a volta

eu ainda não havia reparado em suas olheiras,enquanto ouvia seu triste relato.coisa que só ela fazia tão bem,balanceando o trágico,sem perder de vista a ironia.

o fato é que o fato já havia dois dias ocorridos e,de certa forma a compreendi.

me lembro que foi numa sexta,eu saía de viajem e,cheguei a notar um certo burburinho no bairro,mas não dei muita importância,pois precisava é de dormir na viagem pra chegar descansado em meu destino.

na volta pra casa também vim dormindo no ônibus,já querendo acordar domingo cedo.

resumindo.saí e fui à pastelaria e estava lanchando,quando percebi do meu lado havia,não sei se há muito,uma cabeleira particular,um perfume distante,aromas.antecedendo meu gesto de me virar,sua voz saiu perguntando como eu estava.eu disse bem.mas algo na voz dela estava melado,ranço,sei lá.

quando a perguntei se estava tudo bem ela,desconfirmou.

estão mirei seu rosto bem perto.ela estava abatida,um cansaço nas palavras.

me contou que na sexta feira estava pra se despedir de mim,pois quando eu voltasse,ela já estaria viajando.

me disse que estava na janela quando resolveu tomar banho e ir à minha casa.ouviu uns estampidos e resolveu olhar na janela,tinhas uns carros rodando em círculo,gente gritando e,então quando saiu da janela,ela ouviu os estilhaços e sentindo eles em suas costas.sentiu depois uma tonteira,quando decidiu entre o banheiro e o telefone.quando finalmente suas pernas perderam o jogo e ela desabou sobre a mesinha da sala,já com falta de ar.ela foi ficando cada vez mais pesada,pesada,depois leve,muito leve e só pensava em me ligar na hora.

bem,foi bom eu saber por ela,quer dizer,não sei se reduz o susto e a lamentação mas...

eu me desculpei por não ter ido à seu velório,ela disse que tava tudo bem,afinal eu não sabia,enfim...eu ainda não havia reparado em suas olheiras.