VERDADE OU MITO? O pensamento lógico.

Dizem que Deus criou o mundo. Penso que posso entender "mundo" como universo. Então Deus criou o universo. Pois bem.

Mas podemos, antes de aceitar a assertiva como verdade absoluta e indiscutível, raciocinar um pouco sobre essa simples, primária e milenar afirmação, fazendo um exercício de senso crítico.

Pretendo deixar de lado quaisquer considerações filosóficas ou religiosas sobre o tema, utilizando-me apenas da fluidez do pensamento lógico. Também não quero argumentar utilizando-me de algum estudo ou conhecimento, tidos como ciência, para abordar o tema. Apenas o livre pensamento, comum a todos os humanos.

Se Deus criou o universo, então este não existia. Claro, não se cria o que já existe. Não devemos esquecer-nos do que pensamos ser o universo. Universo é o tudo, é o mundo, suas galáxias (nós somos habitantes de uma delas, a Via Lactea) e sabemos que milhares ou milhões de outras existem, só não sabemos quantas. A noção de universo que temos hoje é o próprio infinito, algo sem começo nem fim, sem dimensão, onde tudo está e que tudo contém, que não comporta os termos fora e dentro. É um conceito complexo para ser bem assimilado, se é que o pode ser.

Se o universo não existia antes de Deus tê-lo criado, o que havia então? Onde estava Deus? Existia Ele e o quê mais? Ele existia sem o universo? No nada? No nada absoluto? Mas o nada não poderia ser absoluto se Deus existia. E o que vem a ser o nada absoluto também é algo de conceituação desconhecida, pelo menos para mim.

Deus existia antes do universo? Não consigo mesmo imaginar como seria essa possibilidade. Estou atendo-me ao conceito de universo como algo já pronto, deixando de lado qualquer teoria existente sobre a grande explosão, o "BIG BANG", que teria originado os sistemas cosmológicos que sabemos existir, que incluem a formação do nosso sistema solar, insignificante, por sinal, no concerto universal.

Sabemos que a "figura" de Deus existe culturalmente há muitos e muitos séculos, milênios. Sabemos também que outros "deuses" são reverenciados por outras culturas religiosas. Talvez seja um mesmo Deus, apenas com alguma divergência histórica e cultural. Mas o conceito deve ser o que temos, o do "Criador". Depois a história da humanidade se encarregou de estabelecer as diferenças, conforme a cultura dos povos e civilizações de antigamente e, ao que se sabe, deixaram escritos os chamados livros sagrados.

Nesse "antigamente" a humanidade tinha conhecimentos próprios daquele tempo. Será que tinham noção do que seja universo? Ou para ela o mundo restringia-se àquela pequena região por ela habitada? Ou limitava-se até onde sua visão podia alcançar? É o mais provável.

Percebe-se que há vários pontos de interrogação até esta parte do texto. Alguns poderiam até ser eliminados, por óbvio. Há de se convir que o alcance do pensamento naquela época era muito acanhado, se comparado aos dias de hoje, com os conhecimentos acumulados até os tempos contemporâneos.

Nota-se que eu estou escolhendo apenas uma linha de raciocínio. Poderia ter escolhido outras, mas não seria possível desenvolvê-las todas neste espaço gráfico.

Sabe-se também que muitas pessoas dizem temer a Deus. Qual o motivo desse temor? Será que, admitindo que Deus tenha criado o universo e o homem e dado-lhe a liberdade de pensar por si mesmo, teria deixado ameaças àqueles cujo pensamento coloca em dúvida a suposta existência do seu "criador"? E qual será o castigo para os incrédulos?

Em outras palavras, ou cremos em Deus e o tememos ou, caso contrário, seremos castigados. Não posso acreditar numa imposição dessa natureza, especialmente vinda de um ser supremo, compreensivo, bondoso, acima do bem e do mal, que afirmam ser onipotente, onisciente e onipresente. Se é assim, quando criou o homem ele já sabia que muitos iriam questionar a sua obra e até mesmo a sua existência. Então o castigo já estava predeterminado.

Deus não pode ter sido ou ser tão perverso e vingativo. Se ele nos deu a liberdade de pensamento, há que compreender essa liberdade, até para aceitar aqueles que não conseguem, por via do pensamento lógico, acreditar no que se lhes é posto como verdade incontestável.

Claro que, quando falo de castigo, este poderá vir na nossa vida terrena ou numa imaginária vida extra-corpórea. Se aceitarmos a última hipótese, também temos que aceitar que existirá outra vida após a nossa morte.

Se o corpo morre, o que restaria para viver uma vida extra-terrena? Dizem ser a nossa alma, ou espírito, que se libertaria do corpo na sua morte. O que vem a ser alma? Para que serve? Só para viver a outra vida? Aonde e para quê? Somos capazes de compreender o nosso corpo, usar as nossas capacitações, a nossa inteligência, enfim, agir de acordo com a nossa versatilidade mental.

Mas com relação à alma não temos nenhum controle. Não sabemos de onde veio, como se apossou de nós, como interfere nas nossas vidas, como se manifesta em nossa vida terrena. Aguarda a nossa morte para então entrar em cena. Estranho isso. Por que o ser humano acredita que somente ele tem a prerrogativa de viver duas vidas, uma corpórea e outra etérea?

Abordamos até agora, de forma um tanto superficial, duas entidades que não encontram sustentação lúcida em termos de pensamento lógico: Deus e alma. Mas esses são dois conceitos fundamentais e essenciais para a questão do chamado "mistério" que nos acompanha e nos cria uma certa insegurança por toda a nossa existência.

