Torpor exultante.

Nessa antemanhã de aspiração, adveio-me um sonho inexprimível, aprazível e radiante,

Um conjunto de episódios a ofuscarem-se por dentre a claridade mais límpida, ofuscante,

Um devaneio, de corpo presente, arrefecendo minha letargia e a minha indolência,

Um tanto de rejuvenescimento, com nova razão, nova matiz e uma nova consciência,

E eu, desenho patético concebido, paisagem impressa, ousadia numa pintura sem cor,

Sou indumento renovado, véu deslizante, arena configurada, figurante ou principal ator,

Uma ilusão em labaredas volumosas, mimos ponderados, incidência da ternura,

Sou o que almejo ser neste picadeiro de amplidão imperceptível de inventiva ventura,

Sou, ao mesmo tempo, compositor e cantor, o dançarino que combóia a criação deste artifício,

A clemência que a madorna disfarçou sem dissimular numa sobre-vida em pleno sacrifício,

Nessa quimera concreta como o fanal da existência, uma apresentação se abrolhou,

Proporcionando a amadurecimento laborioso assentando espaços que a bruma despertou,

Deparei-me ali com um novo ensejo, cintilando em várias superfícies na história,

Embarcado numa aliança de remissões, período glorificado nos trajetos da memória,

E presente permaneci, em corpo e alma, espalhado no bálsamo delicado do sentimento,

Uma ternura aberta, viva, submersa em ingênua dádiva, como pólen da flor solta ao vento,

Um afeto consagrado, imutável e arrojado, como o entusiasmo da história, embevecido,

Experimentei um oscilar angelical, pura e inebriante inspiração, permaneci envaidecido,

Ergui cômputos inclinados, irrompi a serenata e lides a frente do tempo de amargura,

Lembro desta aspiração abrutalhada, mas, afetuosa, um orvalhar fendido em água pura,

Um princípio brando, brisa abrasadora, um titular fecundo, uma orquestra completa,

Aprendi os discursos, alforriado da empáfia do poder na última ação de obras repleta,

Idéias cândidas, sem imagens ou figuras, submergindo o juízo e a graça de uma só vez,

Sonho que o ocaso ajustou num improviso, esparzindo orgulho em nódoas de lucidez!

Contemplo a atividade culminante numa graça encomendada, sou à divindade desta noite,

Incorruptível ao momento, sem sujeições, passagem inerte sem fios e cabos de açoite,

Cerro os olhos ousados, meu sopor rompe-se e com ele, sensatamente, minha prudência,

Aprecio a mesma expressão afetuosa, em divagar acolhedor na influência e essência,

Comovido, respiro imóvel, protegido no caminho, resguardando as palmas que envaidecem,

Deslumbrado percebo, na mesma direção, a mesma oscilação, nos agravos que emudecem,

Não chegou ao remate o sonho a ser perpetuado, um tributo de mil anos a relembrar,

Para nunca olvidar a obra inacabada, sensível arte pura, retumbando um eterno recordar,

Os registros nos alfarrábios são longos e ansiosos, traduzem a pausa de um sonho no sopro do dia,

Estratagema crepitando no alojamento de tradição, minhas conluiadas do destino de alegria,

Comigo, está meu devaneio em repouso, sem risco de perturbação, agora sonho acordado,

Nesse bel-prazer, que o letargo instituiu, teu comparecimento se deu ilustremente ao meu lado.

Amaro Larroza.

Amaro Larroza
Enviado por Amaro Larroza em 15/01/2009
Código do texto: T1385908
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