Virar a página

O universo feminino é fascinante quando pode ser visto pelo lado de fora e com incursões pontuais em áreas bem delimitadas.

Neste ensaio pretendo passear pela dificuldade que algumas mulheres têm em “virar a página” e o sofrimento comum a este processo, posto ser um contexto emocional adverso. Sei que tal agrura não é patrimônio privativo do universo feminino, contudo, dentro do enfoque específico que irei abordar, podemos observar que o homem consegue, na maioria dos casos, virar a página mais rápido.

Sei que todos os temas que irei abordar, se devidamente explorados, dariam, cada um, 1 livro, bem como também sei que aspectos subjetivos que residem no âmago das pessoas – homens e mulheres – que se envolvem em tais situações hão de ser levados em consideração; sei igualmente que tudo isto que aponto aqui é de uma complexidade muito alta para ser avaliado em um simples ensaio, como sei que o amor é o sentimento mais nobre que temos e não é nada lógico. É bom enfatizar também que não quero com este texto julgar seja lá qual for o comportamento, pois sei que o “tempo” e “o sofrer” são extremamente subjetivos e variam de pessoa para pessoa.

Responda-me: quantas vezes você, amigo leitor, querida leitora, se deparou com a frase “quanto mais maltratado (a), mais apaixonado (a)”? Traduzindo a idéia de que a relação sofrimento-amor fundida em simbiose atávica, que remonta as sociedades patriarcais aonde o homem fazia o bem queria com as mulheres ao seu redor, ainda é atual.

E ainda, responda, quantas vezes você ouviu um homem falar “estou confuso” no tocante a uma relação romântica? Quase, ou quiçá, nenhuma vez, não é?! E, em contrapartida, você leitora, seja honesta consigo e responda a mesma pergunta. A resposta provavelmente será, algumas vezes, não é? Então, continue ajudando-me, por que isto aconteceu na sua vida? De maneira clara, objetiva, lúcida e honesta, quais os fatores que causaram tamanha confusão? Perguntas de difícil resposta não são? Por mais ridícula que a pergunta possa parecer, responda honestamente, você que hoje é mãe, quando seu filho(a) nasceu, você deixou de ser mulher? Você deixou de ter seus desejos (sexuais inclusive) e vontades em função disto? Além de responder “você para você”, faça esta mesma pergunta para suas amigas e veja as respostas que irão surgir. Suscite discussões acerca do tema. Talvez você se surpreenda com o que vai ouvir.

Quanto mais mergulho nestas digressões, mais vejo que realmente os homens são de mercúrio e as mulheres de plutão – assim a distância fica maior! O ser humano e seus relacionamentos é algo que me fascina desde a tenra época de infância, aonde observava sem entender nada, é claro, os casais como meu pai e minha mãe. Depois de adulto comecei a enxergar que era fácil achar mulheres que se encaixavam em pelo menos 1 destas 3 macro regiões (vou chamar assim) que vou delimitar agora: mulheres sofrendo em relações matrimoniais falidas e mesmo assim tentando salvá-las (com uma gravidez, por exemplo, apesar de hoje em dia isto, Graças a Deus, vir diminuindo, mas há poucos anos atrás era muito comum), ao invés de virar a página e tentar um novo relacionamento; mulheres que mesmo estando separadas do fulano há anos, mantém-se “fechadas para balanço”, mergulhando na solidão, acostumando-se com ela e depois desenvolvendo cânceres e depressões; ou ainda, mulheres que se prestam ao papel de amantes por terem achado “o homem de suas vidas”, porém, como o cara é compromissado de alguma maneira, aceitam ser a “alfa 2” e vivem anos o paradoxo do “tê-lo sem tê-lo” e, na eventualidade de se tornarem “alfa 1”, vivem na dúvida pois sabem que “o homem de sua vida” não mudou em nada seus padrões comportamentais.

Para ilustrar as macro regiões 1 e 2 utilizo-me de Nelson Rodrigues nos seus contos de “A vida como ela é”. Durante 10 anos os contos Rodrigueanos retratavam casos que o autor colhia, seja através da sua própria observação, seja por fontes que lhe contavam “casos”. A temática mais comum era o adultério aonde, hora a mulher, hora o homem, alternavam-se como parte traida, porém sempre envolvidas em relacionamentos falidos como retrato aqui. Vale à pena a contextualização de que as histórias se passam no Rio de Janeiro dos anos 50 aonde a mulher sofria de uma maneira muito mais agressiva a opressão sexual e uma cobrança da sociedade quanto a “casar-se virgem com vestido de noive e cauda longa”. Acredito que em função desta opressão os casais Rodrigueanos sempre eram compostos pela esposa, pelo marido e pelo(a) amante.

