O pecado das palavras.
Angélica T. Almstadter
Há muito que as palavras me brotam em agonia, como querendo criar corpo e vida...há muito que esse grito na garganta me sufoca e mata um pouco a cada dia...mas há muito que não consigo transpor em palavras a essência do meu sentir, e me vejo fadada a muitas interpretações...algumas bastante claras outras nem tanto...assim escoam para um ralo comum...
A vida que me agita as estranhas nem sempre quer
a presença de alguém, nem sempre busca a parceria...
a vida que revolve minhas entranhas e explode em vórtices,
quer simplesmente nascer em palavras e prosas
para saciar a sede dos sentimentos e beber as
emoções encerradas em si próprias, pelo simples
prazer de existirem...
Um senso não muito comum, pela geografia
das palavras me moldam e me restringem num rótulo...
mas o meu siso me acusa da maestria com palavras
que me deixam à margem do que eu gostaria realmente
de representar...
Onde estaria o pecado de falar sem travas das
dores e valores do corpo e do espírito, dos desejos da carne e da alma?
Onde eu desafino nessa imensa serenata de amor que me é soprada nos ouvidos?
Não sei se posso cantarolar meus cânticos sem que hajam sentimentos enraizados... em minhas prosas e poesias a digital que assina tem sempre um rastro, ora do sal das lágrimas ou do suor das alegrias...ora do acre do sangue...ora do perfume dos desejos e sonhos...mesmo que secretos e profundamente íntimos, sempre límpidos e deliciosamente perfeitos na sua forma...nada que me faça me sentir menos criação...
menos expressão da criação...
Morre dentro das minhas palavras um pouco da alegria....
um pouco do sonho...e muito da crença num mundo de compreensão
e amor em toda sua plenitude...quase morre o desejo das linhas
escorridas com a pureza sincera de só verter amor em todas as taças...
Morre um pouco minha liberdade de amar continuamente a vida
e as pessoas...