apertava pela provável distância... Dizia pra mim mesmo: “É este o dono do lugar, está com cara de que é!” Mas não, nunca adorei cometer tantos erros, as luzes baixaram em semi crepúsculo e ninguém apareceu, a campainha final tocou e um vídeo sobre o teatro brindou nossos olhares eufóricos, respirei fundo tentando não ter um infarto, a hora chegava... Apertei forte a mão de Jéssica, o vídeo acabou, recolheram os telões e a banda foi iluminado num azul muito familiar, nossas íris estavam sobre o palco, captando o ar que delocava-se... E do nada, como se ainda fosse mentira, surge uma poderosa loira de mexas rosas e olhos verde musgo, vestida de rendas pretas, olhando fatal para a platéia sob um potente foco... Era ela, uma mulher igual a outra, mas sabíamos que não era assim, tratava-se da voz e trejeito da trilha sonora da minha vida, da mulher que mudara minha vida!

OBS: EM BREVE,A ÚLTIMA PARTE CONTANDO DETALHES, O FIM DO SHOW E DA VIAGEM.

Douglas Tedesco – 24.11.2008

Douglas Tedesco
Enviado por Douglas Tedesco em 24/11/2008
Reeditado em 27/11/2008
Código do texto: T1300098
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