"Sonhos entre rodas."

No começo, eram rodas, carretas, bois, na verdade nem lembro ao certo o que veio depois, mas é “mui” longínquo este tempo ido,

Vieram no segmento, muitos cortes, foices, aramados, o feixe de arroz no ombro, (pesado), um tempo há muito vivido,

Teve também o desdobre entre a lida de galpão, a labuta junto ao fogão, e a roça com o ruído ‘tilintante’ da enxada,

A colheita da cebola, a doma em lua cheia, o trançar loncas para maneia, o chimarrão no fim da jornada,

Mais tarde, um encontro com os alfarrábios, quem sabe aquele guri descalço não pudesse ser um sábio, não viesse a ser um menestrel,

As idas e vindas ao educandário distante, a pé ou cavalo, calças curtas de tirante, guarda-pó, e na cabeça o chapéu,

Houve também o tempo no silo e paiol, o distender de horas sem fim sem ver o sol, sem perceber, vigiando o braseiro,

Erva mate ou fumo, milho ou trigo, gado, velho costume diferenciado num mesmo projeto de terra do estancieiro,

O tempo urge, e ele segue sua cômoda jornada, e, não para, não pede cancha, e numa era que deslancha, para trás não olha jamais,

Foi-se sumindo o piá, acentuando-se o menino, que desconhecendo a força do destino, pôs-se no mesmo rumo dos pais,

“Maledeta” oferta da “cidade grande”, que de grande só tem o nome, joga o retirante na miséria dos que tem fome, e em troca, nada,

Mas a luta continua, pela força que o braço apresenta, numa vontade de ser quem se sustenta, na cadência de vencer a jornada,

A porta entreaberta dava o aval para que se chegasse bem perto, sem medo de ser descoberto, e veio um trabalho, uma ocupação,

O cacho era de bananas, caturra e Catarina, umas por baixo outras por cima, mas a labuta, longe de ser uma profissão,

A, (agora escola), continuava a ser distante, ponto até pouco relevante, na vontade de querer ser alguém,

Carro de feira, mandalete, do alto do morro ao final do canalete, excessos e muitos giros para ganhar um vintém,

O tempo foi passando, (aquele mesmo que não cansa), nem tampouco a esperança, de encontrar um dia mais perfeito,

Chegou à hora de uma nova tentativa, a família e comitiva, encontram um espaço legitimo pelo que é direito,

O moleque agora moço, trazia um colar em seu pescoço, e junto a ele a figura do Cristo senhor,

Benção entregue pelo avô materno, junto ao primeiro caderno, onde prenunciara o futuro de um professor,

Nem uma nem outra, apenas uma sina diferente, aquela não escolhida pela gente, mas entregue pelas mãos do destino,

As lutas foram tantas, sem limite de grandeza, sem dimensão de tamanho, entre astúcia e sutileza, lá se ia o sonho de menino,

Responsabilidade, é um conceito que se adquire com a idade, e normalmente são as sobras do que outros não querem ostentar,

Mas porque que haveria de ser diferente nesta ocorrência, se tudo o que passamos é vivência, e outra prova não pretendia adotar?

O adolescente virou homem, e, depois de tantas apostas, riscos, tentações, chegaram às deliberações, e encontrou a roda novamente,

No começo pequenas movimentações, depois um complexo de excursões, levando crianças, transportando gente,

E hoje, (neste ser “eu”.), sou orgulhoso do que faço, alinhado neste compasso, desbravando terras e o tempo em cima da pista,

Encontrei o desígnio de uma profissão, sigo altivo no desempenho da função, um gaúcho enobrecido no cargo de motorista!

Amaro Larroza.

Amaro Larroza
Enviado por Amaro Larroza em 02/03/2009
Código do texto: T1465640
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