A DUPLA FACE DA CULTURA E A DISCUSSÃO DA INDÚSTRIA CULTURAL

 
A crítica dos frankfurtianos à cultura de massa tornou-se mundialmente conhecida, levando o conceito de “Indústria Cultural”, divulgado por Adorno e Horkheimer, ter ampla aceitação nas Ciências Sociais e da Comunicação, entretanto, foi Marcuse, em o “Caráter Afirmativo da Cultura” que empregou pela primeira vez o conceito de “Indústria Cultural”. Para Adorno e Horkheimer a Indústria Cultural, com suas técnicas de reprodução, desvirtuaria a obra de arte provocando a perda da “aura”.

Para eles a democratização da arte era mera transformação desta em mercadoria, pois a arte e a cultura integradas à lógica de mercado perdem seu valor artístico e cultural para transformar-se tão somente em valor de troca – ou seja, mercadoria.  Adorno, Horkheimer e Marcuse voltam a lembrar a velha distinção muito difundida na Alemanha, entre cultura (mundo das idéias e dos sentimentos elevados) e civilização (mundo da reprodução material).

Marcuse, em seu artigo, Caráter Afirmativo da Cultura, faz uma análise das condições históricas, que permitiu a ascensão da burguesia européia, momento em que essa separação é perpetuada e consumada. Para ele o mundo do trabalho segue a lógica da necessidade enquanto o mundo cultural postula a liberdade, a felicidade e a realização espiritual. Essa oposição entre matéria/espírito, trabalho/lazer, necessidade/ liberdade, associada à exterioridade e interioridade, tornam-se termo central para filosofia da cultura do período burguês (sec.XIX). A Ênfase dada à subjetividade, aos valores espirituais e as promessas e/ou expectativas de felicidade no plano espiritual, sem precisar estendê-las as condições materiais, favoreciam a pequena minoria detentora dos meios de produção e justificava a exploração e alienação da grande maioria que sofria nas linhas de montagens. Marcuse acreditava que a obra de arte não podia ser alienada e deveria tematizar a promessa dos ideais de felicidade. Assim, a música ou a arte em geral poderia ser usada para criticar o sistema, mas não massificar-se.

Walter Benjamim discorda de seus companheiros e acredita que a indústria cultural permite a reprodutibilidade da obra de arte, tornando possível o acesso da mesma por um número maior de pessoas. Benjamim propõe duas novas categorias para análise da obra de arte. O valor de culto e a valor de exposição de uma obra. Na arte medieval o valor de exposição praticamente inexistia, prevalecendo o valor de culto. A dessacralização do mundo vai liberando arte para o olhar do expectador. O valor de culto, entretanto, não se dissolve, sobrevive nas formas, como culto ao belo, e mesmo tendo aumentado o valor de exposição o elemento “aurático” continuo caracterizado pela unicidade e distância. A aura, uma espécie de invólucro que envolve a arte, continua fascinando o espectador.

A secularização da arte caracterizou a passagem do período feudal para o burguês, sem que a mesma perdesse sua aura, mas na passagem do período burguês para a sociedade de massa é a perda da aura, ocorrida em função da reprodutibilidade técnica da obra de arte, que vai caracterizar este período. Para W. Benjamim, esta perda de aura não era negativa, pois ela – a obra de arte - adquiriu uma nova qualidade, a de se tornar acessível a todos, e um novo valor: o valor de consumo.

Apesar das divergências quanto à indústria cultural, eles todos são unâmines em atribuir a cultura em geral, e a obra de arte em especial, uma dupla função: A de representar e consolar a ordem existente e ao mesmo tempo criticá-la e denunciá-la como imperfeita e contraditória.       




  

      
 
Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 14/03/2009
Reeditado em 15/03/2009
Código do texto: T1486755
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