Na terceira macro região, várias casos reais poderiam ser usados para ilustrar, mas, como o fato é tão comum não irei desenvolvê-lo aqui, mas deixo a pergunta: o que leva uma mulher a aceitar este papel? Egoísmo? Orgulho ferido? Dependência emocional? Disputa? Ou páginas não viradas direito no passado que insistem em permanecerem presentes? Desculpe-me querida leitora que por ventura encontra-se neste dilema, mas, honestamente pergunto-lhe: você realmente está feliz? Ou melhor, você sequer está feliz?

Bem, poderia me estender aqui por mais n parágrafos trazendo situações que ilustram este “sofrer por amar”, tema deste ensaio.

Tomando por base estas macro regiões delineadas como fator cultural importante vejo que o homem habitualmente é muito mais racional do que emocional e aprendeu através de uma sociedade iminente machista a separar sexo de amor. Por outro lado as mulheres, que sofrem até hoje pressões sociais muito grandes, principalmente no tocante a sexualidade, habitualmente, são muito mais emocionais do que racionais e geralmente misturam prazer com paixão, até mesmo porque o sexo para a mulher é um ato de acolhimento aonde de uma maneira muito doce ela recebe seu parceiro no âmago do seu físico. Tenho por mim que, não só, mas também, em função disso o homem, costumeiramente, vira a página com mais rapidez; outro fato interessante e importante que dificulta neste processo e advêm desta característica emocional feminina é o quão as mulheres por mais que sejam independentes gostam de ter um “homem que as proteja” (tema profundamente polêmico que irei abordar com mais profundidade no futuro); e, por fim, outro também interessante que também é resultante desta característica emocional é o fato da mulher insistir mais sempre achando que o tempo e suas atitudes irão “modificar” o ente amado que irá passar de sapo à príncipe em função daquilo que ela faz, que nas mais das vezes são tentativas de mascarar o óbvio gritante à sua frente.

Parece-me, então, que quanto mais a mulher é exposta ao sofrer (seja pelas suas próprias escolhas, seja por pressões sociais que a levam para determinados rumos) na luta pelo “homem da sua vida”, mais ela vai amar aquele cara e o processo de desvencilhar-se daquele sofrimento acaba sendo algo tão traumático que a mulher, conscientemente, prefere continuar sofrendo, para assim tentar supostamente fugir da maximização da dor que uma separação causaria. Isto acaba por gerar uma prisão emocional que atrapalha toda a sua vida e gera frustrações das mais variadas ordens, levando-a a processos de implosão emocional das mais variadas ordens.

Nestas experiências de vida pintadas acima, que foram oriundas da observação daqueles/daquelas que ao meu redor estão, afirmo que:

Para virar a página é preciso sofrer, sim!

Dói virar a página, sim, e às vezes dói muito e quanto maior a dor, maior o grau de libertação posterior daquilo que te fez sofrer!

Para virar a página é preciso abdicar de pontos de vista antigos, sim, é claro!

Para virar a página é preciso humildade, sim!

Para virar a página é preciso cumprir cada fase do processo de perda que habitualmente está envolvido nestas situações, sim!

Para virar a página habitualmente estaremos sozinhos neste processo, sim, pois a página é nossa e de mais ninguém. Os outros ajudam se não julgarem e não emitirem opiniões que denigrem a causa do sofrimento daquela (e) que está virando sofregamente sua página.

É fácil fazer isto tudo que estou escrevendo, claro que não, mas é de suma importância para que você possa ser feliz de novo!

Ter virado uma página quer dizer que não mais será necessário virar outras páginas, não!

Você estará imune ao sofrimento depois de ter virado uma página, não, porém terá aprendido a sofrer de uma maneira melhor e mais amena!

Antes disto tudo, porém, para virar a página você tem que QUERER, honestamente, virar a página!

Então, querido leitor e, principalmente, querida leitora que se identificou com algum dos casos apontados acima, aproveite agora, reflita em um âmbito muito maior do que o do relacionamento homem-mulher e “vire sua página”, pois a felicidade carreada por um amor real e puro, pode estar batendo na sua porta agora e você continua preso(a) no passado que só te fez sofrer e que te faz sofrer, prendendo-se ao escuro no pretérito e evitando ver o sol à sua frente pois a luz faz doer teus olhos acostumados com a escuridão!

André Silva
Enviado por André Silva em 10/01/2009
Reeditado em 10/01/2009
Código do texto: T1377744
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