Uma reflexão sobre nada.

Estou vivendo uma semana absolutamente estéril, não consigo fazer uma idéia evoluir no papel. O teclado do PC é hostil, não registra de forma alguma minha intenção; quanta distancia entre o que desejo e o que consigo registrar, às vezes, sinto um vazio como se os significados e os conteúdos escapassem.

O que fazer diante de tanta transitoriedade, quando nossa via é constituída de valores absolutos?

Estou agora consumido por uma tentativa de definir absolutamente o conceito do nada.

O que seria o nada?

Uma ausência de substancia; ausência de representação; uma convenção, como o zero...

Quem sabe, ausência de potencia?

Outro dia lendo um soneto de Augusto dos Anjos, o lamento das coisas, percebi o quanto desta angústia em algum tempo toma os espíritos mais atentos e inquietos.

Então o que é o nada, afinal?

Quando penso em “Fiat Lux”, e aquela tolice de geração espontânea, big bang e tudo mais, tudo me reporta para o primordial para a primeira ruptura e o que um segundo antes havia antes deste processo iniciar.

Qual agente deu início ao processo?

Por mais que a ciência apresente uma tese, prevalece à desconfiança sobre o oportunismo que seus agentes costumam utilizar para mascarar as suas ignorâncias.

E o nada?

Como acima, substantivado pelo artigo definido, só um embuste retórico que não dá força alguma a especulação.

Tal como o nada, temos ainda o ninguém e o nenhum; então ninguém seria pessoa alguma e nenhum seria a personificação do nada. Será que eles existem de fato além da nossa inquietante incapacidade de conjeturar nossas próprias percepções?

Então ninguém seria uma indefinição de sujeito e nenhum a inércia, a impotência e o ato se traduziria numa inação.

Quem fez?

Ninguém.

É uma afirmação peremptória ou uma evasiva?

Cheguei a um modelo argumentativo que se baseia na nossa percepção, analisamos com nossas capacidades, e tudo o que escapa aos nossos instrumentos, sentidos, caem numa definição comum que classifica diversas informações. Desde as mais básicas até as mais complexas e causadoras de efeitos secundários na nossa capacidade de compreensão.

O nada, o ninguém e o nenhum seria uma indefinição ou a impossibilidade de alocar, de forma cômoda e inconteste uma definição, o agente de uma ação ou ainda um local, situação ou ocasião.

Ora o nada é ausência, de substancia ou compreensão, ora é uma circunstancia que escapa dos contornos do conhecimento e da mesma maneira o nenhum e o ninguém.

Este modelo nem pode ser considerado um exercício dialético, quando muito uma abordagem entediada diante da nossa indiferença as convenções que nos cercam. Assim moldamos nossas convenções que seriam particularmente neste caso, um soporífero para nossa ignorância.

Que de tão cotidiana não nos inquieta mais.