Acredito que também para aqueles que dizem ter "fé" alguma dúvida subsista. Talvez não exprimam essa dúvida pelo que, no início, comentamos sobre o "temor a Deus". Eu não me permito crer em alguma coisa premido pelo temor. Posso até ceder ao temor, em certas situações, em defesa da minha própria sobrevivência. Mas são situações concretas, visíveis ou perceptíveis.

Voltando à questão da alma e admitindo que ela exista, que papel exercerá após a morte do nosso corpo? Aonde vai viver? O que vai fazer e, se vai, para quê? Onde se encontra uma explicação aceitável para isso? Devem haver bilhões de almas sem corpo, considerando todas as mortes havidas entre os seres humanos, desde o princípio de sua existência, antes mesmo da idade da pedra. Sim, se considerarmos que hoje estão vivas perto de 7 bilhões de pessoas, um número bem maior do que esse já faleceu, desde o princípio da humanidade.

Será que, por exemplo, quando existiam, no limiar da humanidade, digamos, 1.000 pessoas, e nenhuma delas ainda houvesse morrido, teríamos também 1.000 almas? Mas o número de pesssoas que nasce é maior do que o das pessoas que morrem, daí o crescimento da população. Deve ser o seguinte: a cada nascimento, uma nova alma. As almas que deixam os corpos mortos não estão disponíveis para pessoas que vão nascer.

Este texto continua cheio de interrogações e não poderia ser diferente. Não tenho respostas prontas. Será que as pessoas que são dotadas de "fé" responderiam a todas elas? Ou simplesmente acreditam e pronto. Por acaso esse assunto não pode ser discutido, refletido, questionado, analisado? Algumas pessoas aceitam tudo como fazendo parte do "mistério" divino. Se é assim ...

É evidente que não posso provar nada, seja de que lado estiver. Se tenho fé, isso me basta, mas nada prova. Se não tenho, posso raciocinar, refletir, contestar, convencer-me, mas também não tenho provas. Tenho argumentos, extraídos do meu pensamento lógico ou que acredito ser lógico, que podem me levar a uma convicção.

Claro está, mesmo que não seja dito com todas as letras, que a humanidade convive com essa permanente dúvida, sejam os que se dizem crédulos, sejam os que se dizem incrédulos. A maioria das pessoas, ou boa parte delas, acredita que se trata de assunto que está além da sua capacidade intelectual, ou seja, não vale a pena tentar aprofundar o raciocínio nessa questão. Mesmo que raciocine e não compreenda, aceita a questão passivamente. Outros há que raciocinam e relutam em aceitar o que não conseguem digerir no pensamento.

Deixo claro que não tenho a menor pretensão de influenciar alguém, seja quem for, sobre o que penso a respeito. Apenas julguei-me no direito de escrever sobre o assunto, por considerá-lo relevante no que diz respeito ao vivenciamento humano, manifestando abertamente o meu pensamento sobre o assunto, sem nenhum constrangimento.

Também afirmo que não alimento nenhum preconceito em relação àqueles que pensam de forma diferente. Prova disso é que, dentre as minhas relações de amizade ou de convivência, a maioria das pessoas não compartilha da minha opinião, o que em nada diminui o meu apreço por elas. Seria intolerância da minha parte.

Ainda argumentando sobre o que penso, quero lembrar que, mesmo naquelas civilizações completamente isoladas de outras, como já existiram tantas, o ser humano sempre sentiu a necessidade de acreditar em alguma coisa que lhe fosse superior, dando a essa coisa um cunho de adoração, de obediência, de credibilidade. Assim, tivemos civilizações que adoravam o sol como deus, a lua, algum animal que consideravam sagrado, o trovão, o fogo, etc.. Todos esses símbolos mereciam dos povos uma idolatria, respeito, reverência ou temor.

Tudo parece indicar que o ser humano tem, por natureza, a necessidade de criar e acreditar em alguma entidade como lhe sendo superior e à qual deve adorar e temer, criando, portanto, os seus próprios mitos. Em resumo, o ser humano precisa crer em algo sobrenatural. Talvez pelo fato de existirem fenômenos naturais para os quais o ser humano ainda não conseguiu explicação, atribuindo-os, portanto, ao sobrenatural.

Também devemos considerar a busca do poder pelo homem. Esse poder pode ser exercido de diversas formas, mas todos com o objetivo de criar súditos ou discípulos sobre os quais o poder será exercido. É o que se pode chamar do domínio das maiorias pelas minorias. Essas minorias se organizam de tal forma que acabam por conseguir o objetivo. Quanto menos esclarecidas e indefesas forem as maiorias, maior facilidade terão as minorias em exercer sua influência, certamente obtendo vantagens de algum tipo que, em última análise, podemos dizer ser a riqueza o que mais interessa às minorias dominantes.

Hoje vemos com clareza como certas minorias organizadas, geralmente conduzidas por um líder, conseguem o seu objetivo, ao atrair para si, através de métodos de convencimento, pessoas que por diversas razões encontram-se fragilizadas, física, mental, cultural ou materialmente.

Há vários exemplos de organizações, e isso é de conhecimento público, que alcançaram o sucesso que pretendiam arregimentando multidões de adeptos para as suas fileiras. Também é de conhecimento geral que muitos dos líderes dessas organizações se tornaram ricos, ou muito ricos, financeiramente falando.

O mesmo pode ter acontecido em épocas remotas, em que mitos foram criados, súditos arregimentados, os mitos se transformaram em fenômenos sobrenaturais que, milênios depois, ainda fazem parte da cultura de muitos povos, com influência relevante em seu "modus vivendi".

Augusto Canabrava
Enviado por Augusto Canabrava em 25/01/2009
Reeditado em 17/01/2017
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