Desvario instável.
I
Conferi o meu destino à posse de outro que não eu mesmo,
E permiti-lhe a entrega sem reservas, quando percebi, estava a esmo,
Ficou asilada sem recursos em meu peito esta minha vulnerabilidade,
No estremecimento do meu coração, a lembrança e o cheiro da saudade,
II
Mas agora o deslumbre está delimitado, a lua voltou a brilhar, com sempre, linda,
As estrelas estão tão brilhantes, anseio extravagante de alentar um cântico ainda,
Poucos têm o privilégio de entender estes devaneios, continuo a indicar o que posso,
Digo os “quês” de meu julgamento, minha opinião, desvirtuam no que é meu, ou nosso,
III
Ainda articulo sobre ternura no mesmo linguajar, suportando todos os riscos,
Quando se fala com o coração, temos o privilégio de entender tais imprevistos,
O tempo será meu aliado contra tudo o que esta tentativa de despojo representa,
Meus pensamentos, meus movimentos, meu desespero numa razão que orienta,
IV
Mas permaneci protegido em meu íntimo, pois lá é que me sentia abrigado,
Revelei minha essência, por muitos conhecida, em apontamentos de feitos do passado,
Errei redondamente ao confiar à guarda da minha sina fazendo-me esquecer a razão,
Consentindo a entrega completa, sem ressalvas, deixando exposto o meu coração,
V
Mas nesta ambivalência de emoções, vontades e rebates, fui cruel com meu destino,
Depositei, sem pensar, meus esforços numa tarefa vaga, fazendo-me viver em desatino,
Ocasiões múltiplas que a cada minuto se desandam mais críticas, difíceis, diminuídas.
Escoltando, com zelo, meu corpo numa condição fervorosa de bel-prazer constituída,
VII
Admiti tais apresentações sem nenhuma advertência, divulgando a minha essência,
Abalos e ditados, minha renovada esperança, pretextos que norteiam a sobrevivência,
Deixei-me influenciar com este comparecimento sem demarcação, olvidando o ensejo,
Reconheço que permiti este domínio sem limites, mas no fundo, este era meu desejo!
Amaro Larroza.