Lembranças...

Devem ser umas três da madrugada eu, mais do que noutros dias, não consigo sequer estender-me ao leito.

Procuro em vão por coisas que fazem sentir-me mais próximo, acho que de mim mesmo. E vou buscando por fragmentos de alguns antigos retratos e escritos que no ímpeto tão brusco em querer remodelar-me, expurguei-os todos, na vã esperança de iniciar um novo ano renovado, liberto de tuas lembranças que tanto machucam e, que por um tempo que me parece tão longo, ainda não consigo aceitar tua ausência no mundo.

Sei que querias isso. A quebra dos grilhões que encerram minhas portas. Mas as reminiscências são tão recalcitrantes, que agora, mal posso compreender o que fiz. Nossos retratos, cartas, os pequenos mimos que me destes ao longo dos anos, deitei-os todos fora, em desvarios irrigados de suor e lágrimas.

E agora de regresso aos meus fantasmas no meu diminuto mundo, volto a procurar-te, e assim percorro pelos cantos da casa que era tão nossa, fragmentos que possam manter-te ainda mais presente que antes. Deus! Sou uma construção tão ardente de saudades!

Já me incandesce os primeiros raios do dia, e finalmente percorrendo os olhos no mais óbvio e vivo recanto, volto a encontrar-te, frágil e tão bela com seus braços erguidos, em sorriso terno a pedir-me colo...

E assim vejo-te inteiramente, pelos pequeninos olhos de nossa filha.