Tentativa frustrada de ensaio

E eu que me sentia tão sozinho, de repente me vi cercado de tantas pessoas, tantas coisas, tantos lugares. E tudo me parecia tão belo quanto os girassóis de Van Gogh.

Eu que me achava tão impuro, de repente me vi tão aceito.

De aceito fui a essencial, e desde então sou o que se vê, e na minha miopia, fico sem saber o que se passa pela cabeça de quem me vê.

Assim passo, despercebido ali, marcante aqui, e vou seguindo o meu caminho, que a cada dia é diferente do anterior e, por sua versatilidade, me confunde tanto, e eu fico sem saber de fato por qual caminho seguir.

Ali sou um pouco disso, aqui, um pouco daquilo, e nunca sei quando me misturo. Choro, quando ninguém me vê chorar, e rio, pra que vejam que ainda sou capaz.

Não quero provar nada a ninguém, e o faço a cada passo. Estou sempre torcendo pra que o que eu faça seja o melhor, sabe-se lá pra que, e não importa a quem.

Por bondade, diriam. Mas não é. De bondade me cansei e sinto nojo. Faço o que faço e sou o que sou por vaidade. Sou inescrupulosamente bondoso, pra que gostem de mim.

Sou o Narciso que vê o próximo no reflexo, e quero o que restar do amor do mesmo.

Então me sinto sujo, e me odeio. Me odeio a ponto de querer que me odeiem, pra que assim eu sofra o que mereço, ainda que um pedaço sofrido do meu eu ainda ache que eu só preciso de um colo e um pouco de compreensão, e assim, me perdôo.

E esse pedaço sofrido do meu eu se faz tão presente, que eu já não sei se isso é exatamente o que me transformei depois de tanto que passei. E é aí que minha racionalidade me lembra que sou tão jovem, tão imaturo e inocente, que fazer se passar por vivido por conta de um amor inacabável não me torna alguém melhor.

É quando penso: por que passei então?

Lembro-me então do que era antes disso tudo, ou, ao menos, o que me permito lembrar.

Sinto vergonha de pensar que pude ser tão egoísta a ponto de pensar que o mal que fazia a mim não afetaria aqueles que hoje me aceitam, e, assim, sinto-me de certa forma feliz por ao menos ter preservado isso.

Nessa dúvida constante sobre o que realmente sou, o que realmente sinto, me confundo tanto que só o que faço é procurar explicação pra tudo. E tal busca me traz uma consciência que eu, muitas vezes, não sei se quero ter. Por outro lado, é a própria consciência que faz com que eu tome as decisões que me parecem mais acertadas, ainda que nem todas me façam assim tão bem.

E apesar de tudo, às vezes acho que não sou mesmo tão ruim assim. Tenho um certo valor, quissá algum talento, e uma vontade enorme de aprender. Tento ser o melhor amigo possível, o melhor amante da semana, e às vezes consigo.

Só não consigo entender porque me culpo tanto por isso. Afinal, querer que gostem de mim não pode ser um crime, e ainda assim me julgo a todo momento, e sempre me condeno no final.

Mas sei lá, na verdade eu ainda to aprendendo. Quem sabe ainda não aprendi essa lição, quem sabe um dia eu me aceite...

Enquanto isso, vou tentando melhorar.

Slash
Enviado por Slash em 01/12/2008
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