Dolo.

I

Por tantas, sei que sou pecador, (e confesso), mas se a clemência for viável, sairei na benesse,

Uma anistia num véu a cair nesse disfarce, a todos as minhas culpas, meu banimento por quem não merece,

Cálculo de um adereço que dispara, ampliação audaciosa de meu espectro que proclama a remissão,

Um cintilar perene, brioso e límpido na lágrima congelada, suntuosos mimos caiados no coração,

II

Não sei se mereço, mas busco este indulto, e recebo a explosão de cores, oferecendo-se num tímido raio solar,

Na verdade, uma certa conveniência, o arco íris em seu prismático fluir, que consente se embriagar,

Aparece preenchendo o firmamento azul atuando sem pensar, sorvendo partículas de vida que desponta do imo apaixonado,

E tais atos são os recados dos espíritos ‘surgentes’, dos dias que viveram ininterruptamente enamorados,

III

Mas por outra, porque que tenho de me culpar por tais “iniqüidades” que eu, inocentemente venha a cometer?

Se descobri que por detrás deste aspecto sereno, sorriso largo, sempre vigilante, está o meu juízo atento a renascer,

Existe um vulcão preste a deflagração, refreado por esta aparência dissimulada de quem existi no que aparenta ser,

Uma camuflagem que foi descoberta, levando em conta a aparência de toda uma vida a se erguer,

IV

Contudo, este “eu” arrojado, que era sustentado de forma oculta e discreta, se desfez ao se revelar esta "explosão",

Continuarei neste caminho de venturas, não deixarei para trás pois são caminhos que buscam paradoxalmente a quietação,

E o que sobrar desta peripécia, prosseguirá com o disfarce seguro, tracejado de discrição,

Para poder continuar vivendo, transpondo impedimentos, numa sintonia sem similar, sem nenhuma opção,

V

Meu manto foi desvendado, sonhos e decepções, receios, idéias e fantasias que podiam se ouvir na respiração,

Na noite que já passou, e não apenas as quiméricas, parodiei o amor com entusiasmo e paixão,

E eu, pensando ser dono de mim, sonho meus próprios sonhos, afinal meu mundo gira na linha do horizonte comigo,

Sei que sou pecador, mas existirá perdão para parte de mim, está escrito na razão do meu viver, onde há o verdadeiro abrigo,

VI

E depois, quando estiver só novamente, meus ditos volitarão livres por aí, viajarão soltos atrelados ao vento,

Numa caça incessante e com esperança, arriscando nesse lavor, descobrir a razão de meu pensamento,

Porém, se a solidão me aconselhar, vou preencher o vazio da afeição que eu há muito tempo conheço,

Extrairei o disfarce, divulgarei meu rosto, me exporei numa curva do caminho, para saber o que mereço,

VII

Mas se receber a remissão que busco, alinhado na conta do tempo ou espaço, vou rever a forma da concepção original,

Vou consagrar todos os instantes, torná-los puros e eternos, apresentá-los a loucura do amor existencial,

Vou oferecer-me aos devaneios, correr solto pelas planícies, livre no vôo dos pássaros, no azul do mar ao anoitecer,

Eu conheço as veredas do destino e afogo-me nelas pelos sentidos, sou pecador por adorar demais, e por esta ternura, eu vou morrer!

Amaro Larroza.

Amaro Larroza
Enviado por Amaro Larroza em 11/02/2009
Código do texto: T1433184
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