Percepções atinentes ao regramento dos sábios

Viver desnorteadamente, o que não pode ser visado por quem é digno e quem por sê-lo, vise lograr a prodigiosidade, é tarefa fácil: basta estar displicente. É cediço que, com um rígido e completo regramento, com ares de absoluto, fica difícil conceber a plenitude. É que a existência impõe um desprendimento à consecução da elevação e, com efeito, resta-nos procurar encontrar administrar os liames entre a rigidez e a flexibilidade para o atingimento do sucesso.

A priori, importante é fixar que tudo, absolutamente tudo, precisa de administração. Divergirá, porém, os rigores com que se procederá ao gerir de uma coisa e de outra, conforme varie a sua natureza. A questão de viver intensa e desvairadamente conduz à sucumbência. É inválido. É como uma máquina dotada de altíssimo potencial de desenvolvimento e que, ao ser ativada, padece por falta de programação para funcionar. Os excessos, nesse contexto, anulam-se: muito potencial e muito desvario se encontram, e colidem inevitavelmente.

A intensidade norteia o fluxo de aprendizado. Quanto mais intensamente se procure extrair informações de tudo aquilo em que nos vemos imiscuídos, mais curiosidades serão colhidas e, naturalmente, mais propensos à elevação nos encontraremos. É de se perceber, portanto, rapidamente, que a intensidade é ferramenta das mais salutares para existir com substância. E ser intenso não é, e nem está próximo de ser, diferentemente do que costumeiramente se entende, sair exalando emoções de uma forma efusiva, mas ir além do vulgo: obter de onde a massa, a mediocridade, não ousa obter.

Não é por outro motivo que a sabedoria muito se associa à humildade: quem é sábio vem a sê-lo, outrossim, por saber ir até onde todos desprezam e, lá, encontrar preciosidades. Esse olhar, às preciosidades imbutidas e excluídas, sim, é digno de exaltação. Fazê-lo é dar mostras de alcance de altíssimo patamar de sapiência. Intensidade funde-se, como fica claro, à sensibilidade: constrói-se uma sensibilidade no olhar capaz de ver onde todos olham e nada vêem. Com isso, lucra-se muito: além de se poder aprender onde todos aprendem, aprende-se onde quase ninguém chega.

Chegamos à punição de quem é arrogante e prepotente. Com ares enobes, e justamente por pressupor tudo saber ou por só se interessar por aquilo/aquele que muito demonstra conhecer, quem o é desperdiça gigantesca carga de sabedoria e, quiçá, a mais elevada delas. É precisiodade na roupagem de insignificância. É a vida, arquiteta de alta qualificação, impelindo o bem ao bem e ansiando por que o mal experimente o que costuma exalar: fedor.

Mostre-se, com tal explanação, que até o que existe de mais salutar na existência - procurar evoluir - precisa de administração. Para viver tranquilamente, precisa-se, constantemente, ser administrador. Quando houver entrega, abertas estão as portas à entrada do mal. Entregamo-nos diante dos tropeços que levamos e, por vezes, não observamos quantos tantos outros derivam dessa inobservância. Faz-se, conseguintemente, especialmente importante saber nortear os nossos passos em dias de fracasso, dias em que a nossa percepção compreensivelmente vem a ganhar fragilidade.

Ser administrador é, à guisa de conclusão, mostrar-se apto para, de uma forma intensa, absorver os universos que o estão a circundar e, desse processo extraindo alta carga de conhecimento e sabedoria, centrar-se com o fito de arrostar tudo o que se afigure à sua vista, fugindo das soluções vulgares e, assim, distanciando-se da mediocridade e vindo a se aproximar da prodigiosidade, meta de quem é digno. Conclua-se mais rapidamente: ser intenso em prol da própria intensidade.

Volte-se ao início, vale dizer, à noção de fixação dos limites entre uma rigidez doentia e uma coerente e displicente leveza. Quanto mais séria a questão que se põe, mais responsabilidade será suscitada e, por consequencia, mais atenção nos será requerida. Quando estivermos livres à despreocupação, contudo, deve-se manter latente um potencial mínimo de atenção diferenciada (ou seja: requer-se mais do que a atenção vulgar). Afrouxe-se as rédias para que se aufira tudo de uma forma despreocupada e, contudo, não permaneça de todo desarmado.

Agora, querer falar sobre a fixação desse limite é algo abstrato demais. É sentimento de gente sábia. É sentimento, caro leitor, que devemos buscar todos os dias e, um dia, o prêmio pela louvada perseguição serão os resquícios de dúvida sobre o seu alcance. É a própria questão do potencial mínimo de atenção diferenciada: manter-se com um quê de armação é, também, sempre, dar uma desconfiada.