Refletindo a Autonomia no processo da Aprendizagem (baseado em Piaget)

Por Roberto Cerqueira Dauto, graduado em Letras e pós-graduando em Psicopedagogia, ambas pelas Faculdades Oswaldo Cruz. Reflexão baseada no artigo “Autonomia como finalidade da educação (segundo Piaget)”, de Kamill, C. e Declark, G. Reinventando a Aritmética. Campinas, Papirus, 1992. Cap. 3.

Segundo o mini dicionário contemporâneo da língua portuguesa Caldas Aulete, editado pela Editora Nova Fronteira, no ano de dois mil e quatro, pelo editor chefe Paulo Geiger (pág. 82): “Autonomia é a situação de quem tem liberdade para pensar, decidir e agir; independência. Situação de quem administra a si mesmo sem interferência externa (diz-se de um país, uma instituição etc.)”.

No texto Autonomia como Finalidade da Educação (segundo Piaget), tem-se a definição de Autonomia, segundo Piaget: A Autonomia significa ser governado por si mesmo. É o oposto de heteronomia, que significa que uma pessoa é governada por outra pessoa sem autonomia de si.

Na educação subtende que todas as crianças nascem dependentes e heterônomas. Em outras palavras, à medida que ela aprende a governar a si mesma, será menos governada por outras pessoas.

Sabe-se que a Autonomia é uma aquisição que se adquire com o tempo e a maturidade, no entanto, é preciso que o professor (a) seja o intermediário desse amadurecimento e dessa aquisição. A família ganha força também nesse contexto, porém, vamos apenas nos ater na aprendizagem que, neste caso, se resumirá à Educação, ou seja, no processo da aprendizagem no âmbito escolar.

Formar educandos formadores de opinião e acima de tudo Autônomos, creio ser uma tarefa complexa e tortuosa, todavia, é somente o educador que tem a condição de ser o mediador desse processo. Devido o seu destaque social existente na Sociedade como um todo. Pois a construção do conhecimento; a aprendizagem só se dá através de um processo, isto é, num desenvolvimento gradativo; evolução. E neste contexto se insere a Autonomia.

Para Piaget a Autonomia tem dois aspectos: moral e intelectual. A autonomia moral resume-se a questão da moralidade no seu sentido literal, isto é, um conjunto de regras e princípios de decência que orientam a conduta dos indivíduos de um grupo social ou sociedade e com o tempo se forma uma certa moralidade, ou seja, a qualidade do que é moral. Conjunto de princípios ou regras morais. Portanto, no domínio moral, Autonomia significa ser governado por si mesmo, tomar decisões próprias e agir de acordo com a verdade. Já a questão da moral intelectual, também transita na sua definição literal, ou seja, a inteligência, pessoas que tem interesse por idéias e pensamentos, ou se dedicam a atividades que envolvem estudo e raciocínio. Intelecto que possui a capacidade de usar a mente para pensar. Portanto, é correto afirmar que, conforme Piaget, na Autonomia Moral aparecem questões de certo-errado, já na Autonomia Intelectual aparecem questões de verdadeiro-falto. E nestes aspectos, o educando como sujeito principal, deve desenvolver, de forma prazerosa e consciente a Autonomia. E possivelmente bloqueando a Heteronomia no campo moral e intelectual, que significa seguir a opinião de outra pessoa, ao invés, de seguir a sua própria. Por exemplo, a criança que desenvolve a autonomia intelectual tenta explicar seu raciocínio para outra tem que sair de si para se fazer entender. Tentando coordenar seu ponto de vista com o de outra pessoa, ela mesma entende seu próprio erro. Partindo dessas autonomias a aprendizagem se dá, ou melhor, se concretiza.

Autonomia é o objetivo máximo da Educação, pois o único objetivo da educação é desenvolver em seus educandos a Autonomia tanto moral, quanto intelectual. Porém, nos campos moral e intelectual, as escolas, de modo geral, hoje tristemente carimbam a heteronomia das crianças e as impedem inconscientemente de desenvolverem autonomia. As escolas, segundo os autores do texto já referido, utilizam prêmios e castigos para impor as regras e padrões dos adultos. No entanto, fica a pergunta: Que é útil para o desenvolvimento da autonomia na escola? A habilidade de ler, escrever, operar em aritmética, usar mapas e tabelas, situar acontecimentos na história, são alguns exemplos do que se aprende na escola. Pois, quanto mais autônoma a criança se torna, maior será a possibilidade de se tornar mais autônoma.

Baseados em tais argumentos nos resta uma dúvida: Quais os objetivos adequados na Educação? Os objetivos, na educação, têm sido tradicionalmente estabelecidos a partir dos valores subjetivos das pessoas. Por exemplo, há alguns anos atrás muitas pessoas valorizavam a “capacidade de adaptação à vida”. Atualmente caímos na outra extremidade, a “volta à escola tradicional”. Algumas pessoas insistem em dizer que a curiosidade e a criatividade são mais importantes do que o conhecimento de muitos fatos. Outras defendem a posição oposta.

Como as hierarquias de valores são influenciadas pelo gosto pessoal e/ou moda, é impossível estabelecer um critério para se decidir o que ensinar e como ensinar. A autonomia como objetivo da educação tem um outro peso uma vez que parte de uma teoria científica do conhecimento. Piaget formou a hipótese de que a coordenação de pontos de vista leva à construção de autonomia.

Todavia, os objetivos variam de época a época, porém, é preciso que o educador, a escola, a sociedade tenham em mente alguns critérios para se decidir o que ensinar e como ensinar.

Roberto Cerqueira Dauto
Enviado por Roberto Cerqueira Dauto em 30/03/2006
Código do texto: T131071